Economia

Mercado espera mais uma redução de juros

Expectativa da maioria dos analistas financeiros é de que o Banco Central reduza a Selic para 4% ao ano na reunião desta semana, estabelecendo nova mínima histórica. Previsão de inflação abaixo da meta e ritmo ainda lento da economia sustentam projeção

Correio Braziliense
postado em 04/02/2020 04:07
De acordo com Roberto Padovani, do Banco Votorantim, mesmo com as incertezas na economia global e a volatilidade do dólar, expectativas de inflação estão controladas


A primeira reunião do ano do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) começa hoje. E, se depender das projeções predominantes no mercado financeiro, vai terminar, amanhã, com o anúncio de um novo corte da taxa básica de juros (Selic). A expectativa é de que a taxa caia de 4,5% para 4,25% ao ano, visto que a inflação continua sob controle e a recuperação da economia ainda caminha a passos lentos.

Caso chegue a 4,25%, a Selic marcará nova mínima histórica. Segundo o Boletim Focus, no qual o BC reúne as expectativas de analistas do mercado, ela deve permanecer nesse patamar, pelo menos, até o fim deste ano. Especialistas dizem que, como a expectativa da inflação de 2020 caiu para 3,4% no Boletim Focus de ontem — muito abaixo da meta oficial de 4% —, há espaço para um novo corte de juros, medida que reduz o custo do crédito e, desse modo, incentiva o consumo e contribui com a retomada da economia brasileira.

Uma taxa de juros mais baixa pode também permitir um nível mais alto de inflação. Entretanto, nas condições atuais, isso não é considerado um problema. “Ter uma inflação abaixo da meta é um erro tão grande quanto ter uma inflação acima da meta. Significa que o juro está acima e o emprego, abaixo do que poderiam estar. Então, é possível baixar um pouco mais os juros para estimular o consumo, a produção e o emprego”, explicou o economista-chefe da Quantitas Gestão de Recursos, Ivo Chermont.

Ele destacou que riscos como o choque no preço das carnes, que elevou a inflação em dezembro, e o surto do coronavírus, que fez o dólar subir nos últimos dias,  já foram absorvidos pela expectativa de inflação de 3,4%. Por isso, não devem interromper o ciclo de queda da Selic.

“A expectativa é de que haja um novo corte dos juros, a despeito das incertezas globais, porque toda a volatilidade não tem alterado o risco inflacionário. O câmbio foi pressionado e o Brasil tem passado por muitos choques de preços, mas, mesmo assim, as expectativas de inflação seguem controladas. Em janeiro, que foi um mês de muita volatilidade, elas até caíram”, acrescentou o economista-chefe do Banco Votorantim, Roberto Padovani.

Por conta do entendimento de que novo corte da Selic já é praticamente certo, a maior atenção dos analistas estará no recado que deve vir depois do anúncio oficial da nova taxa, na ata em que o comitê apresenta as razões da decisão e as perspectivas da política monetária para médio e longo prazos.

“O principal recado pode ser o de que o atual ciclo de redução da Selic chegou ao fim. Até porque o ajuste foi feito, já está dado. O novo corte de 0,25% seria um ajuste muito fino, visto que os juros de dois dígitos já ficaram para trás”, avaliou o economista-chefe da Daycoval, Rafael Cardoso. A Selic tem tido quedas sucessivas desde 2015, quando estava em 14,25%.

Contudo, também fica a expectativa de que o corte da Selic tenha algum efeito nos juros cobrados ao consumidor, que ainda são bem mais elevados que a taxa básica. O pleito foi levantado pelos representantes do setor produtivo, que querem estímulos mais fortes ao consumo e à produção.

“As taxas ainda não voltaram ao patamar pré-2014”, observou o presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Miguel Ribeiro de Oliveira. Ele disse, contudo, que não é tão simples reduzir essa distância entre a taxa básica e as taxas cobradas no mercado. “Depende do ambiente econômico. Os bancos mantêm o spread alto por conta do risco, porque a economia ainda está andando de lado, o desemprego é elevado e eles, portanto, não têm garantia de que vão receber os empréstimos de volta. Por isso, só voltaremos àquele patamar de juros quando a economia crescer de forma mais consistente”, afirmou, lembrando que as decisões da política monetária só geram impactos na economia depois de pelo menos seis meses.
 
 

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