De acordo com o BC, a taxa média de juros cobrada de pessoas físicas no mercado de recursos livres (aqueles que os bancos podem direcionar livremente, sem condicionalidades) caiu de 28,3% ao ano em dezembro de 2019 para 28,1% ao ano em janeiro passado. Essa redução, porém, foi influenciada pelos juros do rotativo do cartão de crédito, que passaram de 318,8% ao ano para 316,8% ao ano, e, sobretudo, pelas taxas do cheque especial, que despencaram de 247,6% ao ano para 165,6% ao ano no período, chegando ao menor nível desde maio de 2013.
A redução de 82 pontos percentuais dos juros do cheque especial foi forçada pela norma do BC que limitou as taxas da modalidade a 8% ao mês. A medida entrou em vigor em 6 de janeiro para os novos clientes e valerá a partir de 1º de junho para quem já usa o cheque especial. Por isso, por mais que tenha empurrado levemente para baixo a taxa média de juros que é cobrada da pessoa física, a queda não reflete o comportamento de todo o mercado de crédito.
Os juros do crédito consignado, por exemplo, subiram de 20,5% para 21,3% ao ano. Os do crédito pessoal foram de 36,8% para 39,3%. E os do financiamento de veículos aumentaram de 19,2% para 19,7%. Além disso, os dados do BC mostram que não foram todos os bancos que se adaptaram ao novo limite do cheque especial: 11 das 34 instituições financeiras que oferecem essa modalidade de crédito no Brasil ainda cobravam juros superiores ao teto de 8% mensais.
Por isso, especialistas dizem que ainda é preciso ter cautela ao recorrer ao crédito bancário, usar o cartão de crédito ou o cheque especial. “A taxa está melhor, mas continua elevada. O cheque especial, por exemplo, caiu quase pela metade, mas ainda é caro, se comparado à Selic, que está em 4,25%”, afirmou o diretor executivo da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Miguel Oliveira.
Ele explicou que, além da Selic, as taxas que são cobradas aos consumidores consideram as despesas administrativas, a margem de lucro dos bancos e o risco de inadimplência, que, segundo a Anefac, está em alta devido aos impactos do coronavírus na economia. “Havia uma expectativa de que, com a Selic baixa e um ambiente econômico um pouco melhor que o do ano passado, essa taxa continuasse caindo. Mas o coronavírus pode afetar o crescimento econômico do mundo inteiro. Se o Brasil crescer menos que o esperado, podem aumentar o desemprego e a inadimplência. Esse ambiente de incerteza pode levar os bancos a subirem as taxas”, explicou Oliveira.
A inadimplência da pessoa física, por sinal, já deu um pequeno sinal de alerta neste início de ano. Segundo o BC, a taxa passou de 3,6%, em dezembro de 2019, para 3,7% em janeiro de 2020. A despeito disso, o total de crédito que foi tomado pelas famílias brasileiras subiu no primeiro mês do ano. O saldo cresceu 0,8% ante dezembro e 12,2% nos últimos 12 meses, chegando a R$ 2,03 trilhões.
Famílias
As famílias ficaram com a maior parte do total de crédito em janeiro, que somou R$ 3,46 trilhões, com queda de 0,4% em relação ao mês anterior. Só os aposentados, por exemplo, tomaram R$ 1,60 bilhão emprestados por meio do crédito consignado em janeiro, elevando para novo recorde de R$ 140,30 bilhões o endividamento de aposentados e pensionistas do INSS nessa modalidade. As empresas reduziram os financiamentos em 2,2% entre dezembro e janeiro.
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