postado em 05/12/2019 04:14
Um dia depois de o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgar o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre, com alta de 0,6% em comparação aos três meses anteriores, o Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo (B3), renovou a máxima histórica. O índice subiu 1,23%, alcançando 110.301 pontos. Enquanto isso, o dólar recuou 0,07%, encerrando o dia a R$ 4,202 para venda.
O novo recorde da B3 aconteceu em mais um dia com tensões na área política, que dominaram o noticiário e as redes sociais. Até ações de empresas exportadoras lideravam a alta da B3, ontem, apesar da ameaça dos Estados Unidos e da União Europeia de sobretaxarem o aço brasileiro. De acordo com operadores, houve um efeito retardado do resultado do PIB, embalado pelos dados positivos da produção industrial, que teve a terceira alta consecutiva, com crescimento de 0,8%. Na avaliação deles, a alta tem sido sustentada por investidores brasileiros, para os quais o quadro de recuperação econômica se sobrepõe aos ruídos políticos.
Os estrangeiros, porém, seguem em debandada. Conforme dados da B3, desde janeiro, a saída de recursos desses investidores soma R$ 38,7 bilhões, novo recorde histórico. O montante é 57,3% superior aos R$ 24,6 bilhões retirados em 2008, no auge da crise financeira global. Dados do fluxo cambial divulgados pelo Banco Central também mostram que o volume de saída de recursos do país é elevado. Somou R$ 5,7 bilhões, em novembro, e, no acumulado do ano, US$ 27,2 bilhões.
Paradigma
Na avaliação do economista Alexandre Espirito Santo, da Órama, está havendo mudança de paradigma no mercado acionário há algum tempo. ;A Bolsa acabou subindo com um efeito retardado do PIB, mas não podemos esquecer que o Brasil perdeu a atratividade para o investidor estrangeiro que costuma especular em países emergentes. As taxas de retorno estão mais baixas no Brasil porque a Selic foi reduzida e ainda há a expectativa de que o Banco Central corte ainda mais os juros na próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), na semana que vem;, explicou.
Atualmente, a Selic está no menor patamar da história, de 5% ao ano. Considerando a inflação acumulada no ano pela prévia do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA-15), de 2,83%, a taxa de juros real caiu para 2,17%. Para o investidor nacional, os juros mais baixos reduziram o retorno das aplicações de renda fixa, tornando a bolsa mais atrativa. O maior interesse dos brasileiros pelo mercado de ações se reflete na valorização de 25,5% acumulada pelo Ibovespa do início do ano até ontem.
Recomendação
Pablo Spyer, diretor da Mirae Asset, demonstra otimismo tanto com o avanço das reformas do governo quanto com uma escalada do Ibovespa para 150 mil pontos no ano que vem. E ele aposta na volta dos estrangeiros. ;Grandes bancos internacionais voltaram a recomendar o Brasil, e isso é uma ordem que os gestores de fundos vão obedecer. Essa é a tendência, porque o resultado do PIB mostra que a economia não está mais afundando e sim mudando de direção;, afirmou.
Espírito Santo, da Órama, demonstrou cautela. ;No meu cenário de referência, como há taxas de juros negativas em vários países, o capital estrangeiro pode voltar, mas somente se o governo continuar fazendo o dever de casa, que é dar continuidade às reformas complementares à da Previdência;, afirmou ele, que aposta no Ibovespa chegando a 125 mil no fim do ano que vem.
* Estagiárias sob supervisão de Odail Figueiredo