Agência Estado
postado em 29/11/2019 18:50
O dólar fechou novembro acumulando alta de 5,8%, a maior desde agosto. O real teve o segundo pior desempenho ante a moeda americana no mês, perdendo apenas para o peso chileno. Em meio à crescente onda de protestos no país vizinho, a divisa dos Estados Unidos avançou 8,5% lá e só não subiu mais porque o banco central chileno anunciou hoje uma programa de intervenção de US$ 20 bilhões. Aqui, a sexta-feira foi marcada por nova alta, por conta da disputa pelo referencial Ptax e o fortalecimento do dólar ante a maioria dos emergentes. O dólar à vista fechou em R$ 4,2407, com ganho de 0,60%.
A semana foi uma das mais conturbadas para o mercado de câmbio dos últimos meses. No período, o dólar acumulou alta de 1,1%. A segunda-feira começou com dados mostrando aumento acima do esperado do déficit da conta corrente, o que contribuiu para pressionar o câmbio. Em seguida, foram declarações do ministro da Economia, Paulo Guedes, e a realocação da carteira teórica do índice de ações MSCI, que levaram o BC a fazer quatro intervenções, três delas de surpresa.
A analista de moedas do Commerzbank, You-Na Park-Heger, diz que, mais do que a venda de dólares, uma forma de o BC conter a pressão no câmbio seria sinalizar que o ciclo de corte de juros está chegando ao fim. Ou seja, o corte de dezembro seria o último. Caso contrário, cresce o risco de o mercado testar novamente a disposição do BC de intervir no mercado, pressionando ainda mais o real.
Para Roberto Motta, responsável pela mesa institucional de futuros da Genial Investimentos, o real seguirá pressionado durante o mês de dezembro. Isso porque ainda está presente o conjunto de elementos que levam o investidor a apostar na alta da moeda americana - desde a troca por empresas de sua dívida externa por interna até a correção de preços de commodities agrícolas. Esse movimento, diz, pode ainda ser intensificado pela sazonalidade do último mês do ano com as companhias enviando dólares às suas matrizes. "Esse, inclusive, é um movimento que já vem sendo antecipado em novembro, mas é impossível saber quanto tem de antecipação e quanto ainda tem a sair", afirmou.
Nessa conjuntura, Motta diz acreditar que a projeção para o intervalo da cotação, que até meados de novembro, era de R$ 4,00 a R$ 4,20 vai subindo para algo entre R$ 4,15 e R$ 4,35 durante o mês que vem. No entanto, ele nota que, tecnicamente, o dólar justo poderia estar abaixo de R$ 4. "Mas para os investidores a pressão no câmbio só se reduzirá, levando a divisa americana a um nível abaixo de R$ 4,20, quando o ritmo de crescimento da economia brasileira der indícios fortes de que alcançará 2% e as privatizações realmente começarem a ocorrer. Mas isso só no ano que vem".