Economia

Bolsa reabre hoje sob forte pressão de baixa

Mercados voltam a sofrer fortes quedas reagindo à propagação do coronavírus na Europa. B3, que ficou fechada no carnaval, deve sentir impacto, reforçado pela confirmação do primeiro caso no Brasil

Correio Braziliense
postado em 26/02/2020 04:04
Operadores em Nova York observam queda dos índices: epidemia deve frear atividade econômica global

O Brasil pode esperar por uma grande ressaca no mercado nesta quarta-feira de cinzas. Enquanto o país caía na folia do carnaval, com pregão fechado durante o feriado, os mercados mundiais desabavam com força por conta do avanço do coronavírus. Ainda que a tendência de baixa das principais bolsas tenham desacelerado ontem, em relação ao mergulho da véspera, na Bolsa de Valores de São Paulo (B3) os ativos vão sentir a pressão de dois dias de retração nos preços. Além disso, a confirmação do primeiro caso de contaminação no Brasil deve frear ainda mais o ânimo dos investidores. Os especialistas apostam em queda forte do Ibovespa, principal índice de lucratividade da B3. Os mais pessimistas temem que seja até necessário acionar o circuit breaker, mecanismo de parada estratégica para controlar a volatilidade quando o tombo atinge 10% ou mais.

Na sexta-feira, o Ibovespa fechou em 113.681 pontos com queda de 0,79%. Alguns veem o índice nos 80 mil pontos. Ontem, as principais bolsas mundiais tiveram nova rodada de baixas, após as fortes perdas registradas na segunda-feira (veja quadro). Em Nova York, mercado mais diretamente ligado ao brasileiro, houve retração acentuada dos índices Dow Jones (-3,15%),  S&P 500 (-3,03%) e Nasdaq (-2,77%). Também ocorreram baixas significativas em Tóquio (3,34%), Londres (1,94%),  Frankfurt (1,88%) e Milão (1,44%). Apenas na segunda-feira, as empresas listadas nas bolsas da Europa perderam US$ 474 bilhões (quase R$ 2 trilhões) em valor de mercado.

Os ADRs (American Depositary Receipts), que representam ações de empresas brasileiras listadas em Wall Street, dão um indicativo de como os papéis devem se comportar hoje na B3. Os da Petrobras fecharam em queda de 1,99% (ante 7% na véspera), os da Vale, caíram 2,37%, e os da Oi, 4,27%. Papéis de bancos, como Itaú e Bradesco, também recuaram. O EWZ (iShares MSCI Brazil), fundo de índices (ETF) que replica as variações dos preços das ações mais negociadas na bolsa brasileira, caiu 1,41% ontem, depois de ter recuado 4,99% na segunda-feira.

Desespero


Nos Estados Unidos, apesar das fortes quedas em Wall Street, o Índice do Pânico Americano (Arms Index) aponta que, mesmo com o mercado afundando por dois dias, não há movimento de desespero. Baseado em volume negociado, o índice mostra que apareceram compradores nesses níveis baixos de preço. Além disso, o diretor do Conselho Econômico Nacional da Casa Branca, Larry Kudlow, disse que o coronavírus está contido nos Estados Unidos e, por isso, não vê possibilidade de impactos na cadeia produtiva. “O coronavírus é tragédia humana, mas não podemos reagir exageradamente. O vírus ainda não provocou interrupções em fornecimento da cadeia produtiva do país. Os Estados Unidos podem lidar com o problema de suprimentos quando chegar a hora”, afirmou.

O assessor da Casa Branca também disse que não vê nenhum movimento do Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) para cortes de juros em uma resposta ao pânico do coronavírus. No banco central norte-americano, tanto o presidente, Jerome Powell, quanto vice-presidente Richard Clarida dizem que “ainda é cedo para medir o estrago do surto de coronavírus e se pronunciar”.

Descontrole

O descontrole da epidemia de coronavírus deve provocar queda mais acentuada da economia global, segundo Pedro Paulo Silveira, economista-chefe da Nova Futura. “O mercado está remarcando preços em decorrência do alastramento da doença pela Europa. Não foi o número de vítimas que derrubou as bolsas, mas o descontrole sobre a epidemia”, avaliou. Para ele, o Ibovespa vai sentir o baque hoje. “Em relação ao fechamento de sexta-feira, deve cair 9%, acompanhando a queda do fundo EWZ, de 7,5%”, previu.

O economista-chefe do Banco BV, Roberto Padovani, explicou que todos os ativos terão correção de preços nesta quarta-feira. “Hoje (ontem), o dia está mais calmo, o que pode significar uma acomodação. Mas, como ficamos desconectados dois dias, é natural a bolsa brasileira refletir as informações de fora e se ajustar”, destacou. O dólar deve disparar, encostando em R$ 4,50.

Para o especialista, o efeito do coronavírus no mercado tem sido mais socioeconômico do que de saúde pública. “A epidemia paralisou a China por um mês. Agora, está dando pinta de que pode parar a Europa. Quando afeta duas economias importantes, a repercussão é muito grande no crescimento econômico global, nas taxas de juros, nos ativos de risco”, assinalou. “Mesmo que seja um choque temporário — não deve comprometer o ano como um todo —, afeta as dinâmicas de preços”, acrescentou.

O professor Armando Castelar, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), alertou que a bolsa paulista pode ter de acionar o circuit breaker. “Como houve desaceleração das quedas hoje (ontem), pode ser que haja uma recuperação das principais bolsas amanhã (hoje). Se isso ocorrer, acho improvável o circuit breaker. Agora, se as bolsas mundiais continuarem caindo, talvez seja necessário acionar o mecanismo”, destacou.

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