Economia

Alta de 13,9% no pós-histeria

Correio Braziliense
postado em 14/03/2020 04:14
Operadores acompanham a B3, cujo dia pós-tempestade foi marcado pelos rumores da infecção de Bolsonaro

Depois do pior pregão desde 2008, com queda de 14,78%, na quinta-feira de pânico, a Bolsa de Valores de São Paulo (B3) teve um dia de recuperação, ontem, embora com muita volatilidade. O Ibovespa, principal índice de lucratividade da B3, chegou a subir mais de 15%, mas devolveu a maior parte dos ganhos com os rumores de que Jair Bolsonaro teria testado positivo para o coronavírus. Como deu negativo para o presidente, além do anúncio do ministro de Economia, Paulo Guedes, de que o governo vai adotar medidas para dar liquidez ao mercado, o índice voltou a subir e fechou com alta de 13,91%, aos 82.678 pontos. O dólar caiu no início do pregão quase 3%, mas retomou sua escalada e renovou a máxima histórica, cotado a R$ 4,81, com valorização de 0,33% ante o real.

Mesmo com a recuperação, quando as empresas brasileiras de capital aberto se valorizaram R$ 359,52 bilhões, na semana as listadas na B3 perderam R$ 592,6 bilhões, segundo a empresa de informações financeiras Economática. No ano, a queda é de R$ 1,16 trilhão. A queda de 15,63% do Ibovespa na semana foi a 13ª maior desvalorização do índice desde 1986, explicou Einar Rivero, da Economática.

Para o economista-chefe do Banco Haitong, Flavio Serrano, a recuperação dos ativos refletiu a expectativa de continuidade do suporte dos governos para mitigar o efeito do coronavírus sobre a atividade econômica. “Houve um movimento de pânico, com quatro circuit breakers em três dias. Uma situação bastante atípica, por conta do nível de incerteza elevado”, observou.

Serrano lembrou que a derrota do governo no Congresso, que aumentou o limite do gasto com o Benefício de Prestação Continuada (BPC), com impacto nas contas públicas, intensificou a piora da bolsa brasileira na véspera, quando começava a ensaiar uma melhora. “Como foi anunciado que a decisão será discutida, e que o governo adotará medidas, houve recuperação”, destacou.

A volatilidade da bolsa, de acordo com Eduardo Velho, estrategista chefe da INVX Global Partners, é típica de dias com volume de negócios mais baixo do que o normal. “A tendência é de que as variações se intensifiquem nesse contexto”, afirmou. Outros fatores também explicam os movimentos, segundo ele. “O Fed (Federal Reserve, banco central americano) atuou na semana passada, reduzindo a taxa de juros, que poderá cair mais na próxima semana, durante a reunião. E vários governos estão anunciando estímulos monetários”, assinalou.

Liquidez

Contudo, no cenário de grande incerteza, a liquidez injetada nas economias corre o risco de ficar “empoçada”, alertou Velho. “A demanda de crédito sobe, mas, não necessariamente, chega no lado real da economia”, completou. Conforme o especialista, o mercado de juros futuros teve muita volatilidade. “O governo tem instrumentos para estabilizar situações como essas. Um deles é fiscal, mas foi negativo com a questão do BPC, que pode gerar um gasto maior nos próximos 10 anos. Outro é a política monetária, e a taxa de juros tende a cair mais, uma vez que a alta do dólar ainda está sem efeito na inflação. Me parece, no entanto, que o Banco Central, sozinho, não tem o controle total da situação de incerteza”, apontou.

As variáveis que determinaram a semana de pânico nos mercados, como a guerra do petróleo e a disseminação do coronavírus, não são fatos previsíveis, explicou Vitor Hugo Fonseca, economista da G2W Investimentos. “A alta de hoje (ontem) repercutiu o ânimo dos incentivos dos governos, mas a volatilidade também foi reflexo da possibilidade do presidente Bolsonaro estar contaminado. O Ibovespa saiu de 15% para 1,85%. E só voltou porque o segundo teste deu negativo e as ações da Petrobras dispararam”, analisou. Os papéis da estatal subiram mais de 22%.

O dólar, que continua subindo, está descolado da bolsa, disse Reginaldo Galhardo, gerente de câmbio da corretora Treviso. “O comércio internacional depende de compra e venda, e aparentemente, a mão de obra não vai estar no trabalho, as empresas vão ter problemas de fornecimento e de fabricação. A preocupação dos investidores é se proteger na moeda norte-americana”, justificou

  • Medidas emergenciais

    O que o governo estuda fazer para conter os impactos do coronavírus:

    »Liberar mais recursos do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS).

    »Cobrar do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal aumento da oferta de crédito para empresas.

    »Isentar de impostos sobre a importação produtos médico-hospitalares, como equipamentos e insumos.


    O que já foi anunciado:

    »Adiantar pagamento do 13º salário de aposentados e pensionistas do INSS.

    »Cobrar do Congresso a liberação de R$ 5 bilhões para reforço no sistema de saúde.

    »Tentar ampliar para R$ 15 bilhões o valor a ser liberado, que é o total das emendas parlamentares do relator do Orçamento, que são motivo de briga entre Legislativo e Executivo.

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