Correio Braziliense
postado em 13/02/2020 06:00
São Paulo — Nos Estados Unidos, o mercado de roupas de segunda mão tem projeção de chegar a US$ 51 bilhões em vendas nos próximos cinco anos, aponta a consultoria de varejo GlobalData e a ThredUp. Se a estimativa se confirmar, o setor, atualmente com faturamento de US$ 23 bilhões, terá dobrado de tamanho. Em 2018, 64% das americanas já compraram uma peça que passou pelas mãos de outra pessoa. Dois anos antes, esse número era de 44%.No Brasil, não há estimativas sobre o faturamento de brechós e outros negócios desse segmento, mas algumas marcas têm se consolidado nos últimos anos em diferentes plataformas, como e-commerce e franquia. Dois fatores ajudaram a aumentar a procura por esse tipo de produto: mudança no perfil do consumidor e a situação da economia brasileira nos últimos anos.
As gerações Y (nascidos entre 1980 e 1995) e Z (entre 1996 e 2010) têm sido as principais alavancadoras do mercado de segunda mão. Em 2017, elas respondiam, respectivamente, por 21% e 26% do consumo nos Estados Unidos. No ano passado, essas duas faixas etárias representaram, pela ordem, 29% e 37%. A explicação é o perfil dessas pessoas, que preferem levar para casa produtos que causem menos impacto socioambiental.
No Brasil, a crença no consumo responsável também tem levado mais pessoas a buscar por produtos usados. O aumento da oferta de negócios mais profissionalizados, que em nada lembram os brechós de antigamente, tem ajudado a melhorar a oferta e o interesse de quem busca uma roupa ou um acessório.
Uma das empresas que têm investido na moda de segunda mão é a Troc. Em 2019, foram vendidas no site cerca de 80 mil peças. A plataforma coleta as roupas e os acessórios no endereço de clientes que vivem em São Paulo e Curitiba, onde fica sua sede. Nas demais cidades, o envio é feito pelos Correios.
Um dos chamarizes da Troc são as lojas dentro do site com peças de influenciadoras digitais. Mas também há uma parceria com a marca Vanish, que faz a higienização de peças brancas com manchas. O próximo passo será estabelecer um canal de captação de roupas para destiná-las a brechós. Seriam aqueles itens que não passam pela seleção da Troc porque não estão em perfeita conservação. As mercadorias recusadas chegam a 35% do total enviado pelas clientes. Seu acervo tem um perfil variado, vai de camisetas vendidas a R$ 15 a bolsas de grife de R$ 10 mil.
Luanna Toniolo, fundadora da startup, passou uma temporada de estudos com o marido nos Estados Unidos. Lá, começou a analisar outras possibilidades além da sua carreira como advogada. O casal voltou ao Brasil e passou a pesquisar os hábitos de consumo dos brasileiros para entender como poderia investir em um negócio que explora um estilo de vida ainda embrionário no país, o consumo de peças usadas.
No plano de negócios de Luanna, há dois focos: o trabalho feito junto a influenciadoras, hoje na casa das 150, e o investimento em informação sobre a importância de fazer parte da economia circular e dar vida nova a peças encostadas no guarda-roupa, evitando o desperdício de recursos naturais e o uso desnecessário de matérias-primas para a confecção de novas peças.
Ao estabelecer a relação com as influenciadoras, que vendem parte de seus acervos, a empreendedora explica que consegue atrair para a plataforma clientes que ainda não estão habituadas ao mercado de roupas usadas. “A cultura do produto de segunda mão não existe no Brasil; por isso, estamos investindo em formar esse mercado”, diz a empreendedora.
Flávio Thenório decidiu investir no segmento infantil ao criar a Arena Baby. Em sua rede de franquias, são vendidos não apenas produtos usados, mas também novos. As peças de segunda mão, captadas junto à clientela, custam de 40% a 70% menos em relação a uma roupa nova. A marca conta com 16 lojas, sendo três próprias e 13 franqueadas (três dessas ainda estão em fase de obras no ponto comercial).
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