Correio Braziliense
postado em 07/03/2020 04:14
O crescimento de apenas 1,1% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil em 2019 revelou não apenas um quadro de baixo crescimento, mas também uma queda na produtividade da economia — o que torna mais difícil a retomada consistente da atividade. Estudo do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV/Ibre), com base nos dados do IBGE, mostra que a produtividade do trabalhador brasileiro caiu 1% em 2019. E essa queda foi sentida, sobretudo, no setor de serviços, que sustentou o PIB no ano passado.
“A produtividade mensura o valor adicionado que cada trabalhador consegue produzir. E o que observamos é que o trabalhador brasileiro tem gerado pouco valor adicionado para a economia. É ruim e acaba limitando o avanço econômico, porque este é um dos motores do crescimento. Para termos uma melhora do crescimento econômico a médio e longo prazos, precisamos de produtividade”, explicou o pesquisador do FGV/Ibre Paulo Peruchetti. Segundo ele, o cenário preocupa, sobretudo, porque a produtividade brasileira já é uma das menores entre países de médio e alto grau de desenvolvimento. Antes dessa queda, um trabalhador brasileiro já produzia, por hora, apenas 25% do que os Estados Unidos produzem no mesmo tempo.
Peruchetti observou que a queda da produtividade brasileira em 2019 “parece um pouco estranha”, uma vez que não é comum haver queda de produtividade quando uma economia está crescendo, mesmo que lentamente, como acontece no Brasil. A dicotomia fica clara quando se olha para o histórico da taxa de produtividade do trabalhador brasileiro, que costuma acompanhar o crescimento do PIB: aumentou em 2013, caiu durante o período de recessão e recuperou-se 1,2% quando o Brasil voltou a crescer, em 2017. Em 2018, contudo, ficou estagnada em 0,1%. E, no ano passado, caiu 1%, apesar da alta de 1,1% do PIB.
Ainda de acordo com os cálculos da FGV/Ibre, a queda da produtividade foi puxada pelo setor de serviços, que responde por 75,8% do PIB nacional. O setor cresceu 1,3% no ano passado, mas teve perda de 1,3% da produtividade. “É um setor importante, que concentra 71% das horas trabalhadas no país. Por isso, acaba puxando para baixo o desempenho da produtividade agregada quando tem uma queda forte”, disse Peruchetti. Além dos serviços, houve queda de 0,7% na produtividade da indústria, puxada pelo subsetor de transformação, em 2019. Já a agropecuária teve alta de 1,4%.
Tecnologias
“O que está por trás de boa parte desses péssimo desempenho da produtividade é o avanço da informalidade”, avalia o pesquisador da FGV. “O trabalhador formal é quatro vezes mais produtivo que o do setor informal. E o que temos observado recentemente é que a recuperação do emprego está sendo puxada pela informalidade”, disse ele, explicando que, como a maior parte dos informais trabalha por conta própria, não têm acesso a tecnologias e sistemas que permitiriam produzir mais em menos tempo.
Além disso, pesa nessa conta o fato de que, no setor formal, boa parte dos investimentos está sendo adiada por conta das incertezas sobre a economia e a política brasileiras. “O investimento está 25% abaixo do nível atingido no segundo semestre de 2013, porque estamos inseridos em um ambiente de incerteza elevada. Por conta dessa incerteza, as empresas postergam investimentos e a oferta de vagas formais”, disse o pesquisador. Para reverter esse quadro, “o Brasil precisa avançar na agenda de reformas e melhorar o ambiente de negócios”, disse Peruchetti.
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