Economia

''Estamos tranquilos'', diz presidente do BC sobre alta do dólar

Questionado, Campos Neto alegou que a alta do dólar não é reflexo de uma piora da percepção de risco da economia brasileira

Correio Braziliense
postado em 18/02/2020 19:04

Questionado, Campos Neto alegou que a alta do dólar não é reflexo de uma piora da percepção de risco da economia brasileiraO presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse que a autoridade monetária está tranquila em relação à variação do dólar, que registrou mais uma alta nesta terça-feira (18) e fechou o dia a R$ 4,35. Questionado sobre o assunto na Câmara dos Deputados, Campos Neto alegou que, ao contrário do que aconteceu no passado, a alta do dólar não é reflexo de uma piora da percepção de risco da economia brasileira.

 

"A desvalorização tem vários fatores. Mas fatores que são diferentes dos vistos nos últimos movimentos de desvalorização no Brasil", começou Campos Neto, dizendo que as altas sofridas pelo dólar nos últimos anos foram consequência da piora da percepção do mercado em relação à economia brasileira. "Vinham quando havia uma percepção de que o risco-Brasil estava aumentando, quando a taxa de juros de longo prazo subia e a Bolsa caia bastante. Nesse último movimento foi o contrário. A moeda se desvalorizou um pouco mais, mas veio acompanhada de uma melhora da percepção de risco do país", afirmou o presidente do BC, lembrando que as perspectivas econômicas do Brasil hoje são diferentes porque a taxa de juros está baixa, a inflação está controlada e o Ibovespa vinha batendo máximas históricas nos últimos meses.

 

Campos Neto afirmou, então, que a alta do dólar é fruto, sobretudo, da desvalorização das commodities, mas também de um movimento de endividamento do empresariado, que estaria aproveitando os juros baixos para tomar dinheiro emprestado no Brasil para pagar suas dívidas externas. "A curva de juros caiu a tal ponto que as empresas de fora perceberam que era melhor tomar dívida local, transformar os reais em dólar e mandar a moeda à vista para liquidar a dívida em dólar lá fora. Isso gerou demanda no mercado à vista. Então, o dólar subiu. Mas isso foi gerado por uma melhora de percepção", argumentou.

 

"Então, estamos tranquilos nesse sentido", concluiu o presidente do BC, sem citar, contudo, a interferência que declarações políticas polêmicas têm surtido na cotação do dólar. Na semana passada, por exemplo, a moeda bateu R$ 4,38 depois que o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que era bom manter o dólar alto para acabar com a festa das empregadas domésticas indo à Disney.

 

Campos Neto admitiu, por sua vez, que o BC vai continuar de olho no câmbio e pode intervir no mercado quando achar que a taxa subiu demais, como fez na semana passada depois dessa fala de Guedes. "Obviamente que sempre que identificarmos um movimento de falta de liquidez, que o Brasil esteja divergindo dos seus pares ou que isso esteja começando a influenciar a percepção de inflação, o BC pode fazer uma intervenção, como atuamos recentemente", afirmou, sem deixar de lembrar, como já fez nas últimas semanas, de que o Brasil vive um regime de câmbio flutuante atualmente.  

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