postado em 04/12/2019 04:15
[FOTO1]São Paulo ; A indústria brasileira da cannabis comemorou ontem a decisão da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que aprovou novas regras para o registro e venda de produtos derivados da planta para uso medicinal no Brasil. Agora, as empresas que conseguirem autorização do órgão regulador poderão fabricar produtos no país e vendê-los em farmácias.
Os números globais desse mercado não são precisos, mas apontam para a expansão exponencial. No primeiro semestre, o Banco de Montreal, a instituição privada mais antiga do Canadá, apontou, em relatório, que a receita mundial até 2026 pode chegar a US$ 194 bilhões. Em 2018, segundo o banco, teriam sido movimentados cerca de US$ 18 bilhões.
Já a consultoria Euromonitor International avalia que, até 2025, esse mercado será responsável por movimentar US$ 166 bilhões. Se a soma se confirmar, representará um crescimento de aproximadamente 1.200% em relação ao apontado em 2018, quando as vendas de cânabis, segundo a companhia, foram de US$ 12 bilhões.
Modelos de negócios
Fabricantes e importadores de medicamentos à base de cannabis terão de submetê-los às regras e a análise da agência. Só poderão comercializar após a aprovação do órgão regulador. A expectativa é de que tanto as empresas que já atuam na importação desses produtos quanto aquelas que ainda não trabalham no Brasil passem a fazer as contas e desenhar modelos de negócios que se comprovem viáveis dentro das novas regras.
Por meio de nota, a Anvisa recomendou que as empresas não abram mão de suas estratégias de pesquisa para comprovação da eficácia e da segurança das formulações. "Estamos diante de uma situação em transição regulatória, uma vez que as propostas para os produtos derivados de cannabis se assemelham às mesmas estratégias terapêuticas de um medicamento;, alertou a agência.
Com o marco regulatório, os produtos à base de cannabis passam a compor uma nova classe de medicamentos no Brasil. A adequação às regras não será simples. Passa pela aprovação dos produtos dentro das regras da Anvisa, adequação de bula e embalagem (que terá tarja preta), instalação de laboratórios e rede de distribuição para as farmácias. A manipulação está proibida, apenas a venda do produto industrializado.
Quem optar por importar em vez de nacionalizar a produção só poderá trazer a matéria-prima semielaborada. É proibida a importação da planta. Essa decisão em certa medida frustra os planos de algumas empresas que atuam no setor dentro e fora do Brasil. Por exemplo, aquelas dedicadas a insumos para o plantio, como estufas.
Importação
Uma das empresas que apostam no potencial das vendas de medicamentos feitos com cannabis no Brasil é a HempMeds, uma das subsidiárias da Medical Marijuana, dos Estados Unidos, a pioneira do setor a ter ações listadas em bolsa.
A HempMeds já vem atuando no Brasil para a importação de medicamentos à base de canabidiol. Até agora, o processo envolvia uma grande burocracia e a liberação é feita em caráter excepcional. O médico tinha de atender a uma série de exigências e preencher uma papelada para submeter o pedido à Anvisa, que, por sua vez, ficava sobrecarregada com essa demanda. Todo o processo leva até 90 dias até a chegada do medicamento nas mãos do paciente.
Mesmo assim, a empresa conta atualmente com 1.200 pacientes ativos em sua base, crescimento de 240% nos últimos três anos. Além disso, tem cerca de 1.100 médicos cadastrados. É um número muito pequeno, em um país que conta com aproximadamente 450 mil médicos, admite Matheus Patelli, gerente de operações da companhia.
;Agora, um dos desafios será informar ao médico que a produção passará a ser nacional, quais são as dosagens, a posologia e as diferenças entre os tipos de medicamentos que produzimos;, explica Patelli. Para isso, a empresa vai aumentar as pesquisas no Brasil, onde há dificuldades para investigar o uso da planta, em decorrência dos problemas para a importação. Israel e Estados Unidos, por usa vez, lideram os trabalhos na área.
Para atender às regras da Anvisa, a HempMeds continuará a importar o óleo. Hoje em dia, as plantações de Cannabis sativa, rica em CBD, ficam na Polônia e o processamento do óleo é feito nos Estados Unidos. Agora, a empresa faz planos para não apenas aumentar a equipe de apenas 11 pessoas no Brasil, mas investir em estoques e na distribuição para as farmácias, o que poderá ser feito por meio de parcerias com empresas especializadas.
;Grande parte da discussão sobre o tema é baseada em desinformação e em preconceito. Chamam de a ;erva do mal;. Mas não é isso que se vê quando tantas famílias falam da mudança da qualidade de vida que seus doentes tiveram com esse tipo de tratamento. Como essa ;erva do demônio; pode estar salvando tanta gente? Estamos falando de medicina, não de uso recreativo;, explica o executivo.
Atualmente, a HempMeds tem em seu portfólio nove produtos, que vão do CBD isolado à versão filtrada, que exclui a clorofila. Basicamente, esses medicamentos atendem a dois tipos de necessidade. Aqueles com até 0,2% de THC são mais usados para casos de epilepsia e mal de Parkinson. Esses precisarão da receita azul para a compra em farmácia. A outra categoria, que vai exigir a receita amarela e tem índices de THC acima de 0,2%, só será liberada para pacientes terminais.