Correio Braziliense
postado em 14/02/2020 04:05

Apesar de ter fechado o dia em queda, ontem, por conta da intervenção do Banco Central, o dólar deve permanecer bem acima dos R$ 4 vistos no início do ano, que acabaram norteando o planejamento estratégico das empresas, avaliam analistas. A mudança de patamar da taxa de câmbio pode impactar positiva ou negativamente diversos setores econômicos.
De acordo com o economista Marcelo Azevedo, da Confederação Nacional da Indústria (CNI), o setor exportador, que vende seus produtos em dólar, acaba lucrando mais. “Empresas que exportam podem ganhar competitividade”, avaliou. “Os setores relacionados ao agronegócio e aos metais, como minério de ferro e aço, estão entre os favorecidos, porque são carros chefes da exportação”, explica Renan Silva, economista da BlueMetrix Ativos.
Quem faz o movimento contrário e precisa importar insumos ou peças para poder produzir ou vender no Brasil terá que pagar mais por essas compras. E essa alta pode se refletir no preço final cobrado do consumidor. A indústria farmacêutica já prevê perdas por conta da alta da taxa de câmbio. “Cerca de 95% dos nossos insumos são importados e pagos em dólar. E nós nos planejamos prevendo um dólar de no máximo R$ 4 para este ano, só que a moeda já está quase batendo em R$ 4,40. Então, isso vai afetar a rentabilidade das empresas”, afirmou o presidente-executivo do Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos (Sindusfarma), Nelson Mussolini.
Ele afirma, porém, que a alta não deve ser repassada para o consumidor, já que o preço dos remédios é controlado pelo governo e só é reajustado uma vez por ano, em abril, de acordo com os indicadores econômicos do ano anterior. “Se for para ser repassado, só em abril de 2021”, disse Mussolini. Ele acredita que, para amenizar a perda, a indústria deve postergar parte dos investimentos previstos para este ano — o que é ruim para o setor, que perde competitividade, e também para a economia, pois retarda a geração de novos empregos.
A alta da moeda norte-americana também deve encarecer os eletrônicos e os eletrodomésticos, que têm muitos componentes vindos do exterior. Por conta disso, a vendedora Alessandra Fernandes, de 19 anos, resolveu adiar os planos de trocar de celular. “Esse dólar alto afeta a todos, principalmente quem vive de trazer produtos importados para o Brasil na revenda”, disse.
Presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis e de Lubrificantes do Distrito Federal (Sindicombustíveis-DF), Paulo Tavares afirmou que o setor deveria ter sido o primeiro a sentir e repassar a alta do dólar, mas ainda não foi afetado. Tavares lembrou que a política de preços da Petrobras prevê que o preço dos combustíveis siga a cotação internacional do barril de petróleo e a variação do dólar. “Para mim, Bolsonaro está intervindo para evitar problemas com os caminhoneiros”, afirmou.
Os motoristas, porém, dizem que estão sentindo o reflexo da alta do dólar no combustível. O aposentado Martins de Oliveira, de 63 anos, se surpreendeu com o preço da gasolina quando foi abastecer. “Ontem eu passei aqui e estava em R$ 4,17 e hoje já foi para
R$ 4,41. Eu garanto que 99% dos brasileiros não estavam esperando isso”, reclamou. (MEC e RG)
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