Economia

Crédito bancário vai crescer menos que em 2019, indica BC

A perspectiva do BC para o crescimento do saldo de crédito destinado a pessoas físicas foi reduzida de 12,2% para 7,8%

Correio Braziliense
postado em 26/03/2020 11:05
A perspectiva do BC para o crescimento do saldo de crédito destinado a pessoas físicas foi reduzida de 12,2% para 7,8%A crise do coronavírus vai limitar a expansão do crédito bancário no Brasil, mesmo depois das medidas de estímulo que vêm sendo anunciadas pelo governo para tentar mitigar os impactos da pandemia na economia brasileira. E quem diz isso é o próprio Banco Central (BC).

O BC informou nesta quinta-feira (26) que reduziu de 8,1% para 4,8% a sua previsão para a expansão do crédito bancário em 2020. O dado faz parte do Relatório Trimestral de Inflação (RTI) da autoridade monetária e, se for confirmado, vai fazer com o que a carteira de crédito cresça menos do que em 2019, quando a expansão foi de 6,5%.

"A projeção de menor crescimento do saldo de crédito reflete cenário substancialmente mais desafiador para a atividade econômica diante da pandemia de coronavírus (COVID-19), haja vista a elevação de incertezas no ambiente econômico internacional e a expressiva queda nas expectativas de crescimento para o Brasil em 2020", explicou o Banco Central, que prevê reduções tanto para as pessoas físicas quanto para as jurídicas.

A perspectiva do BC para o crescimento do saldo de crédito destinado a pessoas físicas foi reduzida de 12,2% para 7,8%. E essa queda foi puxada pelos empréstimos financiados com recursos livres, que, segundo o BC, são "o principal vetor de crescimento do crédito no país". "O ritmo de expansão dessas modalidades em 2020 foi revisto para 10,0%, ante estimativa anterior de 15,4%, em linha com redução na expectativa de crescimento da economia e seus efeitos sobre o mercado de trabalho, com impactos sobre a expansão da massa salarial", explicou o BC, lembrando que a desaceleração econômica provocada pelo coronavírus deve reduzir o rendimento e até o nível de emprego da população brasileira, fazendo com que menos consumidores recorram ao mercado de crédito para fazer empréstimos ou financiamentos.

Já para as pessoas jurídicas, o BC reduziu a sua projeção de alta da carteira de crédito de 2,5% para 0,6%. "Em relação ao estoque de crédito a pessoas jurídicas, houve redução na projeção de crescimento do segmento
de recursos livres (de 9,7% para 6,0%), influenciada pela reversão nas expectativas de crescimento da economia", afirmou o BC, destacando que o baque só não foi maior porque "para fins de projeções, parte desse efeito foi, no entanto, compensado pelo impacto da desvalorização cambial sobre o montante em reais das dívidas indexadas a moedas estrangeiras".
 
As revisões do BC, contudo, vêm na sequência de uma série de anúncios que visavam conter os impactos econômicos do coronavírus através da concessão de crédito. Só a Caixa Econômica Federal (CEF) ampliou em R$ 75 bilhões a sua oferta de crédito por conta da pandemia. O Banco Nacional do Desenvolvimento Social (BNDES) liberou mais R$ 55 bilhões. E o próprio Banco Central anunciou um pacote de medidas, inclusive com a redução dos compulsórios cobrados dos bancos, para tentar injetar liquidez nos bancos brasileiros. O BC estima que o pacote poderia injetar R$ 1,2 trilhão de liquidez no Sistema Financeiro Nacional (SFN). 

Questionado sobre o assunto, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, argumentou que essas projeções foram feitas na última reunião do Copom, no dia 18. Isto é, antes do anúncio das medidas de enfrentamento ao Covid-19 no sistema financeiro. “O corte foi no dia do Copom. Tomamos medidas antes e depois e temos um arsenal grande de medidas”, afirmou, acrescentando que o BC ainda vai anunciar outras ações desse tipo em virtude do coronavírus. 

Diretor de Política Econômica do BC, Fabio Kanczuk admitiu que essa projeção pode mudar diante do curso da pandemia, seja para mais por conta dessas medidas de incentivo do BC ou para baixo, por conta da queda da atividade econômica. É que essa projeção foi feita considerando um PIB de 0%, que pode ser rebaixado caso a situação atual de isolamento social perdure por mais tempo que o esperado.  
 
 
 
 
“Hoje não enxergamos uma retração grande do crédito. Mas, nesse cenário de crise, é importante acompanhar os dados dia a dia. Nosso cenário ainda é de uma crise temporária. temos ainda um período longo no resto do ano”, reforçou Campos Neto.

Antes da pandemia, por sinal, o cenário era de alta no acesso ao crédito. Segundo o BC, o saldo das operações de crédito do Sistema Financeiro Nacional (SFN) cresceu 2,5% no trimestre encerrado em janeiro, em ritmo superior ao observado no mesmo período de 2019. A alta era puxada pela ampliação das compras com cartão de crédito à vista, no caso das famílias, e pelas linhas de recebíveis de cartão de crédito e de capital giro, no caso das pessoas jurídicas. E era favorecida por um movimento de redução das taxas de juros do crédito livre. Segundo o BC, esses juros recuaram 1,6 ponto percentual no trimestre encerrado em janeiro, influenciados sobretudo pela medida que limitou em 8% ao mês os juros do cheque especial.  
 
 

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