Economia

Percentual de famílias com débitos pendentes subiu em relação a 2018

Os dados são do Levantamento da Confederação Nacional do Comércio. Uso inadequado do cartão de crédito e do cheque especial é um dos principais motivos

Catarina Loiola*
postado em 15/12/2019 06:00
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Mais da metade da população brasileira está endividada. Até novembro de 2019, 65,1% das famílias relataram possuir algum tipo de dívida, segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), realizada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). No mesmo período do ano passado, o indicador era de 60,3%. O cartão de crédito foi apontado em primeiro lugar como um dos principais tipos de dívida por 78,8% das famílias, seguido por carnês e financiamento de carro.

A economista da CNC Marianne Hanson explica que estar endividado não significa inadimplência. ;O crédito possibilita que muitas famílias tenham acesso ao consumo de bens e serviços que não conseguiriam pagar a vista e dos quais precisam imediatamente. Também há famílias que concentram os gastos no cartão. Logo, estar endividado não é a mesma coisa que estar inadimplente;, explica. ;As dívidas com cartão de crédito vêm aumentando porque ele está substituindo outras formas de financiamento. O acesso fácil ao crédito e às opções de parcelamento são mais viáveis para muitas famílias;, indica a economista.

As elevadas taxas de juros do cheque especial também são o motivo de grande parte das dívidas acumuladas pelos consumidores. Até outubro deste ano, os débitos no cheque especial de pessoas físicas somavam R$ 26,53 bilhões, enquanto as dívidas de pessoas jurídicas nessa modalidade eram de R$ 10,06 bilhões. Os juros do cheque especial para pessoas físicas variam de 1,52% a 15,92% ao mês, ou 19,79% a 488,84% ao ano, segundo o Banco Central (BC). Atualmente, entre pessoas físicas e jurídicas, o cheque especial é utilizado por 81 mil clientes bancários.

[SAIBAMAIS]Nesta semana, o BC limitou os juros do cheque especial a um teto de 8% ao mês e decidiu que os bancos vão poder cobrar uma tarifa mesmo de quem não usa, mas pretende manter aberta a linha de crédito. Isso significa que, a partir de 1; de junho, para ser obrigado a pagar essa tarifa basta ter um limite de cheque especial acima de R$ 500. Ou seja, mesmo que a pessoa não utilize o cheque especial, o banco poderá cobrar uma taxa. Apenas clientes que tiverem até R$ 500 de limite serão isentos.

Por mais que ofereça imediatismo de uso, cheque especial, explica o professor do Departamento de Ciências Contábeis, Jomar Miranda, deve ser evitado ao máximo por pessoas que são desorganizadas financeiramente. ;Caso não tenha outra saída, o ideal é ficar com o dinheiro o menor tempo possível e procurar taxas menores, além de preferir o rotativo ao invés do parcelado;, explica. Segundo o professor, pessoas que controlam as finanças pessoais e possuem conhecimento sobre o que realmente precisam consumir normalmente não pegam o especial, e preferem se planejar.


Planejamento


Uma rota de fuga do cheque especial é o bom uso do cartão de crédito. No parcelado ; que divide o total da fatura ; as taxas de juros para pessoas físicas vão de 3,03% a 16,08% mensais, ou de 43,05% a 498,31% ao ano. Já no crédito rotativo para pessoas físicas os juros são maiores: de 0,68% a 19,93% por mês, equivalentes a 19,99% e 790,53% ao ano. O rotativo permite que, caso o cliente não pague a fatura, o débito passe para o mês seguinte com juros sobre o saldo devedor.

Quando bem utilizado, o cartão de crédito permite que o consumidor planeje a compra de bens duráveis e tenha acesso a uma linha de crédito rápida, além de oferecer outras vantagens. Até o final do ano passado, havia 98,7 milhões de cartões de crédito ativos no país. Em outubro de 2019, o saldo dos débitos para pessoas jurídicas era de R$ 11,30 bilhões e o de pessoas físicas alcançava R$ 251,29 bilhões, segundo o BC.

