postado em 27/11/2019 04:13
[FOTO1]Após enfrentar problemas de articulação, no início do ano, nas negociações com o Congresso para a aprovação da reforma da Previdência, o governo parece que não aprendeu a lição, na avaliação da economista e advogada Elena Landau, responsável pelo programa de privatizações na gestão de Fernando Henrique Cardoso. ;O governo precisa melhorar a comunicação;, destacou ela, durante o seminário Correio Debate: Desafios para 2020;, realizado na sede do Correio Braziliense.
No entender de Elena Landau, o governo continua dando sinais trocados para o mercado e os investidores, ao defender redução de subsídios e, ao mesmo tempo, falar em desoneração do mercado de trabalho, por exemplo. ;É preciso organizar melhor o discurso e mostrar estudos comprovando a necessidade de cada medida. Se não houver uma melhora na comunicação para que as demais reformas avancem, a economia vai continuar patinando. É preciso ter foco;, afirmou.
A ex-diretora do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) considera que o crescimento de 2% da economia, previsto pelo mercado no ano que vem, o dobro deste ano, ;já está dado;, mesmo se o governo não avançar nas demais reformas, como a tributária e a administrativa. E, para isso, ele precisa melhorar a interlocução, explicando o porquê de cada medida e seus impactos, pois tudo indica que as propostas de emenda à Constituição (PECs)devem ficar para o ano que vem.
;A sensação de urgência que havia na proposta da reforma da Previdência não há mais. O lado bom é que os empresários não vão esperar isso para tomar decisão. Mas o governo não pode correr o erro de querer confrontar o Congresso, como fez com a PEC da Previdência, tentando impor a sua agenda em vez de dialogar, o que fez a tramitação atrasar;, alertou.
Elena Landau disse que achava que o governo tinha aprendido a lição, mas o ministro da Economia, Paulo Guedes, com suas últimas declarações sobre câmbio e AI-5, mostrou o contrário. ;Eu estava otimista com a melhora da articulação do governo, mas parece que o ministro acha que o dever dele já acabou ; e parou de defender as demais reformas. Ele não tem que falar de câmbio. Não tem que falar de AI-5. Ele precisa falar que, enquanto há 12,5 milhões de desempregados, há um grupo de trabalhadores com aumento real de salários (acima da inflação).
A economista criticou o fato de o secretário de Política Econômica do Ministério da Economia, Adolfo Sachsida, insistir em defender temas que confundem e não representam a agenda de reformas estruturantes, como é o caso da extinção do Dpvat (seguro obrigatório de veículos) e de municípios, ou mesmo a insistência em defender a medida provisória dos balanços nos jornais, que foi considerada inconstitucional pelo Legislativo. ;Esses itens são ruídos que o governo faz. O Dpvat não tem nada a ver com reforma tributária. Não é imposto, e existe porque há uma falha no mercado, porque motociclista não tem seguro;, destacou.
Privatizações
De acordo com Elena Landau, o ministro Paulo Guedes tem evitado falar de privatizações depois de prometer R$ 1 trilhão no início do mandato, um dado que ela sempre considerou inatingível. ;Nem se a União tivesse participação em todas as estatais, o governo conseguiria atingir R$ 1 trilhão;, avisou. Pelas contas feitas por ela e um grupo de economistas no início do ano, se juntassem todas as estatais com capital aberto, considerando um sobrepreço de 100%, o governo não conseguiria arrecadar R$ 300 bilhões. Logo, segundo ela, mesmo vendendo todos os imóveis do governo federal, algo bastante improvável, esse montante não seria alcançado. ;Nunca vai chegar;, pontuou.
A economista demonstrou preocupação com o fato de o governo optar por vender participações da União. ;Não tem uma pessoa no governo que defenda fortemente as privatizações e, ao vender as participações no varejo, mostra que não há um comando nesse processo;, lamentou. ;O BNDES não sabe mais fazer privatização. Ele perdeu embocadura;, emendou. Ela disse que, no dia em que o governo vender a Valec, uma das estatais federais deficitárias, começará ;a acreditar que existe um programa de privatização;.