postado em 31/12/2019 13:00
O ex-CEO da Renault e Nissan, Carlos Ghosn, que estava em prisão domiciliar em Tóquio aguardando julgamento, confirmou ontem sua fuga para o Líbano. ;Agora estou no Líbano. Não sou mais refém de um sistema judicial japonês parcial, onde prevalece a presunção de culpa;, escreveu em um comunicado transmitido por seu porta-voz. ;Não fugi da Justiça, eu me libertei da injustiça e da perseguição política. Posso finalmente me comunicar livremente com a mídia, o que farei a partir da próxima semana;, acrescentou.
Seu principal advogado disse ontem que ficou perplexo com as notícias e que soube da fuga do cliente pela televisão. ;Fomos pegos completamente de surpresa. Estou chocado;, disse Junichiro Hironaka, em Tóquio. Ghosn estava em prisão domiciliar no Japão, onde seria julgado em abril de 2020, por suposta apropriação indébita financeira.
Na segunda-feira, ele chegou ao aeroporto de Beirute, segundo fonte de segurança libanesa. ;A maneira como ele deixou o Japão não está clara;, disse outra autoridade libanesa. Segundo o jornal libanês al-Jumhuriya, que revelou as informações, o ex-chefe da aliança Renault-Nissan-Mitsubishi, com tripla nacionalidade francesa, libanesa e brasileira, chegou a Beirute em um avião da Turquia.
Nada em seu comportamento nos últimos dias indicava que ele deixaria o Japão, disseram algumas pessoas que o visitaram até a semana passada. ;Ele ainda estava se preparando para seu julgamento durante nossas reuniões regulares;, disse seu advogado. ;Carlos Ghosn não tenta se esquivar de suas responsabilidades, mas foge da injustiça do sistema japonês;, justificou uma fonte ligada ao caso, que pediu para ter sua identidade preservada.
Videoconferência
Em novembro, Ghosn foi autorizado a falar por videoconferência com a esposa, Carole, pela primeira vez em quase oito meses. Alguns dias antes desse contato, seus filhos exigiram um julgamento ;justo; para o pai. De acordo com sua assessoria de comunicação, Carlos Ghosn defendeu o ;levantamento total; das várias proibições impostas, considerando-as ;excessivas, cruéis e desumanas, e para que seus direitos fundamentais e os de sua esposa fossem respeitados;.
Aquele que um dia foi aclamado como ;o salvador da Nissan;, após sua chegada ao grupo japonês em 1999, passou 130 dias na prisão desde novembro de 2018. Foi libertado sob fiança pela primeira vez em março de 2019, mas voltou a ser preso no começo de abril. No fim daquele mês obteve prisão domiciliar em condições estritas.
O ex-executivo é acusado de não declarar mais de R$ 160 milhões que ganhou entre 2010 e 2015, de usar indevidamente bens da Nissan em benefício próprio, de ter dado prejuízo à montadora de automóveis em uma transferência de fundos e de repassar à empresa uma dívida particular.