Economia

Copom encerra ciclo de redução de juros

Comitê do Banco Central corta taxa básica para 4,25%, o nível mais baixo da história, mas avisa que decisão põe fim ao período de afrouxamento da política monetária iniciado há quase cinco anos. Selic deverá ser mantida , pelo menos, até o fim do ano

Correio Braziliense
postado em 06/02/2020 04:12
O presidente do BC, Roberto Campos Neto: para a instituição, atual estágio da economia recomenda cautela

Em decisão unânime, e já esperada pelo mercado, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) cortou a taxa básica de juros (Selic) de 4,5% para 4,25% ao ano, inaugurando uma nova mínima histórica que deve vigorar por um bom período a partir de agora. É que, no comunicado emitido após a sua primeira reunião do ano, o órgão informou que o ciclo de queda da Selic iniciado em julho de 2015 chegou ao fim.

O teor do comunicado era o que mais gerava expectativa no mercado financeiro. Os analistas explicam que havia espaço para levar a Selic para 4,25% porque a inflação prevista para este ano (3,4%) está bem abaixo do centro da meta (4%) e a economia brasileira ainda se recupera de forma lenta — sem tração, portanto, para fazer o índice de preços subir até 4%.

“O Copom reitera que a conjuntura econômica prescreve política monetária estimulativa, ou seja, com taxas de juros abaixo da taxa estrutural”, confirmou a nota distribuída após a reunião, comandada pelo presidente do BC, Roberto Campos Neto. A expectativa, portanto, é de que a redução da Selic estimule os agentes econômicos a consumir e a investir, para que o aumento de demanda pressione os preços e leve a inflação para o centro da meta. Nesse processo, o ritmo de atividade econômica tende a se acelerar.

O BC fez questão de avisar, porém, que o corte de 0,25% deve ser o último dos últimos cinco anos, período em que houve redução de 10 pontos percentuais da taxa básica de juros. “O Copom entende que o atual estágio do ciclo econômico recomenda cautela na condução da política monetária. Considerando os efeitos defasados do ciclo de afrouxamento iniciado em julho de 2015, o comitê vê como adequada a interrupção do processo de flexibilização monetária”, diz o comunicado.

É um sinal de que é preciso esperar os cortes da Selic surtirem efeito plenamente. Segundo analistas, estímulos monetários como esse levam de seis meses a um ano para impactarem a atividade econômica. “O BC acredita que, com as devidas defasagens, a economia vai reagir a esses estímulos, mas também já está mirando a inflação de 2021”, afirmou o superintendente de Políticas Macroeconômicas do Banco Santander, Maurício Oreng, explicando que o mercado já projeta uma inflação no centro da meta, que será de 3,75% em 2021, o que não justificaria novos estímulos monetários.

Projeções do mercado financeiro indicam que a taxa de 4,25% deve ser mantida nesse patamar até, pelo menos, o início do próximo ano, quando deve começar um novo ciclo de política monetária, desta vez, com viés de alta. O próprio Copom admite que a trajetória de juros deve encerrar 2020 em 4,25%, mas deve se elevar até 6% em 2021.

Perspectiva

O aumento futuro explica-se, segundo analistas, porque a perspectiva é de que o crescimento da economia ganhe força a partir do próximo ano, elevando a demanda e a inflação. “A dúvida é quando esses ajustes começarão a ser feitos”, diz Oreng. Ele aposta, porém, que a alta será gradual e deve começar no segundo trimestre de 2021. As projeções consideram que o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil cresça 2,3% neste ano e se aproxime dos 3% em 2021 — números que podem ser revisados de acordo com o cenário econômico. A epidemia do coronavírus, por exemplo, deve frear a alta do PIB de 2020.

Por isso, o Copom informou que os próximos passos da política monetária vão depender “da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação, com peso crescente para o ano-calendário de 2021”. E frisou que, diante desses riscos, é fundamental dar seguimento aos processos de ajuste fiscal e de reformas econômicas “para permitir a consolidação da queda da taxa de juros estrutural e para a recuperação sustentável da economia”.

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