postado em 15/12/2019 06:02
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Depois de gastar R$ 40 bilhões para erguer a hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, um projeto que desde o início teve a sua viabilidade financeira questionada por causa da forte oscilação do nível de água do Rio Xingu, a concessionária Norte Energia, dona da hidrelétrica, quer agora autorização para construir usinas térmicas ; mais caras e poluentes ; nos arredores da hidrelétrica, para complementar sua geração de energia.
Depois de gastar R$ 40 bilhões para erguer a hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, um projeto que desde o início teve a sua viabilidade financeira questionada por causa da forte oscilação do nível de água do Rio Xingu, a concessionária Norte Energia, dona da hidrelétrica, quer agora autorização para construir usinas térmicas ; mais caras e poluentes ; nos arredores da hidrelétrica, para complementar sua geração de energia.
Nas últimas semanas, a Norte Energia já fez, inclusive, uma consulta formal à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), pedindo autorização para que mude seu estatuto social e libere a concessionária para erguer as usinas térmicas.
Hoje, a Norte Energia é uma Sociedade de Propósito Específico (SPE), ou seja, uma empresa que tem como único objetivo construir e explorar a hidrelétrica de Belo Monte, pelo prazo de 35 anos. Seus sócios são a estatal Eletrobras, que detém 49,98% da operação, os fundos de pensão Petros, da Petrobras, e Funcef, da Caixa (com 20%, no total), e as empresas Neoenergia, Vale, Sinobras, Light, Cemig e JMalucelli.
[SAIBAMAIS]A justificativa central da concessionária é que a sua barragem principal, estrutura que responde por mais de 98% da capacidade de geração ; são 11 mil megawatts, contra apenas 233 MW da barragem complementar ;, tem de ficar completamente desligada por um período de cerca de cinco meses, todos os anos, por causa da baixa vazão do Rio Xingu. A seca no Xingu se concentra nos meses de julho a novembro. Com pouca água correndo, as máquinas são desligadas, sob o risco de entrarem em pane. Não é por acaso que, apesar dos 11.233 MW de potência, Belo Monte entrega, efetivamente, uma média de 4.571 MW por ano.
Capacidade
Entre agosto e novembro deste ano, por exemplo, o volume total de água que passou pelo Xingu permitiu uma geração média de algo entre 276 e 568 MW apenas, quando a capacidade mínima de cada uma das 18 turbinas da casa de força principal de Belo Monte é de 611 MW. Ou seja, nesse período, não foi possível ligar nenhuma máquina.
Mas nada disso é surpresa. Os números de Belo Monte, baseados no modelo de engenharia em que foi construída, são conhecidos há mais de uma década. A Norte Energia, que venceu o leilão da usina em 2010, esperou nove anos para licenciar e concluir a construção da usina. Em novembro, depois que acionou a última turbina da hidrelétrica, sempre defendida como a geração mais limpa do país, foi à Aneel com o propósito de pedir autorização para erguer usinas térmicas.
;Acho que isso confirma que o dano socioambiental de Belo Monte é um crime;, diz Biviany Rojas, advogada do Instituto Socioambiental (ISA), organização que acompanha o impacto do empreendimento desde a sua concepção. ;A instalação de termoelétricas desmoraliza todo o discurso de escolha política por geração de energia hidrelétrica na floresta amazônica. Se era para produzir energia termoelétrica, não precisava barrar o Rio Xingu.;
Questionada sobre o pedido da Norte Energia, a Aneel limitou-se a declarar que ;se manifestará quando vier a tomar uma decisão sobre o assunto;. A reportagem questionou a concessionária sobre seus projetos de geração térmica, onde seriam erguidos e por que a empresa só apresentou essa proposta após concluir a usina. A concessionária não respondeu.