Economia

Medida do BC pode ampliar o crédito

Correio Braziliense
postado em 21/02/2020 04:15
Para Gonçalves, bancos vão definir destino dos recursos, mas nem tudo pode ser convertido em empréstimos


O Banco Central (BC) anunciou ontem mudanças em duas regras que devem injetar R$ 135 bilhões na economia, se as instituições financeiras tiverem interesse em ampliar a oferta de crédito. As duas medidas diminuem o volume obrigatório de reservas prudenciais dos bancos que, consequentemente, terão custos operações menores e mais recursos disponíveis para conceder empréstimos e financiamentos.

Primeiro, o BC reduziu de 31% para 25% a alíquota do recolhimento compulsório dos depósitos a prazo, liberando R$ 49 bilhões a partir de 16 de março. A outra medida diminuiu os valores dos ativos das reservas adicionais para operações de crédito, o Indicador de Liquidez de Curto Prazo (LCR, na sigla em inglês), uma das regras do acordo de Basileia 3. O tamanho dessa reserva passará de 21,6% para 18% e, com isso, mais R$ 86 bilhões engordarão o caixa das instituições financeiras a partir de 2 de março.

Apesar dos sinais de enfraquecimento da economia, e do expressivo volume de recursos liberado, o diretor de Política Monetária do BC, Bruno Serra, afirmou que as novas regras são mudanças estruturais e não estão relacionadas com a piora na atividade. Segundo ele, é possível que o aumento de liquidez não seja totalmente absorvido pelo mercado, uma vez que a demanda por crédito está fraca. “As medidas têm o objetivo de aumentar a eficiência do sistema financeiro e melhorar a administração dos recursos”, resumiu.

A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) elogiou a iniciativa do BC. “A medida é importante, pois corrige distorções que impediam maior avanço da concessão de crédito. Elimina também a redundância antes existente, entre os limites de compulsórios e o LCR”, informou a entidade.

Solange Srour, economista-chefe da ARX Investimentos, e o consultor e ex-economista-chefe da Febraban, Roberto Luis Troster, consideraram as medidas positivas, porque barateiam o custo dos bancos, além de liberar um volume de dinheiro considerável que pode irrigar a economia. “O Brasil é um dos únicos países que tem compulsório. Essa é uma jabuticaba que está sendo desmontada gradualmente”, avaliou Srour. “É uma medida oportuna”, afirmou Troster.

Para o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco Lima Gonçalves, os efeitos das novas medidas devem demorar a aparecer. “É natural que caiba aos bancos a decisão sobre o destino destes recursos, logo, não necessariamente serão convertidos em maior oferta de crédito”, destacou.

R$ 15 bi para safra agrícola
O Banco do Brasil liberou R$ 15 bilhões para o pré-custeio da safra agrícola de 2020/2021. A quantia é 47% maior do que a disponibilizada para a safra de 2019/2020. De acordo com o presidente do Banco do Brasil, Rubem Novaes, com a liberação dos recursos, os produtores terão melhores condições para financiar suas atividades, estimulando a economia do país. “O BB é hoje responsável por 55,4% de todo o crédito destinado ao setor”, frisou. As operações do pré-custeio podem ser contratadas com recursos controlados, com juros a partir de 6% ao ano e, alternativamente, com recursos não controlados (LCA), com taxas a partir de 6,1%.Com o crédito, os produtores rurais podem comprar insumos antecipadamente, como sementes, fertilizantes e defensivos, além de terem a oportunidade de negociar a preços mais baixos com fornecedores.


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