Economia

Aposta de novos cortes na Selic

Correio Braziliense
postado em 17/03/2020 04:17
Para Sergio, Brasil não passará incólume. Crê que indústria deverá amargar outro ano de queda, de cerca de 0,5%

Enquanto o presidente Jair Bolsonaro tenta minimizar a crise global que está se formando em torno da Covid-19, os governos da maioria das economias do planeta tentam agir o quanto antes e criar um arsenal para minimizar os efeitos de uma recessão que parece estar a caminho. Com isso, crescem as apostas de novos cortes na taxa básica de juros (Selic), que poderá chegar em 2,5% anuais até dezembro.

As apostas do mercado agora são de que o Comitê de Política Monetária, do Banco Central, deverá cortar os juros em até um ponto percentual o quanto antes, na segunda reunião do ano do Copom, que ocorre hoje e amanhã. A expectativa é que o anúncio ocorra o quanto antes. Atualmente, a Selic está em 4,25% ao ano, o menor da história.

Diante da piora no cenário global, o economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, prevê corte de 0,75 a 1,0 ponto percentual na Selic, e acaba de reduzir de 1,7% para 1% a previsão de crescimento do PIB deste ano. “O Brasil não escapará de sofrer as consequências dessa crise. A possibilidade de recessão dependerá do impacto do vírus no segundo trimestre. O primeiro trimestre, é quase certo, será de queda de PIB, mas ainda não está claro os desdobramentos para o segundo. Além disso, a indústria deverá amargar outro ano de queda de produção, na casa de 0,5%”, apostou. Ele elevou de 10,9% para 11,4% a previsão para a taxa de desemprego até o fim do ano.

Após uma reunião emergencial do Conselho Monetário Nacional (CMN), o BC anunciou medidas para tentar aumentar o fluxo de caixa nos bancos, uma vez que, diante da crise que se prenuncia, a quebradeira de empresas e o aumento da inadimplência serão inevitáveis em um cenário de interrupção da demanda. Uma das duas medidas prevê a renegociação de dívidas de empresas e famílias, com repactuação das operações de empréstimo nos próximos seis meses, alcançando R$ 3,2 bilhões. A renegociação, contudo, “dependerá do interesse e da conveniência das partes envolvidas”, de acordo com a autoridade monetária.

Outra medida reduz o Adicional de Capital Principal, de 2,5% para 1,25%, ampliando em R$ 56 bilhões a folga que os bancos terão em relação ao requerimento mínimo de capital. Com isso, a capacidade da oferta de crédito dos bancos será ampliada em aproximadamente R$ 637 bilhões, pelas estimativas do BC –– que estima que a medida dispensa os bancos de aumentarem o provisionamento, no caso de repactuação com os clientes

Essas ações emergenciais, de acordo com a economista-chefe da ARX Investimentos, Solange Srour, são positivas, mas não são vistas como estímulos para a atividade doméstica. “São relevantes, porque melhoram a situação de curto prazo dos bancos para que eles tenham folga de caixa para o aumento da inadimplência. Elas ajudam a rolagem”, explicou.

Pelas estimativas de Solange, a piora nas expectativas de crescimento global, e, consequentemente, na atividade doméstica, devem forçar o BC a reduzir a Selic de 0,75 a 1,0 ponto percentual. “Todos os bancos centrais estão fazendo reuniões emergenciais e cortando os juros. Mas, no Brasil, o corte não adiantará muito para estimular a atividade, porque o governo não tem espaço fiscal para estimular a economia via investimento”, explicou ela, lembrando que o país completará este ano o sétimo deficit primário consecutivo.

“O problema é que nosso sistema de saúde é muito ruim e, mesmo com todas as medidas que estão sendo tomadas pelos governos estaduais, não temos como prever o número de casos e o impacto na economia”, disse ela, que preferiu manter a sua projeção em 1,8%, “com viés de baixa”. Ela, inclusive, admitiu a chance de uma recessão no país. “Tudo é possível. Não dá para descartar nenhum cenário agora”, completou.

Para a economista da ARX, o governo está demorando para reconhecer a gravidade da situação e uma parcela de responsabilidade é do presidente Jair Bolsonaro. “A equipe econômica até entende o problema, mas não tem o apoio do Executivo”, lamentou. Solange, contudo, defendeu um caminho que não passe pelo aumento de gastos da União e, para isso, o governo precisa, o quanto antes, fazer um acordo com o Congresso para aprovar a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) Emergencial. “Não adianta ir agora para o caminho heterodoxo”, pontuou.

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