Correio Braziliense
postado em 19/03/2020 04:13
Diante da retomada do pânico global com a pandemia da Covid-19, e da espera da decisão de corte de juros no segundo dia de reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, o dólar alcançou novo recorde de fechamento nominal, ontem, com alta de 3,90% sobre a véspera, cotado a R$ 5,19 para a venda. Durante o dia, a moeda chegou a bater R$ 5,23, apesar de o BC realizar leilão de linha de até US$ 2 bilhões, em contratos de swap cambial, e ofertar mais US$ 1 bilhão, novo no mercado à vista. Essas medidas não evitaram o avanço no valor.
O analista da Clear Corretora, Rafael Almeida, avaliou a movimentação do câmbio como um consenso sobre a antecipação do corte de juros no mercado. “Com o corte, é um diferencial de juros cada vez menor, afasta cada vez mais investimentos. Ainda mais o dólar, que já é forte no mundo inteiro e é um porto seguro em momentos de crise não só no Brasil. No mundo inteiro isso está acontecendo”, destacou. Segundo o analista, o BC ainda pode usar suas reservas e entrar de forma mais contundente no mercado com dólar à vista.
Tombo severo
Acompanhando a queda dos mercados globais, em meio a temores de que a série de medidas anunciadas por governos e bancos centrais mundiais para combater os impactos econômicos da pandemia não sejam suficientes para evitar uma recessão global, o Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo (B3), fechou com queda de 10,35%, a 66.894 pontos. É a menor cotação desde agosto de 2017. Durante o pregão, os negócios na Bolsa brasileira voltaram a ser suspensos pela sexta paralisação em oito dias. O mecanismo de circuit breaker foi acionado no início da tarde, quando o índice recuava 10,26%. Com isso, as negociações foram paralisadas por 30 minutos pela segunda vez na semana.
De acordo com dados da Economática, a queda do Ibovespa em março é de 42,16%, a segunda maior desde 1968. As empresas de capital aberto listadas na B3 acumulam perdas de R$ 1,8 trilhão no ano. Apenas ontem, os prejuízos somaram R$ 304,4 bilhões.
“A tensão na Bolsa reflete a incerteza em relação ao coronavírus. Mas é também um sinal de que o mercado está começando a admitir que apostou errado no atual governo. O presidente está cometendo vários deslizes”, lamentou um operador de uma grande corretora, que pediu anonimato. Para ele, as quedas devem continuar devido à forte desaceleração na atividade, que deverá ocorrer nos próximos meses. A certeza no mercado é de que o país está entrando em uma recessão e as previsões, daqui para frente, para o Produto Interno Bruto (PIB) de 2020, serão de que queda.
Um dos principais indicadores de risco, o CDS (Credit Default Swap) para os contratos de cinco anos, disparou nos últimos dias e, ontem, estava em 373 pontos, o maior patamar desde o início de 2016 — antes do impeachment da presidente Dilma Rousseff.
Apesar dos pacotes de socorro anunciados pelos governos dos Estados Unidos e europeus, a desconfiança voltou de forma generalizada às bolsas internacionais. Em Nova York, o S&P 500, principal indicador de avaliação das ações do mercado americano, também acionou o circuit breaker após cair 7%, e fechou em queda de 5,18%. O Dow Jones encerrou com recuo de 6,30%, após ter valorizado 5,2% na véspera; Nasdaq registrou perda de 4,70%. Em Londres, o FTSE 100 terminou com queda de 4,05%; na França, o CAC 40 teve baixa de 5,92%.
Previsões
Diversos bancos e casas de análise cortaram as projeções de crescimento para a economia brasileira devido ao impacto da Covid-19. O Goldman Sachs agora prevê queda de 0,9% no PIB brasileiro, em vez de alta de 1,5%. O Santander revisou de 2% para 1% sua expectativa para o crescimento do PIB em 2020; o UBS cortou a projeção do PIB de 1,3% para 0,5%.
Já o Credit Suisse zerou a projeção que estava em 1,4%. O banco também passou a projetar encolhimento de 1,5% no PIB da América Latina neste ano, devido aos esforços de distanciamento social para contenção do coronavírus e à “rápida queda” de preços de commodities, como petróleo e soja.
O economista Fábio Astrauskas, CEO da consultoria Siegen e professor do Insper, avaliou os impactos que devem ser enfrentados pelas empresas. “Não há dúvida de que vai refletir bastante negativamente para todos os setores, em tempos diferentes”, destacou.
* Estagiária sob supervisão de Fabio Grecchi
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