Em meio à retomada do pânico global com a pandemia de coronavírus e a espera da decisão de corte de juros no segundo dia de reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom), o dólar alcançou novo recorde de fechamento nominal, com alta de 3,90%, cotada a R$ 5,19. Na máxima do dia, a moeda norte-americana chegou a bater R$ 5,23. O Banco Central fez leilão de linha de até US$ 2 bilhões, e oferta mais US$ 1 bilhão novo no mercado à vista, que não foi capaz de conter o salto da moeda.
O analista da Clear Corretora, Rafael Almeida, avalia a movimentação de Carry Trade, diante do consenso de corte de juros no mercado. "Com o corte e um diferencial de juros cada vez menor, afasta cada vez mais investimentos. Ainda mais o dólar que já é forte no mundo inteiro, e é um porto seguro em momentos de crise e não é só no Brasil, no mundo inteiro isso está acontecendo", destacou. Segundo o analista, o BC ainda pode usar suas reservas e entrar de forma mais contundente no mercado com dólar à vista.
Acompanhando a queda dos mercados globais, em meio a temores de que a série de medidas anunciadas por governos e bancos centrais mundiais para combater os impactos econômicos da pandemia do coronavírus não sejam suficientes para evitar uma recessão global, o Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo, fechou com queda de 10,35%, a 66.894 pontos. É a menor cotação desde agosto de 2017. Durante o pregão, os negócios na bolsa de brasileira voltaram a ser suspensos pela sexta paralisação em oito dias. O mecanismo de circuit breaker foi acionado no início da tarde, quando o índice recuava 10,26%.
Voltou a pesar a aversão ao risco por conta do surto, sobrepondo as análises mais otimistas a respeito dos recentes pacotes de estímulos lançados. Nos Estados Unidos, o S&P 500, principal indicador de avaliação das ações do mercado norte-americano, também acionou o circuit breaker após cair 7% e fechou com queda de 5,18%. O Dow Jones encerrou com recuo de 6,30%, após ter valorizado 5,2% na véspera, e Nasdaq registrou perda de 4,70%. Em Londres, o FTSE 100 terminou com queda de 4,05%. Na França, o CAC 40 teve baixa de 5,92%.
Diversos bancos e casas de análise cortaram projeções de crescimento para a economia brasileira. O Santander revisou de 2% para 1% sua expectativa para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2020, o UBS cortou sua projeção do PIB de 1,3% para 0,5%. Já o Credit Suisse foi mais radical e zerou a projeção que estava em 1,4%. O banco também passou a projetar encolhimento de 1,5% no PIB da América Latina neste ano, devido aos esforços de distanciamento social para contenção do coronavírus e à "rápida queda" de preços de commodities, como petróleo e soja. “As revisões fortes de crescimento acabaram impactando diretamente o mercado de ações, um PIB menor afeta diretamente a expectativa de receita das empresas, em especial do varejo”, destacou Almeida, analista da Clear.
O economista Fábio Astrauskas, CEO da consultoria Siegen e professor do Insper, avaliou os impactos que devem ser enfrentados pelas empresas. "Não há dúvida de que vai refletir bastante negativamente para todos os setores, em tempos diferentes. Já estamos presenciando reflexo negativo muito forte empresas turismo, companhias aéreas e que trabalham diretamente trânsito. Mas, em segundo momento, será também bem forte nos demais setores todos, a indústria já teme não alcançar receita e sofre com a falta de peças, o setor de serviços com a paralisação, até disseminar um pouco mais e chegar ao agronegócio”, destacou.
* Estagiária sob supervisão de Roberto Fonseca
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