Economia

Nervosismo leva dólar a bater novo recorde

Moeda norte-americana chega a ser negociada a R$ 4,40, mas cede no fim do dia e fecha a R$ 4,39. Efeitos da epidemia de coronavírus na economia global continuam ditando ritmo dos mercados. Bolsa tem baixa na véspera do feriado

Correio Braziliense
postado em 22/02/2020 04:05

Diante da cautela no mercado externo, com os investidores atentos aos impactos da epidemia de coronavírus, o dólar voltou a registrar alta e fechou ontem cotado a R$ 4,393 para venda, no câmbio comercial. Foi o quarto recorde seguido de fechamento na semana. Durante o dia, no entanto, a moeda norte-americana chegou a ser negociada por R$ 4,406. Além do cenário desfavorável, a cotação também vem refletindo os juros em mínimas históricas no Brasil. Entre as divisas de 33 países emergentes, o real é a moeda que mais tem perdido valor diante do dólar.

O dólar chegou a operar em queda, ontem, mas recuperou perdas e se estabilizou, terminando o dia em alta de 0,03%, praticamente estável em relação à véspera. A virada se deu após a divulgação do Índice de Gerentes de Compras (PMI, na sigla em inglês) dos Estados Unidos, que mostraram enfraquecimento da economia do país. O indicador caiu de 53,3 pontos, em janeiro, para 49,6 pontos em fevereiro, indicando queda na demanda interna. Os dados de atividade industrial no Japão e de exportações na Coreia do Sul também ampliaram a preocupação com a desaceleração econômica causada pelo coronavírus na economia global, que vem prejudicando as exportações brasileiras (veja matéria abaixo).

O economista da G2W Investimentos Vitor Hugo Fonseca leva em consideração a dificuldade de precificar os impactos do coronavírus na economia global. “A Apple começou anunciando que não ia conseguir entregar os resultados esperados no primeiro trimestre. Ontem (quinta-feira) vimos a P&G também se manifestar no mesmo sentido, e o mercado começou a perceber e ouvir as empresas, já que ainda não temos um impacto geral. Os casos registrados fora da China entram como um temor”, ressalta.

O número de casos da doença causada pelo vírus subiu ontem para 75.567 na China, 517 a mais do que no último levantamento, e foram registradas 2.239 mortes. A Coreia do Sul informou o diagnóstico de mais de 200 casos no país, e também foi confirmado o primeiro caso da doença em Israel.

Os analistas alertam que o real pode ter maior depreciação na volta do feriado de carnaval, a depender das notícias do cenário externo. Para Vitor Hugo Fonseca, a possibilidade de uma nova intervenção do Banco Central é baixa, se a moeda brasileira seguir a tendência dos emergentes. “Já declararam que não vão entrar. A última intervenção foi uma política mais direcionada, provavelmente, porque o presidente Bolsonaro leva em conta a popularidade que foi afetada com aquele fala do Guedes sobre as domésticas. Mas, economicamente, o governo não vem se mostrado atuante no câmbio, porque a inflação, até agora, está controlada”, avaliou.

Com os investidores cautelosos pelo feriado, o Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo (B3), registrou queda de 0,79%, fechando em 113.681 pontos. A bolsa só voltará às negociações na quarta-feira de cinzas, a partir das 13h. Para não serem pegos de surpresa com notícias do cenário internacional enquanto não podem mexer em suas carteiras, muitos investidores optaram por zerar posições, o que acentuou a baixa. Os mercados do exterior continuarão operando, o que deve levar a um movimento de compensação de defasagem, se ocorrer. “Os investidores fizeram um hedge, que é diminuir exposição durante o período em que a bolsa brasileira estará fechada”, explicou João Freitas, analista da Toro Investimentos. “O desenvolvimento do coronavírus, melhora ou piora, vai ditar abertura na quarta-feira”, previu.

A taxa básica de juros na mínima histórica de 4,25% ao ano também contribui para a saída de investidores estrangeiros e a alta do dólar. Na movimentação chamada de carry trade, o investidor tem ganho com a diferença entre câmbio e juros. Isso faz com que ele tire suas aplicações de países com juros menores, em busca de ganhos mais elevados. “Grande parte da saída de recursos ocorre por causa desse diferencial. Até fazer operações com peso no México vem causando essa saída do investidor que busca outras formas de sacar esse dinheiro”, disse Freitas.

* Estagiária sob supervisão de Odail Figueiredo

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