Correio Braziliense
postado em 13/03/2020 04:14
Um dia de pânico disseminado nos mercados. Começou com o dólar abrindo o dia acima de R$ 5 e só baixando depois de mais uma intervenção do Banco Central, que vendeu US$ 2,5 bilhões das reservas internacionais, fechando com alta de 1,44% e cotado em R$ 4,78. A Bolsa de Valores de São Paulo (B3) teve duas paralisações (circuit breaker), com o Ibovespa, principal índice de lucratividade, recuando mais de 15%. Nos Estados Unidos, a Bolsa de Nova York também desabou e houve interrupção dos negócios. Todos os países europeus registraram queda nos principais índices, tendo o de Milão, na Itália, o maior recuo, acima de 16%. Os movimentos refletem o temor da disseminação do coronavírus, agora que há pandemia, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS).
A Bolsa de São Paulo desabou 14,78%, para os 72.583 pontos, o pior resultado para um dia desde 1998, em meio à crise da Rússia. Acionou o primeiro circuit breaker (veja os critérios no quadro ao lado) logo após a abertura, ao recuar mais de 11,6%, às 10h25. Na volta da paralisação de 30 minutos, as quedas aceleraram e o pregão foi suspenso novamente, às 11h15, desta vez por uma hora, ao cair 15,43%. As operações foram retomadas às 12h18 e ainda houve queda, mas, ao longo do dia, o índice se estabilizou em torno dos 72 mil pontos. Ontem, foi o terceiro dia de parada do pregão na mesma semana, a primeira vez na história que isso ocorre.
O valor de mercado das empresas listadas recuou R$ 489,2 bilhões, a maior perda da história, sendo que a segunda, a terceira e a quarta ocorreram este ano, segundo a empresa de informações financeiras Economática. O valor de mercado no ano de 2020 caiu R$ 1,52 trilhão, fechando em R$ 3,03 trilhões. No fim de 2019, as empresas listadas na B3 valiam
R$ 4,56 trilhões. Só em março, a desvalorização foi de R$ 1,15 trilhão.
“A Petrobras é a empresa com maior queda, de R$ 43,8 bilhões. No ano, a estatal perdeu R$ 240,2 bilhões”, explicou Einar Rivero, da Economática. A estatal agora é a quarta maior empresa da bolsa, atrás de Itaú Unibanco, Ambev e Vale.
Risco-país
Como se não bastasse, o risco-país voltou aos níveis do período de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, em junho de 2016, subindo 58% em um dia, para os 356 pontos. Esse indicador, medido pelo credit default swap (CDS), uma espécie de seguro de cinco anos, mostra o tamanho da desconfiança dos investidores em relação ao Brasil.
Para Ivo Chermont, economista-chefe da Quantitas Asset, o mercado entrou em desespero. “O primeiro circuit breaker, da segunda-feira, já machucou, quando veio o segundo depois de uma dia positivo, como terça. E hoje (ontem) a pancada, foi tudo para venda”, disse.
Chermont explicou que a injeção do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), que ontem anunciou que vai colocar US$ 1,5 trilhão no mercado, ajuda um pouco.
Davi Lelis, assessor da Valor Investimentos, ressaltou que o dia de terror foi reflexo do agravamento dos efeitos do coronavírus. “A China disse que o surto acabou lá. Mas o restante do mundo está entrando no ciclo que já passou no país asiático”, avaliou. Desde o carnaval, a bolsa brasileira já caiu 36%, segundo Lelis.
Segundo o gestor de investimentos da ParMais, Alexandre Amorim, agora o mundo espera os impactos trazidos pelas medidas econômicas diante das piores consequências. “Estamos esperando o choque. Agora é que vão começar os problemas de qualidade com as empresas”, ressaltou.
Influência do BPC
No cenário doméstico, após o Palácio do Planalto ser derrotado na derrubada do veto sobre o Benefício de Prestação Continuada (BPC), o ministro da Economia, Paulo Guedes, informou que o governo irá ao Supremo Tribunal Federal (STF) e ao Tribunal de Contas da União (TCU) para questionar a decisão, alegando que eleva o limite de renda para a concessão do benefício e ameaça o teto de gastos. A medida terá um impacto anual de R$ 20 bilhões nas contas públicas, despesa sem fonte de recursos, o que é proibido pela Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). Isso também contribuiu para a bolsa despencar e o dólar disparar.
O analista da Ativa Investimentos, Ilan Arbetman, avaliou o cenário de demanda mundial fragilizada com o pânico externo e os ruídos econômicos e políticos no âmbito nacional, que agravam a crise no mercado. “Aqui a gente vê o Congresso e o governo Bolsonaro falando línguas diferentes. Certa dicotomia contribui para que a volatilidade no mercado seja maior no Brasil”, pontuou.
Recorde
O dólar renovou recorde de fechamento nominal. Na máxima do dia, chegou a bater R$ 5,01, mas desacelerou a R$ 4,78, com a atuação do BC, que elevou a oferta no leilão à vista de US$ 1,5 bilhão para US$ 2,5 bilhões, na tentativa de conter a disparada da moeda. Foram vendidos apenas US$ 1,278 bilhão e, logo depois, o BC anunciou outra oferta à vista equivalente à diferença não negociada no leilão anterior. Na segunda intervenção, foram ofertados US$ 1,250 bilhão e vendidos apenas US$ 332 milhões.
O gerente de câmbio da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo, disse que o BC continuará atento e atuante. Para ele, passando o pânico que prevaleceu na sessão de ontem, é preciso pensar em um dólar entre R$ 4,50 e R$ 4,80, não mais em linha com as projeções que dão conta de cotação em R$ 4,20 até o fim do ano.
* Estagiária sob supervisão de Fabio Grecchi
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