Agência Estado
postado em 26/11/2019 19:35
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse nesta terça-feira, 26, durante o debate "Desafios para 2020, o Brasil que nos aguarda", organizado pelo jornal Correio Braziliense, que o Brasil passará a ter um maior crescimento da economia, mas com menor impulso fiscal e maior participação do setor privado. Segundo ele, a maior política do governo para o crescimento é o controle da inflação. "Quando o governo despeja muito dinheiro na economia, o crescimento vem, mas a produtividade cai", afirmou.
Campos Neto voltou a avaliar que os choques da Argentina, o baixo crescimento global e a tragédia de Brumadinho (MG) prejudicaram a expansão do PIB em 2019.
Mais uma vez, ele confirmou haver espaço para mais um corte de 0,50 pp da Selic na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) em dezembro, para 4,50% ao ano. O presidente do BC destacou ainda a queda da Selic no curto prazo, com efeito também na curva de juros de longo prazo. "Grande parte dos projetos pode ser financiado agora por juros de longo prazo".
Crédito
Mesmo com um ritmo ainda baixo de queda nas taxas de juros cobradas de famílias e empresas, o presidente do BC alegou que o mercado de crédito brasileiro continua robusto.
"O BC está em movimento de gerar reinvenção pelo dinheiro privado. Para cada R$ 100 milhões de dívida pública que você retira, você consegue adicionar R$ 140 milhões em crédito privado. Mas temos ainda duas modalidades de crédito nas quais os juros não caíram: cheque especial e rotativo do cartão de crédito", repetiu.
O presidente do BC mais uma vez prometeu para "breve" uma medida de reengenharia do cheque especial. "O cheque especial é regressivo porque o limite tem um custo para o banco. Esse 'luxo' para quem tem limite alto é pago por quem está embaixo", acrescentou.
Campos Neto voltou a argumentar que a baixa recuperação de crédito e a assimetria de informação no País são algumas das explicações para os altos spreads cobrados nos financiamentos para famílias e empresas.
Ele defendeu novamente a agenda de reformas microeconômicas propostas pela autoridade monetária na chamada Agenda BC#. "O que mais contribui hoje para o gap de produtividade no Brasil é o setor financeiro", reafirmou.
Home equity
O presidente do BC afirmou ainda que o desenvolvimento "home equity" no Brasil, para que as famílias possam usar os imóveis com garantias em operações diversas de crédito, já está surtindo efeito no mercado.
"Temos no mercado imobiliário um estoque de R$ 12,6 trilhões, mas financiamento no setor é de só R$ 500 bilhões. Não é verdade que problema do mercado imobiliário é a alienação fiduciária, o problema é transformar estoque do mercado imobiliário em crédito", afirmou durante o debate.
Campos Neto destacou que boa parte da recuperação da economia tem vindo da construção civil. "Vamos conseguir alavancar esse produto", completou.
Mais uma vez, o presidente do BC defendeu a redução do crédito subsidiado para as grandes empresas. "Se a taxa longa de juros cai, o grande investidor que tinha subsídio não precisa mais deste subsídio. Precisamos criar condições para que o grande se financie no setor privado. E em contrapartida, que queremos que o pequeno empresário fique médio e o médio, grande."
Cenário internacional
O presidente do BC avaliou também que o cenário internacional continua com revisões para baixo do crescimento da economia global.
"Tivemos dados um pouco mais neutros na Europa, mas essa revisão para baixo prossegue. É muito difícil isolar qual fator é preponderante, mas há envelhecimento da população e tensão comercial, que passou a ser uma guerra de tecnologia entre EUA e China, que deve se aprofundar", afirmou, no debate "Desafios para 2020, o Brasil que nos aguarda".
Campos Neto também citou limites da política monetária nos países centrais, e apontou que a política fiscal precisa ajudar. "Há percepção de que grau de estímulo monetário nessas economias está perto do limite", completou.
Ele voltou a dizer que o Brasil possui um nível elevado de reservas internacionais e está realizando reformas estruturais na economia. "Passamos a olhar há algum tempo conceito líquido de reservas e temos realizado intervenções nesse sentido. Estávamos atuando no spot porque estávamos vendo movimento de pré-pagamento de dívidas."