Correio Braziliense
postado em 27/02/2020 13:30
A chegada do novo coronavírus ao Brasil deve afetar as projeções do crescimento do governo para baixo e piorar as projeções da dívida pública, de acordo com o secretário do Tesouro, Mansueto Almeida, caso a desaceleração da economia global seja muito acentuada. Na quarta-feira, o Ministério da Saúde confirmou o primeiro caso da doença COVID19 em um paciente em São Paulo após retornar de uma viagem de trabalho da Itália.“O coronavírus afeta a projeção de dívida porque, para ela cair, é preciso haver um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). Se o PIB mundial crescer menos, isso afetará o do Brasil e, portanto, afetará a relação dívida-PIB”, explicou Mansueto, nesta quinta-feira (27/02). Para ele, essa epidemia é um novo fenômeno de risco e, certamente, vai impactar nos preços das commodities e na expansão da economia global, porque já está vendo uma redução nas projeções de lucro das empresas.
“É preciso estarmos preparados. Antes, a extensão era incerta, mas agora temos um movimento mais difuso da doença a partir da Europa. É preciso ver como será essa evolução. O mundo todo está observando isso”, disse. Ele lembrou que os mercados já estão reagindo a tudo isso, com as bolsas caindo e os investidores correndo para países onde há mais segurança para o investimento.
De acordo com Mansueto, “não será possível ver uma estabilização da dívida pública neste governo”. O Tesouro apresentou nesta quinta-feira (27/02) novas projeções para a dívida pública prevendo aumento da taxa em relação ao PIB neste ano. Depois de cair pela primeira vez desde 2013, para 75,8%, em 2019, a dívida pública bruta voltará a subir em 2020. A taxa deve passar para 77,9%, neste ano, e continuará registrando altas até 2023, quando atingirá o pico de 79,4%, conforme as projeções do Tesouro. Esse dado, no entanto, dependendo de uma nova revisão nas estimativas devido ao coronavírus, poderá piorar.
Mansueto lembrou que a queda da dívida bruta em 2019 foi decorrente da venda de reservas do Banco Central antecipação de devoluções do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), de mais de R$ 100 bilhões, quando o esperado era de apenas R$ 26 bilhões. Apenas essas duas medidas evitaram que a dívida bruta ultrapassasse 80% do PIB no ano passado, segundo ele, reduzindo a relação em 3 pontos percentuais.
Pelas projeções do Tesouro, a trajetória dívida líquida mostra uma piora maior do que a bruta, porque ela continuará crescendo por um período mais longo, chegando ao pico de 66,4% em 2025. Com isso, ela volta a patamares muito parecidos com os de 2002, mostrando que o país precisa continuar fazendo ajuste fiscal, caso contrário a dívida ainda corre o risco de explodir.
“Estamos falando de um país que tem carga tributária alta e que, na ocorrência de choques adversos, não tem instrumento para fazer política anticíclica”, alertou Mansueto. Ele lembrou que 94% da despesa primária é obrigatória e, portanto, o ajuste fiscal precisa continuar sendo feito de forma gradual, focando no corte de despesas. “Desde a Constituição de 1988, os ajustes foram feitos por meio de aumento de carga tributária”, lamentou.
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