Economia

PIB de 1% não é normal e causa frustração, admite secretário do Tesouro

Mansueto Almeida pediu pede foco para o debate político que pode destravar as reformas econômicas que são vistas pelo governo como fundamentais

Correio Braziliense
postado em 05/03/2020 10:17

O secretário do Tesouro Nacional, Mansueto AlmeidaO secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida, admitiu, nesta quinta-feira (5/3), que não é normal um país como o Brasil crescer 1% ao ano, como mostrou o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) de 2019, divulgado nessa quarta-feira (4/3) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ele pediu, então, foco para o debate político que pode destravar as reformas econômicas que são vistas pelo governo como fundamentais para a retomada econômica brasileira. 

 

"Estamos em um país que ainda passa por enormes dificuldades. Se eu durmo tranquilo? Eu não durmo tranquilo. Estou muito preocupado porque a gente está ainda um país com um crescimento muito baixo. Não é normal um país em desenvolvimento como o Brasil crescer 1% ao ano. Não é normal um país com tanta necessidade e diferença. Claramente causa frustração em vários segmentos da sociedade. E por  isso é tão importante chegar a um consenso sobre o que o país precisa fazer para ter crescimento e investimento maior", defendeu Mansueto, na abertura de uma rodada de debates promovida pelo Conselho Nacional de Secretários de Estado da Administração (Consad) em Brasília nesta quinta-feira. 

 

Mansueto ainda respondeu as críticas do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), de que o nível de investimento público precisa crescer no Brasil. A tese de Maia, por sinal, também foi defendida pelo deputado Pedro Paulo (DEM-RJ), que é relator do Plano Mansueto, no evento do Consad. "Metade da economia gira dependente do estado brasileiro. Precisamos olhar para o investimento público", afirmou o deputado, fazendo referência ao resultado do gasto público no PIB no Brasil, que diminuiu 0,4% em 2019, segundo o IBGE.

 

"Não é normal, em um país como o Brasil, em que a carga tributária é de quase 30% do PIB - a média da América Latina é de 23% do PIB - ter um investimento público que é menor de 2,5% do PIB. É muito baixo", afirmou Mansueto, justificando esse resultado, contudo, dizendo que o governo não tem capacidade de aumentar os seus investimentos hoje em dia sem colocar em "risco as contas fiscais". "A situação [fiscal] ainda é extremamente frágil. A situação melhorou? Melhorou muito em relação há três, quatro anos atrás. Mas ainda é frágil", disse.

 

O secretário do Tesouro pediu, então, apoio para a continuidade do processo de ajuste fiscal e, sobretudo, para a aprovação das reformas econômicas no Congresso Nacional. "Para as conquistas continuarem, precisamos ter calma, transparência e celeridade para avançar e aprofundar o debate político. Precisamos respeitar o contraditório e partir para o debate, apesar das divergências, porque naturalmente vamos chegar a um consenso", defendeu Mansueto, dizendo que ninguém é contra as reformas econômicas que vão reduzir a complexidade do sistema tributário brasileiro e permitir o aumento dos gastos, contribuindo, assim, com a retomada da economia brasileira.

Guedes

A fala de Mansueto sobre o resultado do PIB brasileiro em 2019, contudo, vai contra a avaliação do ministro da Economia, Paulo Guedes. Ontem, Guedes disse que não entendeu a "comoção" da sociedade em torno do PIB de 2019, que marcou 1,1%, abaixo do 1,3% registrado em 2018 e 2017, e, por isso, recebeu críticas da sociedade. 

 

Guedes ainda disse que o crescimento de 1,1% estava dentro do previsto, porque a projeção do governo era de 1%. "O que eu havia dito no início do governo? Que no primeiro ano nós íamos crescer 1%. Saiu 1,1%. Então, está dentro do previsto. No segundo ano, seguindo as reformas, vamos crescer acima de 2%", disse o ministro, que, no início do governo de Jair Bolsonaro, porém, tinha ambições mais otimistas, em torno de 2% a 3%, para o PIB do Brasil. 

 

O ministro alegou ainda que o Brasil vai reacelerando à medida que as reformas econômicas forem implementadas. E garantiu, confiante de que essas reformas serão aprovadas neste ano, que o Brasil vai crescer mais de 2% em 2020, mesmo diante do impacto do coronavírus, que tem feito o mercado reduzir a perspectiva de crescimento de toda a economia mundial. "O Brasil não é uma folha ao vento, ao sabor das ondas internacionais. Tem uma dinâmica própria de crescimento. Nós vamos fazer reformas e vamos crescer", disse Guedes ontem.

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