Correio Braziliense
postado em 27/02/2020 04:14
O dólar acompanhou o movimento de aversão ao risco que derrubou as bolsas de valores de todo o mundo e voltou a subir no Brasil ontem. A moeda, que já havia passado o carnaval aos R$ 4,41, fechou o dia cotada a R$ 4,44 — o maior valor nominal desde a criação do Plano Real. E só não subiu mais porque o Banco Central (BC) decidiu intervir no mercado.
O Banco Central agiu para conter uma oscilação mais brusca da moeda norte-americana antes mesmo de a Bolsa de Valores de São Paulo abrir, ofertando 10 mil contratos de swap cambial, que equivalem à venda futura de dólares. A manobra ajudou a manter o dólar perto dos R$ 4,43 durante boa parte do dia. No fechamento, a moeda norte-americana cravou alta de 1,1%.
“Foi um movimento até modesto diante da queda da Bolsa e da alta dos juros. Poderia ter sido bem maior, não fosse o BC”, afirmou Thiago Salomão, analista da Rico Investimentos, indicando que o dólar deve continuar em alta hoje por conta do temor global com o coronavírus. O BC avisou que vai fazer um novo leilão extraordinário de swaps cambiais hoje pela manhã. E a oferta pode chegar ao dobro da de ontem: até 20 mil contratos.
“O BC anunciou leilões para atenuar a subida do dólar. Mesmo assim, a moeda deve engatar uma nova alta nesta quinta-feira. Afinal, o governo criou um ambiente favorável para o especulador e para o câmbio elevado. E, agora, existe um componente a mais nesse sentido”, disse o diretor executivo da NGO, Sidnei Moura Nehme.
Polêmicas
Ele explicou que a alta do dólar, que começou o ano cotado a R$ 4,01 e, desde então, subiu mais de 9%, teve início depois que o governo indicou que o novo cenário macroeconômico seria de juros baixos e câmbio alto. E se agravou com as polêmicas geradas por declarações como as do ministro da Economia, Paulo Guedes, de que era bom manter o dólar caro para acabar com a festa das empregadas domésticas na Disney. Agora, a moeda reflete o cenário externo de aversão ao risco gerado pela epidemia do coronavírus. “É um fator novo que vai exacerbar essa alta e pode levar o dólar para R$ 4,50, valor que começaria a ameaçar a inflação baixa”, afirmou Nehme.
Head de renda variável da Messem Investimentos, William Teixeira explicou que, em momentos de incerteza, os investidores preferem depositar o dinheiro em títulos estáveis, como os do governo dos Estados Unidos. Com isso, há uma saída de dólares de economias emergentes, valorizando o dólar e depreciando moedas como o real. “Nessa hora, o investidor prefere voltar para o título norte-americano, que ainda tem um juro positivo, ainda que baixo. Em outros países seguros, como Alemanha ou Japão, os juros estão zerados ou negativos”, explicou. (SK e MB)
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