Economia

Possibilidade real de acordo

Trump estaria disposto a não colocar em prática nova alíquota sobre produtos chineses caso Pequim concorde com um acerto que siga as regras de Washington. Especialistas avaliam os efeitos que poderiam trazer para a política e a economia americanas

Correio Braziliense
Correio Braziliense
postado em 11/12/2019 04:14
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Embora esteja disposto a adiar as tarifas sobre produtos chineses, o governo dos Estados Unidos afirmou que só vai aceitar um acordo segundo as regras estabelecidas pelo presidente Donald Trump. De acordo com o diretor do Conselho Econômico Nacional da Casa Branca, Larry Kudlow, se as negociações não seguirem a linha desejada por Washington, os impostos sobre US$ 165 bilhões em produtos chineses ; programados para entrar em vigor em 15 de dezembro ; serão implementados.

;Não quero soar pessimista, mas essas tarifas ainda estão na agenda;, afirmou ontem, em conversa com o The Wall Street Journal.

Kudlow disse que a postura de Trump, tanto em comentários públicos quanto em seus tuítes, em relação às negociações nas duas últimas semanas, tem sido otimista e conciliatória. Ele destacou que não há qualquer decisão até o momento, mas que a retirada de algumas tarifas ;faz parte da discussão da primeira fase do acordo comercial que está sendo negociado;. No mesmo evento, o chefe de gabinete da Casa Branca, Mick Mulvaney, definiu como ;muito boas; as perspectivas de um acerto com a China.

Autoridades dos dois países já haviam conversado com o WSJ relatando a possibilidade do adiamento da implementação do novo aumento das tarifas. A exigência americana é o compromisso dos chineses de que vão importar produtos agrícolas, como soja e aves, dos EUA. Caso o contrário, Trump determinará a sobretaxa de 15% a mais para aparelhos eletrônicos, como celulares e laptops, além de brinquedos e itens de vestuário. Sem acordo, as novas tarifas passam a incidir às vésperas do Natal.

As discussões entre as duas superpotências também incluem pressões norte-americanas para que diversos países não utilizem a tecnologia 5G, mais a proibição de companhias americanas de negociarem com a gigante chinesa de tecnologia Huawei, e a retirada de máquinas e softwares americanos das instituições públicas daquele país.

Olhar eleitoral

Na visão da economista Vitoria Saddi, professora do Insper, a situação mostra que nenhum dos dois lados quer abrir mão de suas exigências nas negociações. Para ela, se realmente houver o adiamento das sobretaxas, é positivo para a eventual reeleição do Trump e para os importadores americanos.

;Se for confirmado, e amanhã com a decisão esperada do FED (Federal Reserve, o banco central norte-americano) de manutenção na taxa de juros, é mais uma razão para o mercado celebrar;, explicou.

Saddi acredita que as ações de Trump sejam, na verdade, uma ;ameaça crível;, e não uma imposição. ;Se vier a impor as tarifas, os efeitos seriam muito ruins para os americanos, já que a China é um dos maiores parceiros comerciais dos Estados Unidos. Há 20 anos, por exemplo, as consequências não seriam tão graves, mas a China se fortaleceu e ganhou relevância comercialmente. Tanto que essa guerra comercial de sobretaxas vem sendo falada há um ano, mas até agora nada forte foi feito por conta do poder comercial da China. Nenhum futuro presidente norte-americano ousaria enfrentar a China, e não acredito que o Trump o fará.;

Já na avaliação de Eduardo Galvão, professor de Relações Institucionais do Ibmec Brasília e mestre em Direito das Relações Internacionais, as manifestações das autoridades dos dois países, próximo ao fim do prazo, não foi surpresa.

;É natural que, às vésperas de entrar em vigor, Trump dê uma segurada para abrir espaço para que haja uma manifestação, já que a medida impacta diretamente empresas americanas;, disse. Ele acha que o adiamento pode ser também por conta das compras natalinas.

;É uma data em que se compra muito equipamento eletrônico e vestuário, produtos fabricados na China. Então, a expectativa de vendas é muito grande. E se essa sobretaxa vem do nada, às vésperas dessa comemoração, se formaria um grande estoque de produtos chineses que estava direcionado ao mercado norte-americano;, acrescentou.

Galvão avalia que as manifestações do presidente norte-americano, via Twitter, são um teste para as negociações. ;Ele solta isso de forma não oficial para ver as reações. Assim, consegue identificar qual nível vai alcançar na negociação. Por exemplo: tivemos a questão da ameaça de aumento da alíquota no aço e no alumínio brasileiro e argentino. O custo político para impor essas taxas deviam ser muito altos e o Trump não quis pagar, principalmente em época de eleição e de briga com o fantasma do impeachment.;

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