Economia

Consumidores esperam promoções e valorizam tempo de garantia

Brasileiros barganham cada vez mais antes de comprar e valorizam serviços pós-venda, mas sustentabilidade e impacto no meio ambiente na hora de decidir sobre consumo ainda conta pouco

Correio Braziliense
postado em 14/01/2020 00:01

A pedagoga Paula Barbosa não costuma pesquisar preços, mas considera marca e o tempo do serviço de garantia. Cada vez mais se preocupa com o impacto ambiental do produto. Ela mostra um copinho de papel que costuma levar na bolsa para não usar descartáveisA crise econômica tem deixado o consumidor brasileiro cada vez mais paciente e racional com relação a decisões de consumo. De acordo com a pesquisa Retratos da Sociedade Brasileira sobre Práticas de Consumo, divulgada nesta segunda-feira (13/1) pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). No entanto, apesar das discussões sobre meio ambiente estarem cada vez mais presentes na sociedade, o peso do tema ainda não decide consumo.

 

Segundo o levantamento da CNI, em 2013, 64% dos entrevistados disseram que esperam por promoções para realizar compras e, no ano passado, 71% afirmaram que procuram liquidações antes de realizarem seus desejos de consumo.  No mesmo período, aumentou de 65% para 74% o percentual de pessoas que pesquisam a qualidade dos serviços pós-venda, como garantia do produto. O hábito de pechinchar também cresceu: 81% dos pesquisados afirmaram que não abrem mão da barganha, contra 78% em 2013.

 

Quanto menor a renda familiar, maior o costume de esperar promoções. De acordo com a pesquisa, 75% dos brasileiros com renda familiar de até um salário mínimo esperam um saldão, enquanto o percentual entre os brasileiros com renda familiar superior a cinco salários mínimos é de 60%.

 

No entanto, quando a pergunta é sobre quais são os fatores que pesam na hora de decidir por uma compra, o impacto com o meio ambiente responde por apenas 5% das decisões, enquanto o consumo de energia, no caso de produtos elétricos e eletrônicos, por apenas 8%. 

 

O fator de maior peso na hora da decisão de consumo é o preço do produto para 49% dos entrevistados. Em seguida, estão os fatores qualidade (47%) e marca (47%). Do total de entrevistados, 93% afirmaram pesquisar preços e 80%, que avaliam as características técnicas do produto.   

Crise e Amadurecimento

Para Renato da Fonseca, gerente Executivo de Pesquisa e Competitividade da CNI, a crise econômica dos últimos anos afetou muitas famílias, principalmente aquelas com renda mais baixa, o que resultou no amadurecimento do comportamento do consumidor. “Com mais de 12 milhões de desempregados, os orçamentos domésticos ficaram menores, principalmente entre as famílias de renda mais baixa. Por outro lado, o consumidor ficou mais exigente e mais empoderando na hora de decidir”, disse.

 

Para ele, a tecnologia também tem influenciado no comportamento de consumo. “Hoje em dia, os consumidores têm um celular na mão para pesquisar preços e estão inseridos em grupos de whatsApp, onde podem trocar informações sobre preço rapidamente”, afirma. Ele avalia que a tendência é o comportamento do consumidor acompanhar o aumento no nível de médio de escolaridade. “Isso é positivo porque ajuda a melhorar os produtos e serviços”, afirma. 

 

“A sociedade não está preocupada apenas com o produto, mas com a garantia e com o pós-venda. A indústria está indo cada vez mais nessa direção”, disse. Segundo a pesquisa, são também os consumidores de renda mais baixa que se interessam mais pela garantia e pelos serviços de pós-venda dos bens de maior valor. Entre os brasileiros com renda familiar de até um salário mínimo, 78% costumam buscar informações sobre garantia e serviços de pós-venda. 

 

“Muitas empresas não compram mais impressoras, mas alugam as máquinas e compram o serviço. Há uma tendência no mundo todo de oferecer mais serviços do que produtos e a pesquisa já reflete esse comportamento com o aumento da preocupação com a garantia. Além disso, com menos dinheiro devido ao desemprego, os brasileiros esperam demorar mais tempo para repor seus produtos, por isso, se preocupam mais com as garantias. 

