Economia

BC evita previsões sobre impactos à economia do conflito entre EUA e Irã

Presidente Campos Netos disse entender que existe uma ansiedade da sociedade em relação ao tema, mas limitou-se a ponderar que tudo dependerá dos impactos que terão

fO presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, evitou fazer previsões sobre os impactos que o conflito entre Estados Unidos e Irã pode causar na inflação e, consequentemente, na política monetária e nas expectativas de crescimento econômico. Ele disse entender que existe uma ansiedade da sociedade em relação ao tema, mas limitou-se a ponderar que tudo dependerá dos impactos que terão. “O Banco Central não pode fazer previsões em relação ao que vai acontecer com conflitos”, sustentou, nesta quinta-feira (9/1).

A escalada da tensão entre os dois países contaminou, no início da crise, o preço do barril de petróleo tipo Brent. Os investidores precificaram que a crise poderia causar impactos na oferta da commoditie. No primeiro dia do conflito, na última sexta-feira (3/1), a cotação do barril encerrou o dia a US$ 68,60. Na quarta (8/1), atingiu uma máxima de US$ 71,75. Contudo, hoje, o barril está a um custo médio de US$ 64,97, com queda de 1,2%. 

O preço do barril de petróleo é uma das variáveis utilizadas pela Petrobras para a política de reajustes dos combustíveis. Outra variante é o dólar, que, em 2019, subiu 3,5%. Ou seja, a depender dos impactos do petróleo no exterior, em decorrência do conflito entre EUA e Irã, o custo da gasolina e do diesel pode subir nas refinarias e, consequentemente, nas bombas. 

Os combustíveis, por sua vez, têm — em maior ou menor grau no mês — um impacto na cesta de produtos e serviços trabalhada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A instituição é a responsável por mensurar mensalmente a variação da inflação oficial, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). O BC, por sua vez, é a autoridade responsável por garantir o poder de compra da moeda por meio da política monetária.

O controle da taxa básica de juros (Selic) é uma das ferramentas pelo qual o BC desempenha sua atividade. Em dezembro de 2019, o Comitê de Política Monetária (Copom) reduziu o índice de 5% para 4,5%. Um dos elementos observados é o comportamento dos preços. Uma inflação bem acomodada sugere espaço para o corte de juros. Contudo, agora, diante da crise no exterior, agentes econômicos colocam em xeque a possibilidade de novos cortes. 

Impacto

Ou seja, se o preço do barril de petróleo sofrer abruptas oscilações no exterior e o dólar continuar em alta, a Petrobras pode elevar os custos da gasolina e do diesel nas refinarias, que, por sua vez, elevaria os valores desembolsados pelos consumidores nas bombas. A depender da alta, ela pode puxar a inflação para cima e, assim, contaminar as perspectivas de corte dos juros. A interrupção da queda na Selic, por sua vez, pode impactar em menos investimentos e mudanças em previsões mais otimistas para o crescimento econômico, medido pelo Produto Interno Bruto (PIB). 

Todo esse cenário, entretanto, representa uma conjectura que o BC evita se debruçar. “A única coisa que podemos mencionar é que depende dos impactos que vão ter. O importante é olhar o impacto do conflito nas variáveis macroeconômicas e como nós entendemos que as variáveis macroeconômicas influenciam as nossas projeções. É o máximo que posso falar, porque, se nós olharmos, por exemplo, o conflito recente com o Irã, no primeiro dia, existiam notícias de que o petróleo poderia subir muito, e olhando — não olhei hoje, agora — mais recentemente, está abaixo do que estava antes do início da crise. Então, não fazemos previsões sobre isso”, avisou Campos Neto.