Economia

Com arrecadação em alta, franquias crescem e falam em mudar Black Friday

Faturamento do setor avançou 6,9% em 2019, com abertura de 25 unidades por dia. Previsão é de alta para 2020. Empresários querem nova data da campanha promocional para salvar Natal

São Paulo – Apesar dos anos de baixo crescimento do Brasil, o franchising mostra que tem conseguido se descolar da economia e apresentar expansão acima do Produto Interno Bruto (PIB). A Associação Brasileira de Franchising (ABF), entidade que representa o setor, divulgou, na última terça-feira (21/1), dados preliminares relativos a 2019. Os números definitivos serão confirmados em fevereiro, mas não devem diferir muito do que a associação tem em mãos hoje.


O faturamento das franquias apresentou crescimento de 6,9% em 2019, aponta a ABF. Apesar de a receita total não ter sido divulgada pela entidade, ao aplicar esse índice sobre os números de 2018, quando o faturamento foi de R$ 174,8 bilhões, chega-se a R$ 186,9 bilhões movimentados pelo setor em 2019. Os dados, no entanto, são nominais, portanto, não levam em consideração a inflação acumulada no período, quando o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) chegou a 4,31%.
Apesar de a trajetória das redes de franquias ter sido melhor que a expectativa de crescimento do PIB para 2019, o número final ficou abaixo do que a ABF projetava no início de 2019, quando apontou para um crescimento entre 8% e 10%. Passado o primeiro semestre, houve uma revisão dos dados e a projeção foi de 7%, apenas 0,1% abaixo do que foi divulgado pela entidade.


O otimismo revelado um ano atrás pela ABF para 2019 era o mesmo de outros setores da economia, que contavam com uma agenda de reformas do governo que andasse com mais celeridade. “No começo do ano, os empresários tinham uma expectativa muito alta”, comenta André Friedheim, presidente da associação.


Dois segmentos se destacaram em 2019. Foram eles ‘casa e construção’ e ‘comunicação, informática e eletrônicos’. “No primeiro, as redes souberam complementar a cadeia de valor da construção civil. No segundo, trabalharam com a diversificação dos canais de venda, como lojas físicas, e-commerce e marketplaces”, explica o diretor executivo da ABF, Marcelo Maia.


Ainda segundo o balanço da ABF, o quarto trimestre foi responsável por puxar o desempenho das franquias, como costuma ocorrer todos os anos. Apesar de ser um comportamento recorrente, já há quem veja tendência de mudança nos últimos quatro meses do ano.


Isso porque a Black Friday, em novembro, tem canibalizado parte das vendas de Natal. Como os preços são promocionais, muitos comerciantes reclamam que a nova data do calendário do varejo, apesar de alavancar os números, acaba tomando parte dos negócios que poderiam ser fechados no Natal, quando os preços praticados não são de promoção.
Divulgação feita pela Hering na última segunda-feira (20) confirma esse impacto. A companhia classificou como decepcionantes as vendas de fim de ano e atribui à Black Friday o resultado.


“A ressaca de vendas após a Black Friday já era esperada em razão da antecipação de parte das compras. Entretanto, esse movimento se estendeu mesmo após a segunda quinzena de dezembro”, informou a empresa. A receita da companhia catarinense foi de R$ 502 milhões no quarto trimestre, o que representou uma queda de 5% em relação ao ano anterior. O efeito da declaração foi sentido na B3, a bolsa paulista, com a baixa de 12,6% nas ações, o que refletiu em perdas de R$ 600 milhões no valor de mercado da empresa.

Expectativa

Segundo Friedheim, havia uma expectativa maior para o período. “Na nossa visão, a Black Friday roubou vendas do Natal, quando as vendas são com margens maiores. Na Black Friday, o varejo queima margem, fatura mais, mas rouba as vendas, com margens maiores, que aconteceriam no Natal. Isso é visto principalmente no setor de moda, como apontou a Hering”, detalha o presidente da associação.

