Correio Braziliense
postado em 21/02/2020 04:15
A greve dos petroleiros não tem qualquer relação com o preço dos combustíveis, disse ontem o presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, ao comentar os resultados financeiros da estatal, que registrou lucro recorde de R$ 40,1 bilhões em 2019. “A gasolina subiu simplesmente porque os preços internacionais convertidos em reais subiram”, explicou. O executivo também garantiu que a companhia está preparada para enfrentar uma longa paralisação dos funcionários, sem que haja risco de desabastecimento. A greve deve ter um desfecho hoje, em audiência de conciliação marcada pelo Tribunal Superior do Trabalho (TST). “Não houve perda de uma gota de produção. Além disso, temos estoques, existem importadores, o mercado é aberto”, justificou.
O diretor de Relacionamento Institucional da Petrobras, Roberto Ardenghy, explicou que, no momento em que a greve foi anunciada, a empresa colocou em ação os planos de contingência. “Eles se mostraram bem-sucedidos. Mantivemos os níveis de produção, transporte e refino, e o mercado abastecido”, ressaltou. Ardenghy destacou que a empresa participará da audiência pública de conciliação, com a condição do retorno dos funcionários. Estamos coletando informações de nossas unidades onde houve paralisação para ver se todos retornaram ao trabalho”, disse.
O diretor afirmou que a expectativa sobre a conciliação é positiva. “Para os funcionários da Ansa (Araucária Nitrogenados S.A., no Paraná, empresa fechada pela companhia e cuja demissão em massa de funcionários provocou a greve) oferecemos um pacote bem competitivo em termos de desligamento”, justificou. “Remuneração reforçada, programa de requalificação, assistência médica por dois anos. Por isso, não esperamos retorno da greve”, afirmou. Se a negociação falhar, contudo, Ardenghy assinalou que a empresa retomará o plano de contingência, “sem impacto na produção e sem justificativa para aumento de preço”.
Refinarias
A venda de oito das 13 refinarias da Petrobras é parte do plano de desinvestimentos da companhia e também alvo dos protestos na greve dos petroleiros. Segundo Castello Branco, a expectativa é fechar negócio logo. “Espero assinar acordos de compra e venda este ano e concluir as vendas em 2021”, assinalou.
Ao comentar o lucro recorde da Petrobras em 2019, o presidente da empresa disse que a contribuição da companhia para o Brasil foi de um valor seis vezes maior. “A Petrobras é a maior contribuinte do país, de longe. No ano passado, foram R$ 246 bilhões para os governos. Se a Petrobras for dirigida de forma responsável, contribui para a sociedade, porque esse montante vai financiar educação, investimento em saneamento básico, segurança pública, saúde, todos os fins que o Estado deve dar.”
O executivo destacou que a epidemia de coronavírus não afetou as exportações da Petrobras. “Janeiro foi mês recorde de exportações, fevereiro, até onde sei, não houve redução significativa. Está indo bem”, disse. Ele admitiu, no entanto, que, apesar de não ter impacto na quantidade, influenciou no preço do petróleo. “Isso vai se refletir no resultado do primeiro trimestre de 2020”, estimou.
A China é grande importadora de commodities e sempre será mercado importante para a Petrobras, reconheceu Castello Branco. “Mas não podemos ficar dependentes de um único mercado. Por isso, a área de refino tem procurado melhorar seus esforços de exportação, marketing dos produtos, para oferecer nossos óleos mais valorizados no mercado internacional. O combustível marítimo tem sido vendido com spread bem bom”, comentou.
Questionado, o presidente da Petrobras não antecipou nada sobre a oferta de ações (IPO) da BR Distribuidora. “Teremos novidades na próxima semana”, disse, apenas. Sobre a mudança no Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) dos combustíveis, discutida pelo governo, Castello Branco também foi evasivo. “A Petrobras é uma empresa, não fazemos políticas, nosso papel é vender combustíveis nas refinarias e seguimos a paridade de preços internacionais”, rebateu.
Dívida
A dívida da Petrobras segue alarmante: US$ 87 bilhões. “A dificuldade de diminuir a dívida é porque ela ficou gigantesca. No ano passado, pagamos US$ 24 bilhões. Mas decidimos aumentar os investimentos”, justificou Castello Branco. Segundo ele, a estatal investia pouco, US$ 500 milhões em produção de petróleo e elevou o montante para US$ 2,5 bilhões anuais. “Precisamos manter o ritmo de produção para garantir o futuro da companhia. Nosso desafio é reduzir a dívida com melhora da empresa. É difícil”, assinalou.
Em 2019, a empresa investiu US$ 27 bilhões e os desinvestimentos somaram US$ 16,2 bilhões. “Se não tivéssemos desinvestido não teríamos dinheiro para para disputar o leilão da cessão onerosa. Estamos escolhendo os melhores ativos. Não é downsize (diminuir), mas smartsize (ficando com um tamanho inteligente)”, analisou.
Castello Branco acrescentou que acredita ser possível vender a participação da Petrobras na Braskem até o fim deste ano. “Tratamos com a Odebrecht e a ideia é transformar as ações preferenciais em ordinárias, com direito a voto, listar no novo mercado e utilizar o mercado de capitais para sair da empresa”, disse.
A Petrobras é a maior contribuinte do país. No ano passado, foram R$ 246 bilhões. Se a empresa for dirigida de forma responsável, contribui para a sociedade, porque esse montante vai financiar educação, saneamento básico, segurança pública, saúde.
Roberto Castelo Branco, presidente da Petrobras, ao comentar o lucro de R$ 40 bilhões em 2019
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