Responsabilidade do Fabricantes

Para a coordenadora de conteúdos e metodologias do Instituto Akatu, de consumo consciente, Larissa Kuroki, os fabricantes dos produtos podem desempenhar um papel importante se decidirem estender a vida útil dos produtos, de forma a gerar menor impacto para ao meio ambiente, ao reduzir a necessidade dos consumidores de substituírem seus produtos em períodos curtos. 

 

“A garantia é apenas umas das diversas maneiras de estender a vida útil dos itens. Como o próprio nome diz, ela garante que o produto seja reparado ou substituído em caso de quebra ou mal funcionalidade durante determinado período de tempo, evitando, assim, que o mesmo seja descartado pelo usuário e um novo seja comprado. Isso, por consequência, evita que os impactos negativos associados à produção de um novo item afetem o meio ambiente”, afirma. 

 

Segundo Larissa, as indústrias podem adotar estratégias como a resistência à obsolescência, por meio da  criação de produtos mais duráveis. Podem ainda projetar produtos que facilitem manutenções e reparos. 

 

“A lista de vantagens para as empresas que adotam essas estratégias é grande, uma vez que elas podem aumentar seus mercados, além de reduzir custos de produção e consumo de recursos como água, energia e volume de resíduos gerados. Marcas que oferecem soluções rápidas, e eficientes a preços acessíveis se tornam mais atrativas aos consumidores e ganham espaço no mercado”. 

Preço baixo, mas com qualidade

Janeiro é um mês tradicional de promoções no comércio. A dona de casa Maria do Carmo Silva, de 60 anos, sabe disso e, todos os anos, espera a época as liquidações para comprar o que precisa. Na televisão, Maria do Carmo viu o anúncio de uma rede de varejo sobre a oferta de jogos de roupa de cama. “Estou mesmo precisando e vim por causa do comercial. Está barato mesmo, mas não vou comprar porque a qualidade é ruim”, disse. 

 

Maria do Carmo Silva Pereira, dona de casa espera a época das promoções para comprar o que precisa. Pechincha bastante, mas presta menos atenção no tempo de garantia. Se preocupa com o impacto da compra no meio ambiente, mas entre preço e meio ambiente, decide pelo preço 

 

A marca do produto não entra no cálculo da dona de casa. O tempo de garantia, às vezes, e pechincha, sempre. “Desconto eu peço mesmo. Minha filha morre de vergonha”, conta, entre risos. Ela diz que tem se preocupado com os impactos ambientais. “Tem coisa que a gente precisa prestar atenção, pois afeta a nossa saúde”. Mas entre preço e sustentabilidade, não pensa duas vezes: ganha o preço.

Arrependimento

A pedagoga Paula Barbosa não costuma pesquisar preços, mas considera marca e o tempo do serviço de garantia. Cada vez mais se preocupa com o impacto ambiental do produto. Ela mostra um copinho de papel que costuma levar na bolsa para não usar descartáveisPara a pedagoga Paula Barbosa, 50, o primeiro requisito que ela consider antes de decidir por um produto é a marca. Ela confessa que nunca faz pesquisa de preço. “Mas depois eu fico com medo de encontrar o produto mais barato. Recentemente, eu comprei um sofá  e paguei caro e o pior é que não é confortável. Quando vejo ele em outras vitrines, nem olho o preço, para não ficar com raiva”, confessa. Mas Paula presta atenção na garantia do produto. “Só não compro garantia estendida. Se o produto é bom, não preciso comprar mais garantia”, afirma. Sobre o impacto de suas compras no meio ambiente, ela diz que está começando agora a prestar atenção nisso. Abre a bolsa e mostra um copinho de papel que passou a usar para beber água e evitar plástico, mas diz que ainda não pesquisa sobre a responsabilidade ambiental das marcas que consome.  

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