 


Hoje, há uma discussão entre as associações e varejistas, explica Friedheim, com o objetivo de tentar antecipar a Black Friday — inspirada no calendário americano de varejo, no qual a data surgiu para que os comerciantes queimassem seus estoques logo depois do Dia de Ação de Graças — para setembro, um mês sem nenhuma data comemorativa que impacte positivamente no desempenho do setor.


A ideia de antecipar a Black Friday, no entanto, tem a resistência do setor de brinquedos, já que a nova data provocaria impactos nas vendas do Dia das Crianças, que são tão relevantes quanto o Natal para essa atividade. “(Se a mudança fosse feita), aí seriam os brinquedos que venderiam menos em outubro”, pondera o representante da ABF. A discussão sobre a antecipação da Black Friday, de acordo com Friedheim, já está ocorrendo e inclui o comércio eletrônico e físico.

Brasil tem 163 marcas no exterior 

Além do faturamento, a Associação Brasileira de Franchising (ABF) identificou crescimento em unidades e em redes. Os dados divulgados pela ABF apontam para aumento de 5,1% nas unidades em operação e de 1,4% no total de redes de franquias em operação no país. Em média, foram inauguradas 25 franquias por dia em 2019.


Como consequência, houve uma alta no volume de empregos diretos do setor, que avançou 4,8% no ano passado, chegando a um total de 1,34 milhão de postos de trabalho. Segundo André Friedheim, presidente da ABF, em média, as franquias são responsáveis por gerar nove novos postos a cada operação inaugurada. Em muitos casos, são a porta de entrada para jovens em busca do primeiro emprego.


Além da aposta na recuperação gradual do mercado interno, as redes de franquias também olharam com mais atenção para outros países. No ano passado, chegou a 163 o número de marcas nacionais no exterior, ante as 145 marcas em 2018. Quem puxa essa internacionalização é o segmento de moda, que conta atualmente com 35 marcas com negócios fora do Brasil. Na sequência, com 32 bandeiras, vem o segmento de saúde, beleza e bem-estar, acompanhado por alimentação, com 25. Friedheim acredita na tendência de crescimento para este ano, apesar de ainda haver muito espaço para expandir no mercado local.


A previsão para 2020 feita pela ABF é de um crescimento maior do faturamento do que o registrado no ano passado. A associação trabalha com uma estimativa de expansão das vendas de 8%. Já o número de empregos diretos deve aumentar em 6%.


Um dos termômetros para medir o humor do franchising é a procura por espaços na feira anual organizada pela ABF. Segundo o presidente da ABF, “nunca teve um índice de venda como neste ano”, o que seria um “reflexo da expectativa de melhora do quadro de 2020”.

 

Essa projeção de melhora dos números gerais está atrelada à expectativa de abertura de mais franquias de grande porte, que exigem mais investimento, geram maior receita e mais empregos. Isso deve acontecer, segundo Friedheim, por causa da queda na taxa básica de juros, que tem pressionado para baixo os percentuais cobrados pelos bancos. A estimativa da ABF é de que haja crescimento de 6% no total de unidades abertas em 2020 e de 1% nas redes em operação. 

Saída para o país é o microempreendedorismo 

 

 

Juliana Natrielli, subsecretária da Subsecretaria de Desenvolvimento das Micro e Pequenas Empresas do Ministério da Economia, afirmou que o microempreendedorismo é a saída para o Brasil. Em entrevista ao CB Poder, parceria do Correio com a TV Brasília, ela afirma que “quem gera riqueza e emprego não é o governo, é quem trabalha, produz e empreende”. Conforme destacou, até o final de 2019, 80% das novas vagas de emprego estavam nas micro e pequenas empresas. “É possível ver a importância delas nessa retomada econômica. Pela crise que a gente vem sofrendo nos últimos anos, foi um caminho encontrado por muitas pessoas”. Juliana lembrou ainda que o empreendedor “tem os seus direitos trabalhistas resguardados, ele não está totalmente desamparado”.