Economia

Coronavírus abala mercados e pode derrubar crescimento econômico da China

Banco Central anuncia leilão de US$ 3 bilhões para conter volatilidade do dólar, que subiu 0,92% nesta quinta-feira (30/1) e bateu em R$ 4,26, devido ao nervosismo global. Epidemia pode cortar crescimento da China para 4%, um duro golpe para as exportações brasileiras

Correio Braziliense
postado em 31/01/2020 06:00
Moeda norte-americana está em alta no mundo todo. Para analistas, cenário pode levar BC a promover novos cortes na taxa básica de jurosO mercado financeiro enfrentou mais um dia de nervosismo com o avanço do coronavírus, que partiu da China e já chegou a 18 nações. Analistas começaram a cortar previsões para a evolução do Produto Interno Bruto (PIB) da potência asiática, enquanto autoridades restringem viagens e bloqueiam cidades, e empresas suspendem suas operações naquele país. Especialistas calculam que o ritmo de crescimento da economia chinesa deve recuar para 4% neste ano, patamar que poderia levar a uma recessão técnica — quando o PIB recua por dois trimestres consecutivos. O Brasil, como um dos principais parceiros comerciais da China, é um dos que mais sofrerá com a desaceleração, uma vez que é grande exportador de commodities para o mercado chinês, principalmente minério de ferro, soja e carne.

Mais de 20 companhias aéreas internacionais cancelaram voos para a China continental, por causa da epidemia. Multinacionais como McDonald’s e Starbucks suspenderam o funcionamento de milhares de lojas no país diante do avanço da doença. A varejista de móveis sueca Ikea decidiu fechar temporariamente todas as 30 lojas, e o Google também suspendeu as atividades nos escritórios da China, de Hong Kong e de Taiwan.

Com o cenário de nervosismo, o dólar disparou nesta quinta-feira (30/1). Na máxima do dia, a cotação, no câmbio comercial, chegou a R$ 4,27. No fechamento dos negócios, a moeda cedeu para R$ 4,26, registrando alta de 0,92%. Na tentativa de conter a volatilidade, o Banco Central anunciou que fará nesta sexta-feira (31/1) um leilão de linha no valor de US$ 3 bilhões.

“O investidor acaba procurando alguma segurança e se afastando de países emergentes, por isso essa valorização do dólar, que não ocorre apenas perante o real. Mas, no fim do dia, tivemos um movimento natural de respiro. Com a tendência de alta, é normal haver falta de liquidez”, avaliou o gerente de Tesouraria do Travelex Bank, Felipe Pellegrini. Ele considera que o BC mostrou estar atento às condições do mercado. “A medida é para retardar uma tendência de alta, mas não uma ferramenta para segurar as cotações. Como há um movimento natural de busca por ativos mais seguros, acaba ficando muito difícil reverter o movimento. Então, resta retardar ou minimizar”, disse.

Juros

Analistas também já preveem que, para se antecipar a um movimento de desaceleração da economia, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, pode rasgar a ata conservadora do Comitê de Política Monetária (Copom), voltando a cortar juros na semana que vem, quando o colegiado se reúne mais uma vez. Para manter os estímulos à atividade econômica, a taxa básica da economia, a Selic, pode cair dos atuais 4,5% ao ano para 4,25%, ou até 4%, em uma medida mais agressiva.

Pellegrini considera que ainda não há motivo para pânico. “É importante ter em mente que tanto o ministro Paulo Guedes quanto o BC sinalizaram essa tendência de dólar mais alto do que estávamos acostumados. E a expectativa de corte de juros na semana que vem é grande — mais um motivo para a valorização da moeda norte-americana em relação ao real”, afirmou.

Em meio ao clima de tensão, o Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo (B3), chegou a apresentar queda de 2% no pregão desta quinta-feira (30/1), mas recuperou as perdas, acompanhando outras bolsas no exterior, e terminou o dia com variação positiva de 0,12%, em 115.528 pontos. Em Nova York, o índice S&P 500, principal indicador do desempenho das ações no mercado norte-americano, apresentou alta de 0,31%. Até a última segunda-feira, os mercados de ações do mundo inteiro somaram perdas de U$ 1,519 trilhão com a queda das cotações causada pela epidemia do coronavírus.

