Estudo divulgado ontem pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), durante o Fórum Econômico Mundial, em Davos, mostrou que boa parte das carreiras escolhidas por adolescentes na faixa dos 15 anos pode deixar de existir daqui a alguns anos. Intitulado Emprego dos Sonhos, o relatório coletou informações de cerca de 600 mil estudantes de 79 países, em 2018, durante a aplicação do Pisa, o exame internacional que avalia habilidades nas disciplinas de matemática, linguagem e ciências.
O trabalho identificou que as escolhas dos jovens eram muito semelhantes às dos que responderam ao mesmo levantamento em 2000. Entre os meninos, as profissões mais elencadas foram as de engenheiro, administrador de empresas, médico, profissional de TI (tecnologia da informação), atleta, professor, policial, mecânico de veículos, advogado e arquiteto. As meninas sonham, principalmente, em ser administradoras de empresas, advogadas, enfermeiras ou parteiras, psicólogas, designers, veterinárias, policiais e arquitetas.
O levantamento não informou dados específicos de cada país, somente uma média global. No Brasil, onde 11 mil alunos participaram do Pisa, 70% das meninas e 60% dos meninos desejam as mesmas carreiras citadas acima.
Muitas das ocupações correm risco por causa da crescente automação das atividades humanas. “No total, 39% dos trabalhos citados pelos participantes do Pisa, nos países da OCDE, correm o risco de serem automatizados nos próximos cinco ou 10 anos”, informa o relatório.
Habilidades
Apesar de o documento não especificar quais profissões escolhidas pelos jovens podem sofrer com a automação, levantamentos anteriores já trataram do assunto. O relatório Futuro do Emprego 2018, do Fórum Econômico Mundial, listou que advogados, contadores, mecânicos, motoristas de veículos, bancários, trabalhadores fabris, auditores, gerentes administrativos e caixas de lojas sofrerão com o avanço da inteligência artificial.
A especialista em recursos humanos Ylana Miller afirma que as escolas precisam mudar a forma de ensinar para que os jovens sejam preparados desde cedo para o ambiente profissional. “Os educadores devem focar mais em habilidades comportamentais. É importante estudar matérias tradicionais, como matemática e ciências, mas é preciso preparar os alunos para a vida, e não apenas para passar de ano”, disse. “Os profissionais precisam ter atitudes, ser resilientes, saber ouvir e compreender o outro lado. É imprescindível também que estejam sempre se atualizando sobre tudo o que acontece no mundo.”
O estudante de medicina Anderson Pedrosa Mota Júnior, 20 anos, morador de Brasília, escolheu a futura profissão por acreditar, desde criança, que sua vocação é ajudar as pessoas mais necessitadas a terem uma saúde melhor. A área de profissionais de saúde é uma das que correm menos risco, mas o avanço da tecnologia também impacta a profissão.
“As pessoas estão acessando mais informações sobre problemas de saúde. Antigamente, o médico era a fonte inicial, hoje, não. Temos que estudar mais e ficar de olho nas ocupações que estão sendo afetadas pela tecnologia e nos adaptarmos a elas, não lutar contra”, afirmou.
Quando informada de que a carreira de advogada poderia sofrer mudanças e chegar até a ser automatizada, Beatriz Silveira, 21, aluna do sétimo semestre de direito, diz sentir tristeza. “Com certeza, será prejudicial. Mesmo que o mercado esteja saturado, precisamos ainda de bons advogados. É de suma importância para a democracia brasileira a minha profissão”, afirmou, acrescentando que não pretende escolher outra carreira.
*Estagiário sob supervisão e Odail Figueiredo
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