O trabalho informal é a principal fonte de renda da população em 11 estados brasileiros, de acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O levantamento mostra que o recuo da taxa de desemprego, em 2019, foi puxado pelo aumento da informalidade, que atingiu 41,6% da força de trabalho em todo o país, alcançando 38,4 milhões de pessoas — um milhão a mais do que no ano anterior.
De acordo com a pesquisa, em 11 estados, a informalidade alcança mais de 50% da população ativa, com destaque para Maranhão e Pará, onde os índices estão acima de 60%. Outros 15 estados têm taxa de informalidade entre 30% e 50%. Pernambuco é o maior nessa faixa, com 48,8%. Somente duas unidades federativas ficaram abaixo de 30% — Santa Catarina, com 27,3%, e o Distrito Federal, onde 29,6% dos trabalhadores sobrevivem sem registro formal.
Valéria Martins, de 40 anos, trabalha há anos no estacionamento do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) vendendo quentinhas para poder complementar a renda. Ela diz que o salário de secretária que recebe em um escritório de advocacia não é suficiente para fechar as contas de casa. Casada e com seis filhos pequenos, sonha em montar uma creche e ser dona do próprio negócio. “Eu não queria ficar aqui na rua sendo informal, mas preciso muito”, disse. “As dificuldades são muitas, mas o que mais percebo são as humilhações que fazem com a gente. Pensam que, por estar na rua, a gente merece ouvir qualquer coisa.”
Na avaliação do advogado trabalhista José Alberto Couto, o crescimento da informalidade está relacionado a problemas trabalhistas e fiscais. “Os impostos são tão grande que as pessoas, realmente, preferem ficar nessa situação. A burocracia impede muito deles de abrirem o próprio negócio”, afirmou. Além disso, a informalidade prejudica a economia, pois não gera pagamento de Imposto de Renda e contribuições previdenciárias.
De acordo com o IBGE, a taxa de desemprego no Brasil recuou em nove das 27 unidades da Federação no 4º trimestre de 2019 com relação ao trimestre julho-setembro. O levantamento mostra que o índice passou de 11,8% para 11,0% no período. Na comparação com o mesmo trimestre de 2018 (11,6%), houve recuo de 0,6 pontos percentual.
Quando se considera a média anual de desempregados, o indicador caiu de 12,3%, no ano retrasado, para 11,9% em 2019. Os estados em que a situação se mostrava mais grave eram o Amapá (17,4%) e a Bahia (17,2%). As menores taxas eram as de Santa Catarina (6,1%), Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso com 8% cada um.
Tempo
De acordo com a Pnad, cerca de 2,9 milhões de brasileiros desempregados buscavam por um trabalho há dois anos ou mais no trimestre encerrado em dezembro, o que representa cerca de 25% dos que não tinham emprego. Do total de desocupados, 14,2% estavam de um a dois anos à procura de uma vaga; 44,8%, havia menos de um ano, e 16%, havia menos de um mês.
Liliane Reis de Lima, de 32 anos, está desempregada, mas a esperança de conquistar uma emprego continua alta. “Acredito que mais cedo ou mais tarde essa vaga aparecerá”, disse. “Já fiz alguns cursos on-line, e estou aberta a qualquer meio ou forma de capacitação para ver se consigo algo o mais rápido possível”, ressaltou.
Casada e com uma filha pequena, a ex-auxiliar administrativa disse que seu grande sonho, além de voltar ao mercado de trabalho, é poder retornar à casa própria. Ela passou a morar com os pais para poder cortar despesas, uma vez que a renda do marido é insuficiente para ambos. “O salário que ele recebe como encadernador não dá pra manter uma casa, e ele trabalha como motorista de aplicativo para complementar a renda”, informou Liliane.
Os trabalhadores empregados com carteira assinada eram de 74,0% do total de empregados no setor privado do país, segundo a Pnad. Depois de ficar dois anos sem trabalho mesmo com um diploma de tecnóloga em recursos humanos, Paloma Eduarda Oliveira Pereira, 22 anos, foi contratada na última quinta-feira por uma empresa de consultoria. “Depois de tanto tempo sem conseguir nada, estou com aquela sensação de que ainda não conquistei um emprego. Estou anestesiada no momento, não caiu a ficha”, disse Paloma. “Mas, só de saber que não vou precisar ficar pedindo coisas para as pessoas já é um alívio”, afirmou.
Estagiário sob supervisão de Odail Figueiredo
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