Correio Braziliense
postado em 08/02/2020 04:14
Da elevação do custo de equipamentos importados, que encarece os investimentos na indústria, à alta do preço de produtos eletrônicos como celulares e computadores, a valorização do dólar afeta a economia em diversas frentes. “Os impactos mais sérios, são, sem dúvida na gasolina, nos alimentos, nos medicamentos e nos eletrônicos. Mas os picos da moeda norte-americana podem indicar também que o Brasil não se verá livre do desemprego tão cedo”, alerta o economista Cesar Bergo, sócio-consultor da Corretora OpenInvest.
O empresário, destacou Bergo, precisa de previsibilidade para investir e contratar empregados. Até a mesa do brasileiro, se a taxa de câmbio permanecer muito tempo elevada, pode ficar menos farta de alimentos básicos, como o pãozinho do dia a dia. “O trigo usado na indústria de panificação é uma commodity (mercadoria com cotação internacional). Toda a cadeia do trigo é afetada pelo dólar, assim como o agronegócio, que precisa dos fertilizantes usados em qualquer plantação. Com isso, até a alface fica mais cara. Enfim, temos que olhar com lupa o que vai acontecer daqui para frente”, disse Bergo.
Quem não abre mão de importados como azeite, bacalhau e vinho também pode sentir no bolso. Os que costumam viajar para o exterior ou comprar produtos estrangeiros lá fora sabe que, com a alta do dólar, esses gastos também sobem.
O professor do Departamento de Economia da Universidade de Brasília (UnB) José Carlos de Oliveira ressalta, porém, que a cotação da moeda norte-americana não deve permanecer no patamar atual, já que não há perspectivas de uma crise cambial. Independentemente disso, a instabilidade pode desequilibrar o orçamento dos consumidores.
“Qualquer matéria-prima eventualmente é afetada, podemos ter o trigo um pouco mais caro, o combustível, qualquer produto vindo do exterior. Quem pensa em viajar também vai pensar em inibir um pouco a viagem para não comprar dólar por agora”, afirma Oliveira. O economista, entretanto, destacou que a situação não é alarmante.
A advogada Savana Faria, 23, planejava passar as férias do início do ano com a mãe em Orlando. Na esperança de uma descompressão no câmbio, decidiu adiar a viagem, mas se surpreendeu com o atual avanço da moeda americana. “Deixei a viagem para o segundo semestre para ver se o preço melhorava e para me planejar melhor, ter tempo de ir comprando a moeda aos poucos. Mas, ao contrário do que imaginei, a cotação só vem aumentando”, contou.
Para a administradora Ana Paula Gonçalves, 42, a alta do dólar pesou nas encomendas. “Eu costumo comprar muita mercadoria americana pela internet. No fim do ano mesmo eu tinha vários planos de consumo. É um período que a gente acaba gastando um pouquinho mais, mas não consegui comprar tudo que planejava. O preço da moeda estava absurdo e tive que diminuir alguns gastos”, disse. (VB e RG)
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