Jornal Correio Braziliense

Economia

Trump sempre teve uma postura protecionista, diz Matheus Andrade

Em entrevista ao programa CB.Poder, o sócio da consultoria BMJ diz que o crescimento do PIB é um indicador positivo para a economia, mas que a retomada do emprego ainda deve demorar

[FOTO1]Apesar da relação próxima com Jair Bolsonaro, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou que vai retomar tarifas norte-americanas sobre importações de aço e alumínio do Brasil e da Argentina. Para o sócio da consultoria BMJ Matheus Andrade, a postura protecionista de Trump sempre foi clara. "Por mais que a relação seja ótima e que Bolsonaro seja um grande aliado do Trump, no fim das contas, no negócio você não tem amigos, você tem clientes. Desde seu primeiro dia na Casa Branca quando Trump rompeu o TPP, que era um grande acordo com os países da Ásia, ele tem mostrado uma postura mais protecionista;, disse em entrevista ao programa CB.Poder, uma parceria entre a TV Brasília e o Correio Braziliense.

O presidente americano justificou a decisão afirmando que Brasil e Argentina têm promovido uma forte desvalorização das moedas, prejudicando os agricultores dos Estados Unidos. Trump ainda disse nesta terça-feira (3/12) que os EUA vão tarifar os vinhos da França e "todo o resto" em razão do Imposto sobre Serviços Digitais do país europeu.

[SAIBAMAIS]Para o analista, o presidente americano rasgou o livro de regras em relações de comércio internacional. "Não é comum, as regras multilaterais de comércio não permitem esses mecanismos que ele atua, ele simplesmente jogou tudo isso para escanteio e resolveu fazer suas próprias regras e está usando todo o poder dos Estados Unidos para isso. Mostra também que não é uma questão de aliados e inimigos, é uma questão de comércio. Tudo que ele puder usar na cabeça dele segundo a política que ele elaborou para proteger a indústria americana ele vai lançar mão", avalia.

Segundo Andrade, ainda é muito cedo para apontar efeitos para o Brasil. "Ainda está sendo esperado o que vai ser essa medida oficial. A lógica é que o governo se engaje em uma negociação, mesmo por uma disputa você vai tentar negociar." Ele destaca que é preciso esperar para ver o tamanho da medida, "o que o brasileiro pode esperar talvez não impacte tanto no dia a dia de quem está na ponta, mas isso tem um impacto muito grande na balança comercial. Entra menos dólares e pode ser um certo impacto no superavit da balança, que é sempre um fator importante para manter a cotação da moeda e a estabilidade econômica do país."

Retaliações do governo brasileiro ainda poderão ser aplicadas. "Se for uma medida discriminatória no comércio internacional, sim, cabe entrar com uma medida na Organização Mundial do Comércio. Você pode pedir medidas compensatórias e também condenação", afirma. Sobre um possível acordo de livre-comércio com a China, o analista defende que o Brasil deve buscar uma posição de equilíbrio. "Manter bem as duas relações é importante. Assinar um acordo com a China ainda está muito longe, a gente não pode esperar isso por curto prazo. Existe, sim, uma possibilidade disso ser uma retaliação, o Brasil se aproximou um pouco da China principalmente no Brics, mas não dá para fazer essa relação direta de causalidade", argumenta.

A respeito do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 0,6% no 3; trimestre, Andrade acredita que, apesar de pequeno, é um indicador positivo para a economia, mas que a retomada do emprego ainda deve demorar. "Claro que ainda falta muito, a gente ainda está longe daquele patamar que a gente alcançou, mas mostra, sim, um sinal de que a economia está se reaquecendo. Ainda está longe de voltar aos patamares de antes da recessão, já nos afastamos do ponto mais baixo, mas ainda está longe do ponto mais alto", destaca.

Confira a íntegra da entrevista




* Estagiária sob supervisão de Roberto Fonseca