Correio Braziliense
postado em 11/03/2020 04:05
Após dois meses no vermelho, a produção industrial brasileira cresceu 0,9% em janeiro deste ano. O resultado, divulgado ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), porém, foi insuficiente para reverter as quedas registradas no fim de 2019. E, segundo especialistas, não representa o fim do movimento de desaceleração da indústria nacional. Afinal, os resultados do setor devem ser novamente puxados para baixo nos próximos meses em função do coronavírus.
Segundo o IBGE, o saldo positivo de janeiro foi liderado pela produção de bens de capital e de bens de consumo duráveis, com destaque para a produção de máquinas e equipamentos (11,5%); veículos automotores (4,0%); e metalurgia (6,1%). Porém, ainda deixa o setor 17,1% abaixo do nível recorde alcançado em maio de 2011. É que essa alta de 0,9% não cobriu as perdas de 2,4% sofridas em novembro e dezembro de 2019. E, se comparada com o mesmo período do ano passado, na verdade revela uma redução de 0,9% da produção industrial brasileira entre os meses de janeiro de 2019 e janeiro de 2020.
“O crescimento de janeiro teve um espalhamento em 17 das 26 atividades pesquisadas. É o maior espalhamento desde abril do ano passado. Porém, precisamos ter cautela com esse dado, porque ele se deu sobre uma base de comparação muito depreciada. Por isso, não significa a retomada da produção industrial. Continuamos abaixo, por exemplo, de janeiro de 2019, quando o setor já havia mostrado uma queda de 2%”, admitiu o gerente da pesquisa de Produção Industrial Mensal (PIM) do IBGE, André Macedo.
“Por mais que tenhamos um resultado ligeiramente positivo em janeiro, ainda não temos uma recuperação expressiva da indústria. Há uma certa tendência de estagnação que se arrasta desde 2014”, reforçou o professor de economia da Unicamp, Celio Hiratuka, lembrando que essa estagnação reflete a demora do processo de recuperação da economia brasileira. “A taxa de desemprego ainda é muito elevada. Por isso, a demanda doméstica não retoma o suficiente. Além disso, a promessa de avançar com as reformas não tem se mostrado eficaz no sentido de atrair investimentos”, pontuou.
Hiratuka ainda disse que esse quadro só tende a se agravar nos próximos meses em função do coronavírus. E Macedo admitiu que os próximos resultados da produção industrial podem vir sob impacto da epidemia, já que o vírus, a partir do fim de janeiro, passou a reduzir a demanda internacional por produtos industriais e a atrasar o fornecimento de materiais da cadeia produtiva.
No Brasil, por exemplo, o setor de elétricos e eletrônicos já teve a produção afetada pela falta dos materiais que eram importados da China e acabaram ficando presos nos portos chineses ou deixaram de ser produzidos por conta da paralisação da economia chinesa. Sondagem da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee) revela que 70% das fábricas já apresentam problemas no recebimento de materiais, componentes e insumos.
A produção automotiva, que ajudou a puxar o resultado global da indústria no primeiro mês deste ano, também pode sofrer um baque em março. Afinal, como revelou a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), algumas fábricas podem ter que parar a produção no fim deste mês por falta de estoque, caso a China continue sem exportar produtos para o Brasil.
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.