Correio Braziliense
postado em 24/03/2020 06:00
As projeções de crescimento da economia brasileira continuam se deteriorando — e a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada ontem, reforçou essa percepção. O documento, que explica a decisão de reduzir a Selic de 4,25% para 3,75% ao ano, na semana passada, admite que o corte pode não ter sido suficiente para compensar os “expressivos” efeitos que a pandemia terá na economia brasileira. Além de sinalizar um novo corte na taxa, a ata indicou que o avanço da Covid-19 deve determinar o rumo da Selic em 2020.O relatório afirma que “as informações disponíveis já são suficientes para evidenciar que a pandemia terá efeito contracionista extremamente significativo sobre a atividade global”. “Nesse contexto, apesar da provisão adicional de estímulo monetário pelas principais economias, o ambiente para as economias emergentes tornou-se desafiador”, diz o Copom.
O mercado financeiro continua ajustando as projeções econômicas à nova realidade recessiva causada pela pandemia. No Boletim Focus divulgado ontem pelo BC, os analistas das maiores instituições financeiras reduziram a perspectiva de alta do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil de 1,68% para 1,48% em 2020. O número, porém, ainda é otimista. Muitos agentes do mercado já falam em PIB zero ou até negativo devida aos impactos econômicos do coronavírus. O Ministério da Economia prevê elevação de 0,02%
De acordo com a ata do Copom, o impacto da Covid 19 na economia brasileira se dará de três formas: “Primeiro, um choque de oferta, derivado da interrupção das cadeias produtivas. Segundo, um choque nos custos de produção, mensurado pela variação de preços das commodities e de importantes ativos financeiros. Terceiro, uma retração de demanda, proveniente do aumento da incerteza e das restrições impostas pela pandemia.” Esse terceiro choque, na opinião do comitê, “tende a ser bastante significativo no horizonte relevante para a política monetária porque os efeitos da pandemia sobre a atividade podem ser expressivos”.
“De acordo com simulações apresentadas na reunião do Copom, para compensar este terceiro efeito, seria necessária uma redução da taxa básica de juros superior a 0,50 ponto percentual”, acrescenta a ata.
“As coisas estão mudando muito rápido”, explicou o economista-chefe do Banco ABC Brasil, Luis Otávio Souza Leal, que reduziu a perspectiva do PIB para 0%. É o mesmo número apontado pelo Credit Suisse. Já o Itaú, o Goldman Sachs, o JP Morgan e o Banco VC foram mais agressivos nas revisões e colocaram o PIB brasileiro no campo negativo. As projeções variam entre -0,7% e -1,5%.
As incertezas sobre o impacto econômico do coronavírus são grandes. Ao anunciar, ontem, o pacote para injetar liquidez na economia, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, admitiu que é difícil calcular o tamanho do baque. “Estamos atravessando um período de grande incerteza. É difícil calcular como se dará a descontinuidade dos serviços", afirmou Campos Neto. Ele observou que a pandemia tem afetado, sobretudo, o setor de serviços, que é responsável por 63% do PIB do Brasil, devido a medidas como o fechamento do comércio e dos restaurantes e ao cancelamento de voos. (MB)
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