Economia

PIB sobe 0,6% e eleva projeções para 2020

Crescimento do Produto Interno Bruto no terceiro trimestre supera expectativas, com alta do consumo das famílias e dos investimentos. Cenário, contudo, ainda é de avanço lento. Inflação controlada, queda dos juros e liberação do FGTS ajudaram a expansão

postado em 04/12/2019 04:14

O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro do terceiro trimestre de 2019 cresceu 0,6% em relação aos três meses imediatamente anteriores, totalizando R$ 1,8 trilhão. O avanço foi puxado pelo consumo, conforme dados divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O resultado ficou acima das expectativas do mercado, que previa alta entre 0,2% e 0,5%. Com isso, analistas começaram a elevar as estimativas de expansão do PIB deste ano e do ano que vem.

A gerente de Contas Nacionais Trimestrais do IBGE, Claudia Dionísio, avaliou que a economia está se recuperando ;de forma gradual;. ;O processo de retomada da atividade está lento. Os dados mostram que estamos voltando ao patamar do terceiro trimestre de 2012, e que o PIB está ainda 3,6% abaixo do ponto mais alto registrado no primeiro trimestre de 2014;, destacou.

Economistas avaliam que a alta de 0,8% no consumo das famílias no terceiro trimestre foi puxada, principalmente, por condições macroeconômicas mais favoráveis, como inflação controlada e juros básicos no menor patamar da história, o que contribuiu para uma melhora no mercado de crédito. O início do processo de liberação das contas ativas e inativas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e do PIS-Pasep, em setembro, também ajudou a aquecer o consumo. ;O efeito do FGTS foi pequeno no terceiro trimestre, mas deverá ser maior no quarto, porque o governo antecipou o cronograma de saques para este ano;, explicou a economista Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV). O Ibre elevou de 2% para 2,2% a estimativa de crescimento do PIB de 2020 e manteve em 1,2% a projeção deste ano.

Claudia Dionísio reconhece que um ritmo mais acelerado do consumo das famílias, que representa 65% do PIB, precisa de uma melhora no mercado de trabalho e na renda do trabalhador. ;O ritmo de geração de emprego é lento, em grande parte informal, mas é melhor isso do que o desemprego;, ressaltou.

Revisões e riscos

Após a divulgação do PIB, começaram as revisões. O Citibank elevou a expectativa de expansão deste ano de 0,7% para 1,1%. E, para o ano que vem, a estimativa subiu de 1,8% para 2,2%. No caso do Goldman Sachs, a previsão de 2019 passou de 1% para 1,2% e a de 2020, de 2,2% para 2,3%.

;A dinâmica do PIB está melhor na margem e mostra que a economia apresentou um ritmo de crescimento maior no terceiro trimestre. É uma boa notícia, mas é preciso ter cautela;, ponderou a economista Alessandra Ribeiro, sócia da Tendências Consultoria. Segundo ela, os modelos estão rodando um crescimento de 0,8% na margem do PIB do quarto trimestre. Ela revisou de 0,9% para 1,2% a previsão de expansão da economia neste ano e pretende corrigir a estimativa de 2020 dos atuais 1,8% para 2,1% ou 2,2%. ;Existem duas fontes de risco que podem limitar essa expansão. A primeira é o cenário externo e um agravamento da guerra comercial entre China e Estado Unidos; a segunda, o ambiente político doméstico, que vai exigir muita coordenação para o governo avançar nas reformas complementares à da Previdência;, explicou.

Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, manteve as previsões, por enquanto. ;Os resultados do terceiro trimestre consolidam nossas projeções para 2019 e reafirmam nossas estimativas para 2020, ainda muito amparadas pelo crescimento do consumo das famílias;, afirmou. Contudo, ele admite que 2,4% poderá ser o piso, se o governo conseguir um ;aumento expressivo; nas concessões e nas privatizações no próximo ano.

Em relação ao terceiro trimestre de 2018, o crescimento do PIB foi de 1,2%. Essa taxa coloca o país abaixo da média mundial, de 2,5%, e na 43; colocação em um ranking de 54 países elaborados pela Austin Rating. A lista é liderada por Armênia e tem México e Hong Kong na lanterna. O país latino-americano mais bem colocado foi o Chile, em 15; lugar.

Indústria

Pelo lado da oferta, a alta do PIB foi puxada pela agropecuária, que avançou 1,3%; pela indústria (0,8%); e por serviços (0,4%). A indústria extrativa registrou alta de 12%, devido, principalmente, ao crescimento da extração de petróleo. A construção civil mostrou recuperação, crescendo 1,3% no trimestre. No entanto, a indústria de transformação encolheu 1%, refletindo a forte queda nas exportações.

O presidente Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, lembrou que os embarques para a Argentina, principal destino de produtos industrializados nacionais encolheram 50% no ano. ;Como não tem reservas, o governo argentino conteve as importações para gerar superavit comercial na balança, e isso afetou o Brasil.;

O setor de confecções também não tem muito o que comemorar. O presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit), Fernando Valente Pimentel, adiantou que a expectativa da entidade é fechar 2019, em queda de 0,5% a 0,7%.. Para ele, o crescimento em 2020 dependerá do avanço das agendas de reformas, principalmente, a tributária, além da continuidade de medidas para a retomada da competitividade. ;O ambiente internacional está incerto, com guerra comercial, América Latina passando por sérios problemas. Vamos ter que depender de nós mesmos para crescer;, afirmou.

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