Anna Russi, Rosana Hessel, Gabriel Pinheiro*
postado em 31/12/2019 08:00
Quem apostou no mercado de ações está feliz da vida, pois obteve um dos melhores rendimentos financeiros em 2019. Apesar do recuo no último pregão do ano, ficando levemente abaixo de 116 mil pontos, a Bolsa de Valores de São Paulo (B3) acumulou valorização de 31,58% em 12 meses, impulsionada pela entrada de novos investidores no mercado doméstico, que praticamente dobrou em relação a 2018. É o quarto ano consecutivo que encerra no azul, com o melhor desempenho desde 2016. Levantamento feito pela Economática, a pedido do Correio, mostra que foi a melhor aplicação do ano, ganhando até do ouro. Especialistas acreditam que deve continuar subindo em 2020 e pode encostar em 140 mil pontos até dezembro, o que representaria crescimento de 21% sobre 2019.
;Este ano foi muito bom para o investidor da Bolsa. Essa continuidade de alta vai depender do crescimento da economia. Contudo, é difícil imaginar o mesmo desempenho deste ano em 2020, porque os juros básicos estão baixos, mas não devem cair no mesmo ritmo;, explica Glauco Legat, analista chefe da Necton Investimentos, que prevê a bolsa encerrar o ano que vem em 137 mil pontos. Ele lembra que a entrada de investidores está relacionada com a queda dos juros, pois os retornos ficaram menores na renda fixa. No início de 2016, a taxa básica de juros (Selic) estava em 14,25% ao ano. Neste ano, está em 4,5%, e é provável que se mantenha nesse patamar em 2020.
O analista da Necton ressalta que a retomada de ofertas de ações na bolsa por empresas, sejam primárias (IPOs), sejam secundárias (Follon On), contribuiu para o bom desempenho da B3, o que atraiu os investidores pessoa física. Ele alerta que é preciso escolher bem os ativos, pois o rendimento do Ibovespa, que é uma média das principais ações listadas, não foi o maior entre os indicadores da B3.
O Índice de Fundos de Investimentos Imobiliários (IFIX) teve valorização de 35%, embalado pela retomada do mercado de construção e do aluguel de imóveis. ;Esses fundos costumam pagar dividendos que tiveram uma margem de ganho de 6,5%. Isso poderá se repetir no ano que vem, algo acima da maioria dos rendimentos de renda fixa, e não incide imposto;, destaca Legat. Segundo ele, as Small Caps (ações com valores baixos) também tiveram um desempenho bem relevante, acima de 50% no ano.
Investir em ações é uma boa opção para aplicações de longo prazo, dizem os especialistas. ;Bolsa de Valores não é cassino, é uma alternativa de investimento;, afirma o professor Mauro Calil, fundador da Academia do Dinheiro. Ele ressalta que o volume de investidores, neste ano, foi recorde, mas entrar na Bolsa não significa ficar rico da noite para o dia.
Na avaliação de Calil, existe a perspectiva de melhora no ano que vem, com possibilidade de correção se houver instabilidade política em um ano eleitoral. ;A economia está em um ritmo interessante e positivo;, destaca. Se o plano de desestatização do governo caminhar, Calil acredita que a Bolsa pode ganhar impulso. Para ele, é preciso uma retomada do consumo e de renda das empresas para manter o ciclo de crescimento. O analista não aposta nos 140 mil pontos da Ibovespa para 2020. ;Para que isso aconteça, a economia precisa responder muito bem. Teria de haver aumento da base das empresas e de ações que a compõe o Ibovespa;, completa
Alexandre Fragoso Arci, educador financeiro e diretor do Instituto Eu Defino, reforça que as perspectivas da Bolsa para 2020 estão embasadas na continuidade da agenda reformista do governo. ;Se houver continuidade nas reformas e redução do Estado no mercado, teremos uma boa perspectiva de ganhos na renda variável;, afirma. Ele aposta em novos recordes do Ibovespa. ;Podemos ter alguma volatilidade por causa da eleição nos Estados Unidos, mas, mantendo as reformas e o crescimento, atingir 140 mil pontos é possível;, estima.
O especialista orienta o investidor a buscar oportunidades para melhorar o retorno. ;Hoje, dependendo do investimento, o aplicador pode ter retorno negativo. Portanto, é preciso buscar a renda variável;, conta Arci. Para ele, é necessário começar aos poucos e entender como funciona o mercado de ações. ;Coloque uma pequena parte do capital para ver como é. Depois aumente os aportes, pois há espaço para o crescimento do mercado de ações;, recomenda.
Influência
Gabriel de Faria, estudante de computação, 24 anos, acompanha o pai operar na Bolsa desde os 12 anos. Aos 18, recebeu um dinheiro dos pais. ;Isso me fez querer aprender a cuidar do meu patrimônio.; Gabriel começou com renda variável. ;Eu topei correr risco;, conta. Ele reconhece a sorte de entrar em um período de crescimento. ;Saber poupar e investir é para vida toda;, ensina.
Cristiano Ferreira, 33, é empresário e diz que passou a ter contato com investimentos em 2016. Começou com ações em corretoras autorizadas que não cobram corretagem. Teve experiência com Tesouro Direto e fundos imobiliários. ;Acredito que educação financeira deveria ser disciplina básica no currículo do ensino formal do Brasil;, afirma. ;É um mito precisar de muito dinheiro para começar a investir. As pessoas estão começando a descobrir que podem aplicar qualquer valor.;
* Estagiário sob supervisão de Simone Kafruni