Lucas Carvalho, analista da Toro Investimentos, ressaltou que os investidores já haviam antecipado o movimento do pregão desta quinta-feira (30/1). “Já estava precificado, e após o anúncio da OMS, o mercado se recuperou. O pessimismo dos últimos dias estava embutido, de forma generalizada, no grande movimento de aversão ao risco nas principais operações financeiras. Agora, precisamos acompanhar o desenrolar da situação e ver o impacto real disso tudo na economia, tendo em vista que o governo chinês vem adotando uma série de estímulos”, destacou.

* Estagiária sob supervisão de Odail Figueiredo

Preço da carne dá alívio em janeiro

Apesar de ameaçar o crescimento da economia mundial e brasileira, a epidemia do coronavírus acabou produzindo um efeito favorável no bolso dos consumidores. Em janeiro, os preços da carne, que vinham subindo de forma expressiva devido ao aumento das exportações para a China, desaceleraram tanto no atacado quanto no varejo. Com isso, o Índice Geral de Preços — Mercado (IGP-M), calculado pela Fundação Getulio Vargas (FGV), subiu 0,48% neste mês, bem menos do que os 2,09% registrados em dezembro. Mesmo assim, no acumulado de 12 meses, o IGP-M acumula alta de 7,81%, em comparação aos 7,30% da divulgação anterior.

O economista André Braz, responsável pelo índice, observou que as cotações das principais commodities estão em queda por causa do temor com a epidemia do coronavírus, que tende a conter a atividade econômica global e, consequentemente, diminuir a demanda por esses produtos. Segundo ele, o alívio nos preços da carne tende a continuar em fevereiro, o que, em conjunto com os valores contidos das demais commodities, pode possibilitar uma deflação no IGP-M no mês que vem.

O Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA), um dos três indicadores que compõem o IGP-M, passou de 2,84% no último mês de 2019 para 0,50% na primeira leitura deste ano, captando queda no valor das proteínas, tanto no campo quanto do alimento industrializado. As cotações dos bovinos, antes do abate, passaram de alta de 19,57% em dezembro para queda de 5,83% em janeiro, enquanto as aves saíram de elevação de 2% para deflação de 0,61%. Já os suínos subiram com menos ímpeto: 3,19% em janeiro, ante 9,30% em dezembro último.

De acordo com a FGV, o alívio no atacado se refletiu no orçamento das famílias. O Índice de Preços ao Consumidor (IPC), outro componente do IGP-M, também desacelerou. Em dezembro, o indicador havia subido 0,84%; neste mês, a elevação ficou em 0,52%. O principal motivo foi o alívio nos preços da carne bovina, que haviam aumentado 18,3% no mês anterior e mostraram elevação de 1,95% na pesquisa de janeiro. “Ainda há espaço para continuar desacelerando. Já tínhamos a percepção de que o choque da carne seria grande, mas temporário. Entretanto, achávamos que o alívio só viria em fevereiro, e ele começou a se manifestar ainda em janeiro”, disse Braz.

O Índice Nacional de Custos da Construção — Mercado (INCC-M), o terceiro componente do IGP-M, porém, mostrou aceleração. A alta do indicador passou de 0,14% para 0,26%, atingindo variação de 3,99% no acumulado de março de 2019 a janeiro de 2020.

Petrobras reduz preço da gasolina

A Petrobras informou que, por conta da queda do preço do petróleo no mercado internacional, vai reduzir o preço da gasolina e do diesel (S10 e S500) em 3%, assim como o diesel marítimo, em 3,1%, a partir desta sexta-feira (31/1), nas refinarias. Os outros produtos não serão alterados, segundo a estatal. De acordo com a Associação Brasileira dos Importadores de Combustível (Abicom), a redução média será de R$ 0,0552 na gasolina e de R$ 0,0655 no diesel. “A redução dos preços já era esperada, devido à queda das cotações no mercado internacional”, disse o presidente da Abicom, Sérgio Araújo. 

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