Correio Braziliense
postado em 25/02/2020 04:16
O aumento no número de casos do novo coronavírus na Europa e na Ásia provocou pânico nos mercados internacionais e derrubou as bolsas em todo o mundo. O clima mais tenso foi resultado de uma perspectiva de desaceleração mais aguda da economia global devido à retração generalizada não apenas da China, onde foi detectado pela primeira vez o Covid19, nome científico do novo coronavírus. Para piorar, a Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou para o risco de pandemia em vários países.
Na Itália, país europeu onde foi registrado o maior número de ocorrências, a bolsa de Milão escorregou mais de 5%. A terceira economia da União Europeia confirmou mais de 210 infectados e sete mortes. As autoridades italianas anunciaram o fechamento de escolas, museus e o cancelamento de eventos esportivos e culturais nas regiões do Vêneto e da Lombardia. A projeção dos economistas é de que o Produto Interno Bruto (PIB) daquele país deve encolher entre 0,5% e 1% este ano, em função da doença. O Banco Central da China anunciou que vai flexibilizar a política monetária para injetar mais dinheiro no mercado, em uma tentativa de encorajar o crédito e auxiliar a economia do país a se fortalecer, em meio aos impactos da epidemia.
A bolsa de Frankfurt, na Alemanha, registrou queda de 4%, e, na França, a bolsa de Paris recuou 3,94%. Em Nova York, a Nasdaq, a bolsa das empresas de tecnologia, encerrou o pregão com perda de 3,71%. O Índice Dow Jones teve retração de 3,56%. No Brasil, como a Bolsa de Valores de São Paulo (B3) está fechada devido ao feriado de carnaval, a tensão é maior em relação à reabertura, na tarde de amanhã. Entre os operadores, o acionamento do circuit breaker não é descartado.
Contágio
O clima entre os operadores em Nova York é de pânico, especialmente depois de uma das maiores instituições financeiras norte-americanas, o Goldman Sachs, reduzir de 1,4% para 1,2% a previsão de crescimento do PIB dos Estados Unidos, de acordo com o diretor da corretora coreana Mirae Asset, Pablo Spyer. Na Coreia do Sul, um caso de contágio levou à paralisação da fábrica da Samsung, uma das maiores empresas daquele país. Spyer observou que o episódio é apenas a ponta do iceberg, porque todos os lugares por onde a pessoa infectada passou e todos aqueles tiveram contato com ele serão isolados.
O clima de tensão acabou se refletindo no Volatility Index (VIX), que disparou 46% ontem em Chicago (EUA), para US$ 25,03, nova máxima em 12 meses. Esse indicador é conhecido como índice do medo, porque mede a expectativa de volatilidade do mercado de ações implícita nos contratos de opções do S&P 500.
“A situação agora é de medo, porque está caindo a ficha de que o impacto do vírus será muito maior do que estava sendo previsto. Esse estresse está começando a ficar mais evidente”, disse Spyer. Apesar do clima de alarmismo, ele lembrou que as bolsas vinham registrando máximas históricas, inclusive no Brasil e, de certa forma, é normal algumas quedas para a realização de ganhos. Nem tudo é notícia ruim, os primeiros indicadores futuros mostram alta na bolsa de Nova York.
As operações com papéis de empresas brasileiras no mercado norte-americano, antecipam o que pode acontecer no Brasil. Ontem, o Fundo EWZ, que “replica” as ações do Índice Bovespa lá fora, caiu 5%. Os papéis de companhias exportadoras desabaram, registrando quedas maiores do que as das bolsas norte-americanas. Os ADRs (American Depositary Receipts) da Vale recuaram 7,62%. Os da Petrobras caíram 6,95%(ON) e 7,64% (PN). “Precisamos esperar para ver como o mercado vai se comportar nesta terça-feira. Se cair, podemos ter circuit breaker”, alertou Spyer.
Na avaliação do economista-chefe da INVX Global, Eduardo Velho, ainda é cedo para saber exatamente o impacto do novo coronavírus na economia global, mas o risco não pode ser ignorado daqui para frente e, certamente, vai afetar o Brasil, direta ou indiretamente. “Esse fator está predominando a cada dia que passa, e é o principal motivo para o novo movimento de valorização do dólar em relação às moedas de países emergentes”, explicou. Para Velho, o Banco Central não vai deixar a divisa norte-americana encostar nos R$ 5, apesar de a equipe econômica e o ministro da Economia, Paulo Guedes, darem sinais de que preferem um dólar mais valorizado.
Em meio ao clima de pânico das bolsas, as cotações do ouro atingiram o maior valor em sete anos e fecharam a US$ 1.676,60 por onça-troy ( 31,1 gramas). Os preços do petróleo desabaram. O barril do óleo tipo Brent chegou a cair 5% ao longo do dia, mas fechou na bolsa londrina com queda de 3,76%, a US$ 56,30. “O dia foi de forte estresse nos mercados internacionais. O avanço do novo coronavírus na Itália e no Irã mostra que a doença já não está mais circunscrita aos limites da China. E a avaliação é de que, se essa propagação crescer, os efeitos na economia global podem ser catastróficos”, afirmou o economista-chefe da Necton Investimentos, André Perfeito.
No entender de Perfeito, como o Brasil é uma economia “relativamente fechada”, outros países tendem a sofrer mais com maior desaceleração do comércio global devido à desaceleração da China ou dos EUA, os dois maiores parceiros comerciais do Brasil. “Muito provavelmente, o real irá se desvalorizar mais ainda na quarta-feira e isso não é exatamente uma má notícia para os exportadores brasileiros, pelo contrário”, destacou.
- Para evitar o pior
O circuit breaker é um mecanismo de defesa da bolsa contra uma forte volatilidade. Quando a queda atinge 10% em relação ao dia anterior, o pregão é interrompido por 30 minutos. Se a queda continua e chega a 15%, há uma nova paralisação, de uma hora. Se, com o pregão retomado, a baixa chega a 20%, há nova interrupção, desta vez por tempo indeterminado. O mecanismo foi utilizado pela última vez em 18 de maio de 2017, quando houve o vazamento da gravação feita pelo empresário Joesley Batista, um dos donos da JBS, com o então presidente Michel Temer.
- No vermelho
Aumento de casos do novo coronavírus contamina mercados internacionais enquanto bolsa brasileira (B3) pemanece fechada
Bolsa Variação no dia (em %)
Milão -5,43
Madri -4,07
Frankfurt -4,01
Paris -3,94
Seul -3,90
Nova York — Nasdaq -3,71
Nova York — Dow Jones -3,56
Nova York — S&P500 -3,35
Lisboa - 3,53
Londres -3,34
Sidney -2,25
Hong Kong -1,79
Xangai -1,31
Tóquio -0,39
Fontes: AFP, Investcom e ADVFN
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