Economia

Meio ambiente domina preocupação empresarial

Para um dos representantes do organismo internacional, o Brasil repete erros do passado e deve parar o desmatamento antes que seja tarde demais

Correio Braziliense
postado em 16/01/2020 04:05
Para um dos representantes do organismo internacional, o Brasil repete erros do passado e deve parar o desmatamento antes que seja tarde demais

São Paulo — O Brasil mereceu uma menção especial durante a divulgação, ontem, em Londres, do Relatório de Riscos Globais 2020, encomendado pelo Fórum Econômico Mundial. A razão, no entanto, não foi meritória. Peter Giger, especialista-chefe do Departamento de Risco da Zürich Insurance e um dos autores do levantamento, que neste ano aponta o meio ambiente como foco central das preocupações dos maiores líderes globais do planeta, alertou para o crescimento do desmatamento.

“O Brasil é um exemplo diferente. Da perspectiva do risco, está repetindo erros do passado, de centenas de anos atrás. Isso é sempre uma tragédia. No Brasil, a questão é não repetir os mesmos erros como sociedade global e como parar o desmatamento antes que seja tarde demais”, disse no encontro com jornalistas internacionais.

Já o presidente do Fórum Econômico Mundial, Borge Brende, lamentou a ausência de Jair Bolsonaro, chefe do Executivo brasileiro, na edição deste ano do encontro, que acontece entre os dias 21 e 24, em Davos, na Suíça, e alertou para a necessidade de as reformas do Estado avançarem sem que se descuide de políticas de redução da desigualdade no Brasil.

Segundo Brende, o discurso do presidente brasileiro foi bem recebido pelos participantes na versão 2019 do encontro. Mas ainda há uma agenda importante de reformas pela frente, com o objetivo de garantir o crescimento econômico do país. “Isso precisa ser feito em paralelo com medidas para conter as desigualdades, que ainda são significativas no país”, declarou. O cancelamento da viagem de Bolsonaro à Suíça foi anunciado no último dia 8.

O presidente desistiu de participar do Fórum Econômico Mundial em um momento ainda delicado para a imagem do Brasil, depois de as queimadas e o desmatamento na Amazônia terem dominado o noticiário internacional.

Em 2019, o total de focos de fogo na região cresceu 30% na comparação com os números do ano anterior, conforme mostram os dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), divulgados recentemente. Foram, ao todo, 89.178 incêndios detectados pelo satélite. Esse volume só perde para o registrado em 2017, quando ocorreram 107.439 focos.

Ao citar o presidente brasileiro e levantar a bandeira da preocupação ambiental, o discurso dos representantes do Fórum Econômico Mundial se mostra alinhado ao resultado do Relatório de Riscos Globais 2020. Feito neste ano a partir de entrevistas com cerca de 750 especialistas e tomadores de decisão, o documento costuma embasar as discussões em Davos.

Jovens mais preocupados


Em particular entre as gerações mais jovens, a saúde do planeta é alarmante. Os riscos são percebidos de maneira diferente pelos nascidos após 1980, aponta o relatório. Esse público classificou os riscos ambientais mais altos do que outros entrevistados, a curto e a longo prazo.

Para aproximadamente 90% dos entrevistados dessa faixa etária, as “ondas de calor extremas”, “destruição de ecossistemas” e “saúde impactada pela poluição” serão agravadas em 2020, em comparação com cerca de 70% para outras gerações.

Eles também acreditam que o impacto dos riscos ambientais até 2030 será mais catastrófico e provável.

Diante dessas avaliações, faz todo sentido a apresentação da ativista Greta Thunberg como uma das palestrantes em Davos neste ano, onde poderá esbarrar novamente com o presidente americano Donald Trump, com quem já teve atritos pelas redes sociais (modelo seguido por Bolsonaro logo depois).

Além da pauta ambiental, a pesquisa destaca a cautela dos entrevistados quanto às limitações na governança do setor de tecnologia, dos setores de saúde e da elevada desigualdade.


  • Em alerta
    Neste ano, pela primeira vez, as cinco maiores preocupações apontadas pelos entrevistados são ambientais. São elas, classificadas em termos de probabilidade e gravidade:

    1. Eventos climáticos extremos com grandes danos à propriedade, infraestrutura e perda de vidas humanas.

    2. Falha na mitigação e adaptação às mudanças climáticas por parte do governo e das empresas.

    3. Grande perda de biodiversidade e colapso do ecossistema (terrestre ou marinho) com consequências irreversíveis para o meio ambiente, resultando em recursos severamente esgotados para a humanidade e para as indústrias.

    4. Grandes desastres naturais, como terremotos, tsunamis, erupções vulcânicas e tempestades geomagnéticas.

    5. Danos e desastres ambientais causados  homem, incluindo crimes ambientais, como derramamentos de óleo e contaminação radioativa.

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