Economia

Petróleo despenca e agrava crise

Com o preço do óleo desabando mais de 20% diante da guerra de preços entre Rússia e Arábia Saudita %u2014 o barril pode chegar a US$ 20 %u2014 aposta é de que a Bolsa continue em queda e o dólar volte a disparar nos negócios de hoje

Correio Braziliense
postado em 09/03/2020 04:34
Ações da Petrobras, pelas estimativas de analistas da Necton Investimentos, podem cair de 12,4% a 25,5%


O Banco Central vai vender US$ 1 bilhão das reservas internacionais hoje, antes mesmo da abertura da Bolsa de Valores de São Paulo (B3), para tentar acalmar os ânimos do mercado financeiro, que vem derretendo há semanas por conta do avanço do novo coronavírus pelo mundo. A intervenção, porém, pode não ser suficiente para blindar as perdas na B3 e do real diante de um novo cenário de pânico internacional. 

O mercado tem mais uma crise para enfrentar: a derrocada dos preços do petróleo, que caíram mais de 30% ontem na abertura dos mercados asiáticos, a maior queda de a Guerra do Golfo, em 1991. Por isso, os analistas admitem que, apesar da atuação do BC, o dia será de mais nervosismo. “Vai ser um dia pesado. As bolsas de diversos países já estão no vermelho por conta do petróleo. O Dow Jones futuro já caiu 4,17% e o S&P futuro, 4,56%”, disse o economista-chefe da Necton, André Perfeito. 

A cotação internacional do barril, que havia registrado queda de 10% na sexta-feira, no pior pregão em 11 anos, despencava mais de  20% nos mercados asiáticos em função de um racha na Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), que deflagrou uma guerra de preços entre Rússia e Arábia Saudita. Analistas apostam que o Barril pode chegar a US$ 20. Os contratos futuros do óleo tipo Brent, negociado na bolsa de Londres, até o fechamento desta edição estava cotado a US$ 35,07 o barril, o menor valor desde 2016.

“O petróleo vai continuar em queda e isso puxa as ações da Petrobras para baixo. E, como a estatal tem um peso significativo no Índice Bovespa (IBovespa), acaba levando tudo para baixo na Bolsa”, alertou o economista-chefe da Nova Futura, Pedro Paulo Silveira. Ele avaliou que esse impacto não vai demorar a ser sentido aqui, visto que o atual preço do petróleo deve tirar a rentabilidade da produção do pré-sal e, por isso, atinge diretamente as ações da companhia. “A Bolsa estará à mercê da questão do petróleo”, confirmou o economista da BlueMetrix Ativos, Renan Silva, indicando que o mercado deve continuar sob forte volatilidade hoje, mesmo após a intervenção do BC.

O Ibovespa acumula queda de 15% no ano e deve continuar registrando perdas, segundo os analistas, acompanhando as bolsas asiáticas, que abriram no vermelho. “A elevação da temperatura no cenário doméstico, em função da convocação, por parte do presidente Bolsonaro, para as manifestações do dia 15 podem agregar volatilidade ao mercado. Por isso, teremos uma abertura tensa”, apostou Silveira. E o dólar deve manter a escalada. Pelas estimativas da Necton, a divisa norte-americana pode subir de 3,6% a 7,9%, variando entre R$ 4,80 e R$ 5, por conta do impacto da crise do petróleo nas ações da Petrobras. Segundo estimativas da equipe da corretora, a ação preferencial da estatal pode cair de 12,4% a 25,5%.

Risco de recessão
Além disso, os riscos de recessão global aumentaram. Os Estados Unidos também serão afetados pela crise do petróleo e os investidores apostam que o Federal Reserva (Fed) pode convocar uma nova reunião extraordinária para anunciar mais um corte na taxa de juros norte-americana, em uma tentativa de impedir que a maior economia do mundo entre em recessão por conta do coronavírus. A empresa de trens Amtrak, por exemplo, suspendeu as viagens entre Washington e Nova York.

“O que temos ouvido é que autoridades monetárias do mundo inteiro começarão a soltar medidas de estímulo na economia, assim como os EUA, cortando os juros. E isso colocou no mercado a desconfiança de que a situação é pior do que se esperava. Por isso, a volatilidade e a aversão ao risco devem continuar”, contou Silva, admitindo que a pressão sobre o Comitê de Política Monotária (Copom), do Banco Central, também é grande.

Analistas destacaram que ainda são grandes as dúvidas sobre que medidas o BC vai adotar diante de toda essa nova crise. A própria intervenção de hoje, que vem na esteira de uma série de leilões de contratos de swap cambial da semana passada, ainda não foi muito bem compreendida. “Ainda não sabemos como classificar e quando esperar as intervenções. Por isso, o BC venderá US$ 1 bilhão em reservas e pode até conter o dólar neste primeiro dia, mas precisa sinalizar com um programa mais agressivo e uma política mais clara”, afirmou Silveira.

Também não há consenso sobre se o BC deve ou não cortar a taxa básica de juros (Selic) na reunião do Copom da próxima semana, já que a medida pode estimular a economia, mas também elevar ainda mais o dólar. 


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