Correio Braziliense
postado em 08/01/2020 04:05
São Paulo — As montadoras tiveram uma boa notícia. Dados divulgados ontem pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) apontaram para um crescimento de 2,3% na produção do setor no ano passado. Para 2020, segundo projeções, o desempenho poderá ser bem melhor, apesar das exportações estarem em trajetória de queda.
Ao todo, foram produzidas 2,94 milhões de unidades em 2019 — somando os segmentos de automóveis, comerciais leves, ônibus e caminhões. Desde 2014 —ano pré-crise na economia brasileira —–, quando a indústria produziu 3,15 milhões de unidades, o setor não registrava número tão alto.
Com o resultado, 2019 marcou o terceiro ano seguido de crescimento da produção de veículos. As vendas no mercado interno garantiram a performance nos últimos dois anos. No ano passado, os emplacamentos locais responderam por um aumento de 8,9% nas vendas, com um total de 2,79 milhões de unidades comercializadas.
Com esses números, a expectativa da Anfavea é de que o Brasil tenha conseguido subir do oitavo para o sexto lugar entre os maiores mercados de veículos do mundo. Assim, o país teria deixado para trás a França e o Reino Unido, de acordo com números ainda preliminares da associação.
Segundo a Anfavea, as vendas para empresas foram as que mais impactaram nos números. Entre os principais clientes estão as locadoras de veículos, estimuladas pelo mercado crescente de transporte por aplicativo; o setor agrícola, ainda aquecido pela alta produção e preço das commodities; e os frotistas que buscam junto às montadoras condições melhores de pagamento.
A crise na Argentina, principal cliente brasileiro, pesou no desempenho do setor. Em 2019, a retração nas exportações de uma forma geral foi de 31,9%. O embarque de 482,2 mil unidades representou o menor resultado desde 2015, quando o Brasil vendeu para outros mercados um total de 428,2 mil veículos.
Horizonte
Para 2020, a Anfavea trabalha com um desempenho ainda melhor do que o registrado em 2019. A entidade espera aumento de 7,3% na produção. Se o número se confirmar, 3,16 milhões de veículos sairão das fábricas brasileirs. Apesar de parecer elevado, o volume ainda estará bem distante do que foi visto em 2012, ano de pico da indústria.
A diferença entre o que se espera para esse ano e o que as montadoras produziram em 2012 chega a 750 mil unidades. Como explica o presidente da entidade, Luiz Carlos Moraes, esse número equivale a três meses do faturamento do setor. "Foi uma crise muito profunda e longa, e a recuperação é lenta.” O pior momento foi visto em 2016, quando a produção foi de 2,18 milhões e as vendas chegaram a 2 milhões de veículos.
“Do ponto de vista econômico, entendemos que 2020 começa em condições melhores que as de 2019. Tem mais tendência de consumo, certa tendência de alta para a produção, mas não podemos permitir que este otimismo atrase a continuidade das reformas estruturais, caso contrário vamos ter mais um voo de galinha”, disse Moraes.
Ainda de acordo com a associação, as vendas no mercado interno deverão atingir 3,05 milhões — alta de 9,4%. Já o cenário para as exportações é desfavorável. As montadoras deverão estar preparadas para uma queda de 11% nos embarques internacionais, chegando a 381 mil unidades. Segundo Moraes, a Argentina não dá sinais de recuperação no curto prazo. "O novo governo ainda está começando e não há nenhuma novidade que indique uma retomada em 2020”, disse.
O otimismo da Anfavea está atrelada à melhora do ambiente interno. A Anfavea acredita que o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil deve crescer 2,5% em 2020. Também devem impactar nos números a baixa dos juros e da inflação. Para Moraes, há espaço para redução das taxas cobradas nos financiamentos. “Ainda há mais espaço para a taxa do CDC (Crédito Direto ao Consumidor) cair.”
Reformas
Para o representante das montadoras, a possibilidade de o Congresso travar a partir de maio, por causa das eleições municipais, é uma ameaça à agenda de reformas como a tributária, o que poderá comprometer a previsão de crescimento do país.
Na agenda traçada para Brasília, a Anfavea espera avançar na revisão do Reintegra, mecanismo de compensação fiscal para as exportações. Hoje, essa compensação é de 0,1%, mas a entidade alega que os resíduos tributários nas vendas para o exterior chegam a 12%. Moraes sabe do problema fiscal que ainda não foi totalmente desarmado pelo governo, mas disse que espera trazer o Reintegra para as conversas em 2020.
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