Correio Braziliense
postado em 20/02/2020 04:05
Qualquer empresa que opere a tecnologia 5G pode roubar informações do Brasil, inclusive a chinesa Huawei. Para evitar isso, o país precisa de um órgão “preferencialmente sob controle do governo”, que possa integrar o sistema e promover auditoria e fiscalização a fim de evitar espionagem. As afirmações são do general Guido Amin Naves, comandante de Defesa Cibernética do Exército, que participou, ontem, de debate promovido pelo Instituto Legislativo Brasileiro (ILB) sobre vantagens e riscos da implementação do 5G.A discussão ganhou relevância uma vez que o edital para leilão do 5G no Brasil está em consulta pública, em um contexto em que a Huawei é uma das maiores fornecedoras de infraestrutura para implementação da nova tecnologia e os Estados Unidos subiram o tom contra a gigante chinesa, a quem acusam de espionagem. O general lembrou que a China é o maior parceiro comercial, um país amigo, assim como os EUA. “Qualquer empresa que esteja fornecendo hardware ou operando o 5G tem condições de executar uma ação adversa como espionagem. O que nós temos que fazer é tomar as medidas cabíveis para nos opormos a isso”, destacou.
Para o militar, tais medidas passam por “restringir a participação de empresas que sejam controladas por qualquer governo estrangeiro e tomar medidas de represália severas em caso de alguma ação intencional e espúria ao interesse do país”. Uma solução, segundo o general, seria a criação de “uma grande integradora nacional” que possa controlar o tráfego de informações.
“Demoramos para nos dar conta de que já ocorreram ações hostis aos interesses brasileiros. Temos que criar mecanismos de defesa para estarmos aptos a evitar essas coisas. Agora, eu acho que isso não é razão para bloquear ou banir essa ou aquela empresa, porque qualquer outra pode fazer a mesma coisa. Nós é que temos que nos preparar”, disse.
Ataques
O especialista em segurança cibernética destacou que a questão é muito complexa. “O território brasileiro é uma das maiores frentes de ataque aos Estados Unidos. Isso não quer dizer que é o Estado que está atacando. Essa discussão é tão complexa que a ONU (Organizações das Nações Unidas) aprovou uma resolução e só conseguiu dizer o seguinte: a identificação de territorialidade de um país no direcionamento de ataque cibernético a outro país não é aspecto suficiente para que se responsabilize aquele Estado. E isso faz todo o sentido”, destacou.
Guilherme Pinheiro, advogado e professor do Instituto de Direito Público (IDP), assinalou que o debate sobre a Huawei ocorre porque ela oferece equipamentos por 40% do preço das demais. “Os grandes países não conseguem impedir a hegemonia porque a infraestrutura da Huawei é muito mais barata. A empresa tem subsídio de centenas de milhões de dólares por ano. É uma questão econômica muito forte. As operadoras querem pagar menos”, avaliou.
O sociólogo e pesquisador do tema Paulo Delgado alertou que apenas cinco empresas controlam integralmente a infraestrutura de 5G. “Por isso, os EUA estão nervosos. Como saíram atrás, agora querem comprar a Nokia (finlandesa) ou a Ericsson (sueca)”, disse. (SK)
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