O aumento do desemprego, a partir de 2015, levou muitas pessoas a viverem de bicos, trabalhando por conta própria ou abrindo pequenos negócios informais, mas também elevou a escolaridade dos desempregados, alerta o diretor da Fundação Getulio Vargas (FGV) Social, Marcelo Neri. ;O que antes era um processo de transformação, de escolha em ser seu próprio chefe ou ganhar algum dinheiro extra para a família, tornou-se a fonte de renda de muita gente. Nesse processo, a escolaridade aumentou. Não só porque as pessoas começaram a se especializar, mas também porque quem tinha maior escolaridade teve que migrar para esse lado;, afirma.
Foi o que aconteceu com a arquiteta Raquel Cavalcanti Machado, 34 anos, moradora da Ceilândia Norte. Em 2012, formou-se e, desde então, trabalhou na sua área, em cargos comissionados do Governo do Distrito Federal. Porém, no meio de 2018, houve corte de gastos e Raquel foi exonerada. ;Tentei achar emprego em construtoras, até em outras áreas, mas sempre buscando exercer minha profissão. Eu precisava ajudar meu marido nas contas e criar minha filha, que ainda é pequena;, conta.
Raquel diz que sempre teve apreço por papelaria personalizada e, enquanto procurava emprego, foi adquirindo algumas máquinas para produzir as peças de uso próprio. ;Fazia um topo de bolo para a festinha de alguma colega, uma agenda para minha filha na escola;, destaca.
Porém, o tempo foi passando e as dívidas se acumulando. Como a maioria dos brasileiros, sem renda, não tinha como pagar. Até o apartamento próprio teve que ser alugado, fazendo a família voltar a morar na casa dos pais de Raquel. O marido também ficou desempregado e começou a dirigir para um aplicativo. Foi então que o hobby virou profissão. Mas mais dificuldades apareceram: era preciso comprar máquinas para que ela pudesse produzir em escala e com maior variedade. Raquel ainda precisava conhecer melhor as ferramentas, os tipos de papéis e correr atrás de novidades.
Aperfeiçoamento
A solução para o aperfeiçoamento de Raquel veio da internet, a partir de vídeos do YouTube. ;Meu esposo e minha filha me ajudaram e ajudam muito. Vi muitos tutoriais na internet, muito vídeo no YouTube. Não tinha recursos para pagar cursos que são bem caros. As coisas não são assim: ;tenho a máquina, recursos e vou vender;. É preciso saber o que fazer com o que se tem na mão;, relata.
Hoje, Raquel oferece fabricação de topos de bolo, artigos personalizados para festas em geral, sublimação de caneca de porcelana e customização de agendas, planners e cadernos. Os planos para o futuro são de expansão. ;Quero deixar de ser um ateliê na sala de casa e virar uma loja física e virtual de sucesso;, diz.