Após décadas afastando as fabricantes de automóveis para estados vizinhos, o Governo do Distrito Federal reformulou a sua política de apoio ao empreendimento e firmou parceria para instalar em Brasília a primeira montadora de veículos automotores da capital do país. Com novas regras que visam a desburocratização para o empresariado e a geração de empregos e renda, o Executivo local assinou contrato com a CAB Motors que, a partir deste ano, deve iniciar a construção de uma fábrica na área de desenvolvimento econômico do Polo JK, em Santa Maria.
No contrato do GDF com a CAB Motors, ficou estabelecido que a concessão do terreno será válida por 30 anos, podendo ser renovada pelo mesmo período, e que a fábrica será erguida em uma área de 70 mil metros quadrados. A estimativa é de que o novo empreendimento tenha capacidade de gerar 420 empregos a partir de 2021, quando devem ser iniciadas as operações da montadora. A expectativa do Palácio do Buriti é a de “colocar Brasília na rota de montadoras de automóveis”. Para o GDF, a cidade poderá concorrer, por exemplo, com os municípios goianos de Anápolis e Catalão, que contam com fábricas da Hyundai e da Mitsubishi, respectivamente.
“É um empreendimento que pode dar certo, porque a CAB Motors terá a garantia jurídica de que tudo o que for contratado será entregue. Em anos anteriores, isso não era possível, tanto que nenhuma fábrica, seja de automóveis, seja de outro segmento, queria vir para o DF”, analisa o governador do Distrito Federal em exercício, Paco Britto.
A CAB Motors prevê investir R$ 200 milhões na construção da fábrica e na aquisição de suprimentos e equipamentos. De acordo com os números da montadora, devem ser produzidos até 100 carros por mês. Os veículos, do tipo utilitário, têm tração 4×4 e consumo de 13km/litro. A proposta é direcionar 80% da venda para o segmento corporativo, e 20% para o particular. Para o presidente do grupo Ferreira Souza — que controla a CAB Motors —, Antônio Ferreira, a localização central de Brasília no país e o hub aeroviário com acesso a todas as regiões estão entre os atrativos para que a fábrica viesse para a capital.
“A posição geográfica da capital é indiscutível. Aqui, (o negócio) tem o potencial de repercutir, em âmbito nacional e internacional, visto a presença das embaixadas e a visibilidade que Brasília tem”, garante. “O GDF tem demonstrado vontade de acolher empresas, gerar emprego e renda. A gente não viu isso em nenhum lugar”, acrescenta.
Menos burocracia
De acordo com o GDF, um dos motivos que facilitou o acordo foi a criação do Programa de Apoio ao Desenvolvimento do DF (Desenvolve-DF), que substituiu o antigo Programa de Apoio ao Empreendimento Produtivo do DF (Pró-DF). A nova plataforma estabelece, por exemplo, que os terrenos destinados à instalação de empresas recém-chegadas sejam disponibilizados por meio de licitação — e não de venda, como acontecia anteriormente —, na forma de concessão de direito real de uso por cinco a 30 anos, renováveis por igual período.O projeto prevê, entre outros pontos, a regularização de pendências, a determinação do cumprimento de contratos e refinanciamento de dívidas de concessão. Para participar do programa, as empresas devem apresentar um projeto de viabilidade técnica econômico-financeira simplificado, justificando a criação do negócio e os empregos a serem gerados. Segundo as regras, as empresas deverão pagar uma taxa mensal de ocupação de 0,20% sobre o valor do terreno, percentual que poderá diminuir com a criação de postos de trabalho.
“Fizemos um novo desenho e, com a concessão do terreno, estamos trabalhando para dar segurança jurídica e econômica aos empreendimentos que estão se destinando ao DF por um horizonte temporal de 60 anos”, analisa o secretário de Desenvolvimento Econômico, Ruy Coutinho. “Queremos dar condições para montadoras, laboratórios e quaisquer outras empresas. O que for viável e considerarmos prioritário, seja qual for o setor, será acolhido pelo DF”, completa.
Presidente da Agência de Desenvolvimento do Distrito Federal (Terracap), Izídio Santos reforça que “o sucesso dessa parceria com certeza trará novos investidores a Brasília”. “Será a primeira fábrica de carros no DF, e apostamos no seu desenvolvimento para garantir futuros negócios. Isso é o que mais almejamos: gerar emprego e renda e beneficiar toda a população de Brasília.”
Expectativa
Representantes do segmento automobilístico em Brasília aprovam a implementação de uma fábrica em solo candango. Para o presidente do Sindicato dos Concessionários e Distribuidores de Veículos do Distrito Federal (Sincodive), Arcelio Júnior, “qualquer medida que vise à geração de empregos e movimente a economia é sempre positiva”. “É muito bom e muito válido qualquer tipo de novo empreendimento, sobretudo em Brasília, que tem uma característica de forte dependência do funcionalismo público. Portanto, ampliar a iniciativa privada é uma boa aposta”, comenta.Júnior lembra que, além dos empregos a serem gerados pela própria montadora, a tendência é de que sejam criados mais postos de emprego de forma indireta. “A cadeia produtiva que envolve a indústria automobilística acaba atraindo fabricantes de motores, câmbios, pneus, vidros, entre outros. Portanto, a tendência é de que a montadora acabe impulsionando ainda mais vagas no mercado de trabalho”, destaca.
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