Quem usa o cartão de crédito no exterior vai poder calcular com mais precisão o custo das compras internacionais a partir da próxima semana. É que, neste domingo, 1º de março, entra em vigor uma norma do Banco Central (BC) que muda a forma de cobrança dessas transações. Os cartões passam a ser obrigados a usar a cotação do dólar do dia da compra — e não mais do dia de vencimento da fatura — para converter o valor das compras para o real.
A mudança pretende dar mais previsibilidade aos consumidores que usam o cartão no exterior. Hoje, o cliente só sabe quando vai de fato pagar pelas compras no dia do pagamento da fatura. Quem aproveitou as férias de janeiro para fazer uma viagem internacional, por exemplo, provavelmente teve uma surpresa desagradável quando recebeu a fatura deste mês. Afinal, viajou quando o dólar estava cotado a cerca de R$ 4,20, mas terá que converter todas as compras feitas nesse período por um dólar de R$ 4,44 se a fatura vencer nesta semana.
Esse consumidor ainda poderia ter que pagar um resquício da diferença no próximo mês: como a fatura fecha 10 dias antes do prazo de pagamento, os cartões usam o dólar do dia de fechamento para mandar a conta do consumidor, mas cobram ou abatem a variação da moeda ocorrida nos dias até a data do pagamento.
“Os gastos feitos em moeda estrangeira nos cartões de crédito internacionais terão seu valor fixado em reais pela taxa de conversão vigente no dia de cada gasto realizado. Dessa forma, o cliente ficará sabendo, já no dia seguinte, quanto vai desembolsar em reais, eliminando a necessidade de eventual ajuste na fatura subsequente. A medida aumenta a previsibilidade para os clientes em relação ao valor a ser pago, evitando o efeito da variação da cotação da moeda estrangeira entre o dia do gasto e o dia de pagamento da fatura”, explicou o Banco Central, quando emitiu a nova norma, por meio da Circular nº 3.918, de novembro de 2018.
Na época, a autoridade monetária deu um prazo de 15 meses para os emissores de cartão se adaptarem à nova regra. Nesse período, só a Caixa Econômica Federal ofereceu a possibilidade de o cliente “segurar” o dólar do dia da compra para não ser surpreendido pela cotação do dia do pagamento da fatura.
Variações
“O valor que você vai pagar de fato pode aumentar 5%, 10% hoje em dia”, confirmou o educador financeiro Jônatas Bueno, observando que essas variações são sentidas sobretudo em momentos de volatilidade do dólar, como o atual. Ele classificou a medida como positiva. “Hoje, você faz uma compra e torce para o dólar não subir até o dia da fatura. Agora, poderá avaliar a cotação do dólar para decidir o dia de fazer a compra. Vai funcionar da mesma forma que acontece com as compras domésticas: você avalia se está caro ou barato antes de fechar negócio”, disse Bueno. Ele explicou que será possível fazer esse cálculo nas viagens internacionais e, sobretudo, nas compras on-line realizadas em sites estrangeiros.Para facilitar essa avaliação, o Banco Central ainda determinou que os cartões devem informar o valor da cotação diária do dólar na fatura e também por meio de seus canais de atendimento. Os bancos prometem informar a taxa diariamente por meio dos sites e aplicativos. É importante ficar atento a essa taxa, pois ela não é a mesma do dólar comercial. Os bancos usam a média da cotação diária (o chamado dólar Ptax, que é calculado pelo Banco Central) para fazer a conversão do valor das compras para o real, e acrescentam a esse montante o custo operacional da transação, o chamado spread.
Cai estimativa de crescimento
O avanço do coronavírus pelo mundo fez o mercado financeiro rebaixar novamente a projeção de crescimento da economia brasileira para 2020. O Boletim Focus desta semana, no qual o Banco Central reúne as previsões de uma centena de analistas, explica que a perspectiva de alta do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil neste ano, que já foi de 2,5%, agora é de apenas 2,2%.A perspectiva de crescimento do PIB vem sendo revista para baixo há algum tempo. Na semana passada, por exemplo, caiu de 2,30% para 2,23%. E, agora, para 2,20%. Os analistas estão preocupados com os possíveis impactos econômicos da epidemia de coronavírus, que podem segurar ainda mais o já lento ritmo de recuperação da economia brasileira.
O que tudo indica, o viés de baixa deve continuar nas próximas semanas. Afinal, os resultados divulgados nesta quarta-feira (26/2) pelo BC foram coletados antes do carnaval. Antes, portanto, do derretimento das bolsas mundiais registrado desde o início desta semana.
Impacto
“O cenário continua sendo de queda, porque, apesar de o coronavírus estar se alastrando de maneira bastante rápida, ainda não se sabe como a epidemia vai afetar a economia global”, afirmou Bruno Fernandes, professor do Departamento de Ciências Contábeis e Atuariais da Universidade de Brasília. Ele acredita que o impacto não será pequeno.“As principais economias do mundo têm passado por um processo de desaceleração, e isso reduz a demanda pelas exportações brasileiras”, acrescentou o economista da Guide Investimentos, Alejandro Ortiz, lembrando que o Brasil é um grande exportador de commodities, cujos preços já estão caindo por causa da desaceleração da economia chinesa. “Isso impacta negativamente a economia nacional, porque afeta a receita e a produção das empresas brasileiras”, explicou.
O Focus também deve precificar a recente alta do dólar nas próximas semanas. A revisão começou nesta quarta-feira (26/2), porém de forma tímida, segundo os especialistas.Os analistas ouvidos pelo BC elevaram a projeção do câmbio médio deste ano de R$ 4,10 para R$ 4,15 — valor inferior ao da atual cotação do dólar, que já subiu mais de R$ 0,40 neste ano e nesta quarta-feira (26/2) terminou o dia em R$ 4,44.
Já inflação de 2020 foi revisada para baixo, por conta da dificuldade da economia brasileira para se recuperar. A projeção do Focus, que já beirou os 3,50%, saiu de 3,22% para 3,20%, ainda mais longe do centro da meta estipulada pelo BC, que é de 4% neste ano. Mesmo assim, a projeção da taxa básica de juros (Selic) foi mantida em 4,25% ao ano.
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