O cartão de crédito oferece a possibilidade de parcelamento sem juros, que pode ser melhor aliado do que o cheque especial em situações de emergência. Além disso, os programas de milhas e pontos que alguns bancos oferecem permite ao cliente obter passagens aéreas, hospedagens, produtos e outras vantagens, sem colocar a mão no bolso. Os pontos são acumulados ao longo do tempo, mas têm prazo de validade que costuma ser por volta de 2 anos. Caso não sejam resgatados, os pontos expiram. Outra vantagem de alguns cartões são os descontos em lojas, restaurantes, cinemas e serviços de empresas parceiras.

Vantagens


De acordo com coordenador do MBA em Gestão Financeira da Fundação Getulio Vargas (FGV), Ricardo Teixeira, mesmo com as facilidades, o cartão de crédito deve ser utilizado com atenção. ;Utilizar o crédito com planejamento e com o dinheiro reservado para as parcelas é a melhor alternativa. Isso porque fazer uma compra e deixar o dinheiro rendendo pode gerar uma pequena vantagem financeira;, afirma. No entanto, Teixeira alerta que não é apropriado ultrapassar a renda mensal em gastos no cartão, pois, em caso de atraso no pagamento, os altos juros e outros encargos podem virar uma bola de neve muito difícil de quitar.

O aposentado Carlos Costa 57, conta que precisou utilizar o cheque especial e demorou mais de dois anos para conseguir pagar todos os juros. Depois disso, deixou de usar a modalidade e aderiu ao planejamento financeiro. ;Todo início de mês vejo quais seriam os gastos e me planejo. Uso o cartão de crédito para a compra de coisas mais caras, que não cabem no salário de um mês, mas que tenho certeza de que vou conseguir pagar em dia;, conta. Ele utilizou de cursos onlines sobre planejamento, para aprender como fazer bom uso do cartão de crédito. Na internet, é possível encontrar canais no Youtube, como Nath Finanças e Me Poupe, que oferecem dicas para uma vida financeira tranquila em vídeos gratuitos.

* Estagiária sob supervisão de Odail Figueiredo

Fique de olho

Dicas para aproveitar melhor o cartão de crédito

; Programe suas compras. Não utilize o cartão como se fosse um segundo salário.

; Antes de comprar, faça as contas. Veja se o valor cabe no seu bolso.

; Ao utilizar o cartão, o valor total da compra não deve ultrapassar o limite de crédito disponível, mesmo que a compra seja parcelada.

; Confira sempre a fatura de seu cartão. Caso não reconheça alguma despesa, entre imediatamente em contato com
a Central de Atendimento.

; Guarde sempre os comprovantes das compras. Para evitar sustos e não estourar o orçamento, some-os sempre para saber o quanto já gastou no mês.

; Fique fora da bola de neve. Pague o valor total da fatura do cartão no vencimento.

; Se for parcelar, cuidado para não comprometer o orçamento dos próximos meses.

; Em caso de perda ou roubo do cartão, entre imediatamente em contato com a Central de Atendimento.

; Antes de viajar, não se esqueça de avisar o gerente de sua conta. Isto evita possíveis bloqueios do cartão por suspeita de fraude.

Fonte: Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito (Abecs)


Juros do cheque especial para pessoa física nos principais bancos*

Banco Ao mês Ao ano
Santander 14,78% 422,89%
ItaúUnibanco 12,48% 309,91%
Bradesco 12,54% 312,94%
Banco do Brasil 12,02% 290,6%
Caixa 9,42% 194,46%

* em 21 de novembro

Juros do cartão de crédito parcelado à pessoa física nos principais bancos*

Banco Ao mês Ao ano
Santander 7,87% 148,21%
Itaucard 8,49% 165,84%
Bradesco 8,08% 153,93%
Banco do Brasil 7,59% 140,45%
Caixa 8,32% 160,89%
* em 21 de novembro
Fonte: Banco Central

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