Correio Braziliense
postado em 14/02/2020 04:05
Um dia após o ministro da Economia, Paulo Guedes, sugerir que o governo vê com bons olhos a elevação das cotações do dólar, o Banco Central (BC) interveio no mercado de câmbio para conter o nervosismo dos investidores. Após a abertura dos negócios, a moeda norte-americana chegou a superar o patamar de R$ 4,38, mas, após a autoridade monetária despejar cerca de US$ 1 bilhão no mercado, mediante leilão de 20 mil contratos de swap cambial — que equivalem à venda futura de dólares —, a divisa inverteu a tendência e terminou a sessão cotada a R$ 4,34, queda de 0,34% em relação ao fechamento de quarta-feira.
A medida surpreendeu o mercado. Segundo o economista da BlueMetrix Ativos, Renan Silva, o BC vinha mantendo uma postura mais vigilante do que atuante. “Já foi passado o recado de que o câmbio é flutuante e não há necessidade de intervenção abrupta, devido ao cenário e passado recente do Brasil”, destacou. Além disso, Renan ponderou que o câmbio elevado tem um lado positivo para o país: o fortalecimento das exportações. O setor do agronegócio, por exemplo, é um dos grandes beneficiados.
O presidente Jair Bolsonaro evitou comentar as declarações de Paulo Guedes, que criticou o período de cotações baixas do dólar comentando que “até empregada doméstica ia para a Disney”. “Pergunta para quem falou isso, eu respondo pelos meus atos”, disse Bolsonaro, ao ser questionado por jornalistas. Ele disse, porém, que, “como cidadão”, acha que o dólar está “um pouquinho alto”.
“De vez em quando eu converso com o Roberto Campos (presidente do BC). Vocês sabem que eu entendo para burro de economia, sabem disso”, ironizou. “E a economia está dando certo por causa disso, porque eu não interfiro. Por exemplo, quando acaba a reunião do Copom, quando decide (taxa de juro de) 4,25%, daí eu converso ‘Roberto, o que aconteceu?’. Depois que aconteceu. Eu, como cidadão, (acho que) está um pouquinho alto, está um pouquinho alto o dólar”, concluiu.
Para Renan Silva, do BlueMetrix, a ação do BC foi moderada. “Não é necessário, por exemplo, subir a taxa de juros e prejudicar o país. O Banco Central não quer vender as reservas de forma precipitada, porque entende que a alta do câmbio é um movimento sazonal que está atrelado ao desaquecimento da economia global”, disse.
Para o economista, o mercado ainda continua influenciado pela epidemia do coronavírus, que voltou a preocupar. O número de mortos e de pessoas contaminadas com o vírus Covid-19 aumentou drasticamente ontem na China, depois que as autoridades mudaram o método de contagem. Outra razão da sensibilidade do mercado é a possível redução do consumo global. “Há uma incerteza muito grande, porque não conseguimos medir o espectro da crise do coronavírus”, afirmou. Nesse cenário de incertezas, os investidores acabam procurando a moeda de maior credibilidade, o dólar. “Esse fenômeno da elevação de patamar do dólar não acontece só no Brasil”, observou.
Bolsa
A reviravolta do noticiário sobre o coronavírus pressionou também a Bolsa de Valores de São Paulo (B3). Principal índice do pregão, o Ibovespa fechou em queda de 0,86%, aos 115.662 pontos, após o governo chinês informar que detectou 15.152 novos casos da doença. Foram registradas 254 mortes nas últimas 24 horas somente na província de Hubei, o dobro em relação ao dia anterior. No total, o número de infectados na China passou para 59.804, e o de mortos, para 1.367. Os números contradizem declarações do ministério da saúde chinês, que, na quarta-feira, havia sugerido que a epidemia entraria em declínio a partir de abril.
Apesar do agravamento do quadro, “o mercado também vê com bons olhos a China ter mudado a maneira do diagnóstico, que vinha sido bastante contestada”, afirmou o economista da G2W investimentos Vitor Hugo Fonseca. Com maior transparência, ele acredita que o mercado não deve sofrer mais mudanças tão bruscas. “A partir do momento em que começarmos a ver uma recuperação na resolução dos casos, o mercado deve voltar a focar mais na economia.”
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